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Deputados da bancada ruralista pretendem focar a atuação em promover alterações na Medida Provisória que foi editada pela presidente Dilma Rousseff para preencher as lacunas deixadas pelo veto parcial ao novo Código Florestal. Os parlamentares praticamente descartaram um novo enfrentamento direto com o governo para a votação do veto presidencial. A bancada se reunirá nesta terça para fazer uma análise conjunta da decisão de Dilma.

"Creio que não haverá uma discussão dos vetos. A negociação será na medida provisória, onde poderemos discutir os pontos de conflito", disse Moreira Mendes (PSD-RO). Ele destacou que o artigo 1º da MP, que traz princípios para o código, deve ser um dos pontos a ser abordado por trazer "insegurança jurídica".

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Relator do novo Código Florestal na Câmara, o deputado Paulo Piau (PMDB-MG) disse que a "escadinha" feita para a recomposição de áreas devastadas nas margens de rios deve ser alterada para melhorar a situação dos produtores com áreas de quatro a dez módulos rurais.

O peemedebista criticou a definição em lei de percentuais para a exploração de apicuns salgados. "Isso teria de ser feito por regulamento e não colocar um percentual fixo em lei". Manifestou contrariedade também com a fixação de largura de 50 metros para a proteção de veredas. "Isso vai dar confusão. Nós tínhamos colocado que no caso das veredas haveria desapropriação de acordo com o interesse social. Uma margem fixa prejudica o produtor". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que reúne 163 entidades, classificou como "retrocesso ambiental" a sanção do novo Código Florestal, com 12 vetos, e a edição de uma Medida Provisória. Para as entidades, a nova legislação assinada pela presidente Dilma Rousseff promove anistia a desmatadores e reduz as áreas de proteção ambiental.

Na visão dos ambientalistas, o texto publicado no Diário Oficial não atende aos compromissos de campanha da presidente. Eles refutam o discurso de que foi buscado um meio termo entre as posições de ambientalistas e ruralistas. "Falou-se muito em meio termo, mas o caminho do meio entre não tomar veneno e tomar muito é veneno do mesmo jeito. Essa proposta é venenosa", afirmou Pedro Gontijo, secretário da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

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O consultor da SOS Mata Atlântica e coordenador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), André Lima, destacou que a consolidação de áreas foi feita com base em julho de 2008 enquanto o Brasil já possuía lei de crimes ambientais dez anos antes. Questiona-se também a possibilidade de recomposição menor do que a área desmatada em Áreas de Preservação Permanente (APPs). "Anistia não é só de multa, mas também fazer uma compensação menor".

Entre as críticas, a mais contundente foi a um artigo da Medida Provisória que permite a recomposição de áreas desmatadas apenas com espécies exóticas. "Além de anistia e redução de proteção temos desvirtuamento do conceito de área de preservação permanente. Pode ser espécies que não compõe ecossistemas. Basta plantar eucaliptos, parreiras, macieiras em todas as APPs", disse André Lima. "Nem a bancada ruralista teve coragem de colocar isso no texto. Esse trecho é da lavra da presidente Dilma", complementou Raul Valle, coordenador jurídico do Instituto Socioambiental.

Valle destacou que foram sancionados vários pontos de interesse da bancada ruralista e que no Congresso esses parlamentares poderão ainda fazer alterações na medida provisória. "Não tenho nenhuma esperança que essa MP que é ruim vai ser melhorada ou sequer mantida". Ele afirmou que pode ser necessário acionar o Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar pontos do projeto.

Na visão das entidades, o fato de a discussão acontecer depois da Conferência Rio+20 e em meio a eleições municipais torna ainda mais difícil obter avanços do ponto de vista ambiental, mas a expectativa é fazer com que o evento das Nações Unidas sirva para pressionar o governo a mudar sua posição e promover uma mudança mais profunda.

"A Rio+20, porém, pode ser início de uma nova etapa uma vez que fique claro para o mundo que o agronegócio brasileiro se baseia em produção insustentável, em meios sujos de produção e em desmatamento. Isso pode significar uma série de restrições, de barreiras comerciais, que podem fazer o Brasil rever essa posição", afirmou Kenzo Ferreira, da WWF-Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS), uma das principais lideranças ruralistas, afirmou que já está preparando as emendas que serão apresentadas para alterar a medida provisória enviada nesta segunda-feira ao Congresso Nacional pela presidente Dilma Rousseff, com os 12 vetos e 32 modificações ao texto do Código Florestal aprovado no mês passado pela Câmara dos Deputados.

Heinze afirmou que pretende discutir suas propostas com os representantes do governo, para acelerar o processo e votar o novo texto do novo Código Florestal antes do recesso parlamentar de julho. Ele diz que a negociação é o melhor caminho, pois a derrubada dos vetos atrasaria ainda mais a votação. "Vamos negociar, assim estaremos jogando na nossa casa."

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Na opinião do deputado, o texto sancionado pela presidente Dilma apresenta avanços, como a dispensa da reserva legal para propriedades de até quadro módulos fiscais, proposta que consta tanto no texto do Senado como no da Câmara. No caso das médias propriedades, afirmou, a presidente reconheceu o princípio da "anterioridade", que respeita a situação existente antes da mudança da legislação ambiental em 2001. Até então, lembrou, o proprietário era obrigado a preservar 20% das matas. A partir da mudança, a exigência abrange todos tipos de vegetação (várzeas, pampas etc).

Heinze elogiou o texto do governo relativo às Áreas de Preservação Permanente (APPs), que avançou ao estabelecer condições mais brandas para recomposição de florestas nas margens dos rios para os pequenos produtores. Ele lembra que na proposta do Senado o pequeno produtor cuja propriedade tivesse um rio muito largo poderia ter que recuperar até 100 metros de margem. A medida provisória que alterou o texto do Código estabelece limites entre cinco e 15 metros para as pequenas propriedades.

O deputado disse que vai apresentar uma emenda para corrigir o que ele considera injustiça com os médios proprietários, que têm entre quatro e 15 módulos, pois serão obrigados a recompor de 20 a 100 metros de matas, dependendo da largura do rio. Ele disse que irá propor uma escala, como a feita pelo governo para imóveis entre um e quatro módulos, para aumentar gradualmente as exigências de recomposição, de acordo com o tamanho do imóvel.

Heinze também quer definir o que é curso d'água permanente e o que é intermitente, pois alguns ficam de três a quatro meses sem correr água, o que dispensaria a recomposição da mata ciliar. Ele lembrou que já há um projeto tramitando na Câmara que propõe indenização no caso de perda da propriedade e também que o custo da recomposição das florestas seja pago pela sociedade.

O deputado argumenta que das 5,3 milhões de propriedades existentes no Brasil 3,775 milhões são de famílias que ganham meio salário por mês, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas. "São pessoas que têm R$ 4 mil de renda bruta por ano. Como vão conseguir perder de dois a três hectares e ainda arcar com o custo da reposição florestal? Com que roupa, com que dinheiro?", questiona o deputado.

O deputado federal Paulo Piau (PMDB-MG), relator do texto do Código Florestal na Câmara, afirmou que a presidente Dilma Rousseff foi corajosa ao vetar parcialmente o texto aprovado no final do mês passado pelos deputados. Ele diz que houve uma pressão muito grande da campanha "Veta Dilma", que utilizou personalidades como Camila Pitanga e Gisele Bündchen, além de coletar 1,9 milhão de assinatura.

Na opinião do deputado, a campanha "Veta Dilma" fortaleceu a democracia, no sentido da mobilização da sociedade. Mas ele diz que houve exageros, como o argumento de que o código iria incentivar novos desmatamentos. "Se ela (presidente Dilma) fosse atender à opinião pública teria vetado tudo", diz Piau.

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Segundo Piau, mesmo tendo realizado 12 vetos e 32 modificações, a presidente Dilma manteve 90% do conteúdo do texto aprovado em abril pela Câmara dos Deputados. Ele aponta uma mudança necessária feita pelo governo: a proteção aos apicuns e salgados, que ficaram desprotegidos a partir de um destaque aprovado na Câmara.

O deputado diz que discorda radicalmente do governo por ter colocado de volta no texto a relação de princípios que constam do artigo 1º do Código Florestal aprovado pelo Senado Federal no final do ano passado. "A Lei Completar nº 95 já diz que artigo 1º é o objeto do corpo da norma. Colocar princípio é trazer insegurança jurídica para o futuro. É claro que é uma visão do governo", argumenta o deputado.

Na opinião do deputado, no caso do artigo 61º, que foi vetado e substituído por meio de Medida Provisória, a proposta do governo "mostrou que a Câmara tinha razão ao não concordar com o Senado, que estabelecia largura mínima de 15 metros para os cursos rios". Ele diz que a proposta de escalonamento feita pelo governo mostra bom senso, mas alerta para o impacto em relação aos médios produtores, que têm entre 4,5 a 7 módulos e terão que cumprir tudo em termos de APP e Reserva Legal.

Piau afirmou que os médios produtores que tiveram em suas propriedades rio extenso e áreas montanhosas poderão ficar com terra aproveitável inferior as dos pequenos produtores. Ele reconhece que a proposta de escalonamento foi um avanço, mas acha que não era preciso nenhuma tabela, pois os casos seriam resolvidos por meio dos programa estaduais de regularização ambiental, que levariam em conta aspectos técnicos.

Na opinião do deputado, ao argumentar que estaria evitando "anistia ampla", na mensagem enviada ao Senado com as alterações feitas no Código Florestal, o governo "fez uma ação de marketing, o que é uma pena". O deputado diz que este tipo de argumento, assim como o noticiário sobre a ação da Polícia Federal contra desmatamentos em Roraima, contribui para confundir o produtor rural com criminosos. Ele argumenta que não há anistia, pois a lei prevê pagamento pelo dano ambiental, e que no caso atual do desmatamento em Roraima não são produtores rurais "e sim madeireiros" que estão "devastando a Amazônia, e devem ir para a cadeia".

O deputado acredita que passada a Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que será realizada no próximo mês, a discussão sobre o Código Florestal será mais racional, "acabando com a dicotomia ambientalista/ruralista, que não contribui em nada para o debate". "Vamos discutir o assunto à luz dos interesses nacionais", diz ele.

Aprosoja

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Carlos Fávaro, aposta nas ações da Frente Parlamentar da Agropecuária, "que saberá conduzir da melhor maneira as discussões com relação aos vetos do governo". Segundo Fávaro, a medida ainda será amplamente debatida, pois há parlamentares que discordam das mudanças. E isto faz parte do processo democrático brasileiro. "O mais importante é que o Brasil terá uma lei moderna e que garantirá a tranquilidade jurídica para quem produz", afirmou Fávaro.

A ampla anistia aos proprietários rurais que desmataram até julho de 2008 e a impossibilidade de recomposição de parte relevante da vegetação são os motivos apontados pela presidente Dilma Rousseff para vetar o artigo 61 do texto do Código Florestal aprovado no final do mês passado pela Câmara dos Deputados. Na mensagem enviada ao Senado, o governo justifica que os vetos parciais foram feitos "por contrariedade ao interesse público e inconstitucionalidade",

O artigo 61 é um dos mais polêmicos do novo Código Florestal, pois coloca em confronto as interpretações do Palácio do Planalto e da bancada ruralista em relação às exigências de recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e recomposição da cobertura vegetal nas margens dos rios. Na medida provisória publicada nesta segunda-feira, o governo estabeleceu condições mais brandas para os pequenos produtores rurais.

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Na justificativa ao veto ao artigo 1º, que suprimiu os princípios que foram aprovados pelo Senado em 2011, o governo alega que o "o texto não indica com precisão os parâmetros que norteiam a interpretação e a aplicação da lei". O deputado Paulo Piau (PMDB-MG), relator do projeto, ao retirar os princípios estabelecidos pelo Senado, argumentou que vários deles "extrapolam a razoabilidade".

Outro veto feito pela presidente diz respeito ao "pousio" (artigo 3º), que é a interrupção temporária de atividades agropecuárias para possibilitar a recuperação do solo. O governo considerou que "o conceito de pousio aprovado não estabelece limites temporais ou territoriais para sua prática, o que não é compatível com o avanço das técnicas disponíveis para a manutenção e a recuperação da fertilidade dos solos".

Outro argumento citado pelo governo para o veto é que a ausência de limites torna possível que um imóvel ou uma área rural permaneça em regime de pousio indefinidamente, o que impediria a efetiva fiscalização quanto ao cumprimento da legislação ambiental e da função social da propriedade.

O governo também vetou o artigo 43, que atribuía às empresas concessionárias de serviços de abastecimento de água e de geração de energia hidrelétrica, públicas e privadas, a responsabilidade pela recuperação e manutenção de vegetação nativa em APPs nas bacias hidrográficas em que houver a exploração.

O governo considerou a obrigação "desproporcional e desarrazoada, particularmente em virtude das dimensões das bacias hidrográficas brasileiras, que muitas vezes perpassam várias unidades da federação". Na opinião do governo, "a manutenção do dispositivo contraria o interesse público, uma vez levaria enorme custo adicional às atividades de abastecimento de água e geração de energia elétrica no País, impactando diretamente os valores das tarifas cobradas por esses serviços".

Também foi vetado o artigo 76, que estabelecia prazo de três anos para que o governo enviasse ao Congresso projetos de lei com as condições para conservação, proteção, regeneração e utilização dos biomas brasileiros. A justificativa é de que o dispositivo fere o princípio da separação dos Poderes, conforme estabelecido no art. 2º, e no caput do art. 61 da Constituição Federal.

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