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Vitória atende cerca de vinte homens por dia que saem de seu pequeno quarto em passos rápidos, sem olhar para os lados. Esta prostituta de Belo Horizonte pretende aprender inglês para atrair os turistas que virão ao Brasil para a Copa das Confederações em junho e para a Copa do Mundo de 2014.

"Aqui vai encher de turistas e aqueles que vêm do exterior gostam de gastar. Eles pagam sem reclamar, não são como os homens daqui", afirma Vitória, de 26 anos, que cobre o seu volumoso corpo com um vestido curto rosa.

Em plena luz do dia, pouco antes do horário de almoço, o movimento já é intenso em um dos hotéis da rua Guaicurus. No corredor mal iluminado, as meninas paradas em frente a sua porta atraem os homens que entram em busca de prazer.

Belo Horizonte receberá três partidas da Copa das Confederações (15 a 30 de junho) e seis da Copa do Mundo, incluindo as semifinais das duas competições.

As autoridades estimam em 40.000 o número de turistas que visitarão a capital mineira em junho e em 140.000 para 2014. Em Belo Horizonte existem cerca de 80.000 prostitutas, a maioria não fala inglês.

A Associação de Prostitutas do Estado de Minas Gerais (Aprosmig) oferece há dois meses cursos gratuitos de inglês para facilitar o trabalho com os turistas durante os eventos esportivos. "Não é só para a Copa do Mundo. Lidamos com gringos todos os dias na rua e nas boates. O que queremos é nos qualificar e formar as meninas para que elas prestem um serviço melhor", explica Cida Vieira, presidente da associação.

O único requisito para frequentar os cursos é ser prostituta. "Good morning girls!" (Bom dia meninas!), diz a suas alunas Igor Fuchs, um dos professores voluntários do curso que ainda oferece aulas de francês e espanhol.

As aulas de inglês básico incluem uma "demonstração com objetos eróticos para que aprendam os nomes, como utilizá-los e propô-los", indica Fuchs.

Cerca de 300 prostitutas estão inscritas, apesar de cada aula ser limitada a apenas vinte. A presença nas aulas, realizadas em um centro comercial, é irregular e as mais jovens nem sempre conseguem chegar a tempo. As mais assíduas são as mais velhas, como Maria Aparecida, de 55 anos: "Sempre quis saber falar inglês", revela à AFP.

"Eu criei os meus filhos nesta profissão; comecei a me prostituir aos 27 anos, mas hoje não faço mais só isso, sou servente", conta ela.

Suas colegas de classe estão na casa dos cinquenta anos, como Laura do Espírito Santo (54 anos), que ainda não se aposentou na esperança de um ex-freguês canadense voltar para buscá-la.

Vitória garante que fará o curso, mas não com a associação, que não ensina rápido o suficiente, e sim "em um curso particular". "É importante falar inglês porque quando eu deixar a prostituição e procurar outra coisa, já vou saber outra língua", conta deitada em sua cama no quarto sem janela.

A avenida Afonso Pena se enche de prostitutas durante a noite. Os carros param, negociam o programa, partem, retornam, e assim as horas passam. Os travestis são tão procurados quanto as mulheres. Yasmin tem um corpo delicado e é difícil perceber que este travesti de 20 anos tem atributos masculinos. Ela assegura que há 15 anos operou o nariz e os seios. Dançando samba na calçada atrai muitos clientes.

"Nunca tive cliente francês ou dos Estados Unidos. Se eu tivesse seria difícil porque não falo inglês", afirma Yasmin, que quer frequentar as aulas da associação. Uma olhada em um carro que acaba de parar e Yasmin se vai. Do outro lado da rua, Juliana, de 31 anos, diz que caiu na profissão por "necessidade" e, diferentemente de Yasmin, não considera essencial falar uma outra língua.

"Conheço as palavras básicas 'Good morning', 'condom' e para o resto eu me viro nos gestos. Todos os homens são iguais e vêm pelo mesmo motivo. Não precisamos de palavras".

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