Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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Advogados – Contradições e mitos

Adriano Oliveira, | seg, 07/11/2011 - 10:12 | Atualizada em: seg, 07/11/2011 - 13:57
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A opinião pública não é única. E muito menos homogênea. Quando alguém diz “A voz rouca da opinião pública deseja reforma política”, comete um erro de interpretação sociológica. A opinião pública é segmentada. E ela é adequadamente compreendida quando os seus analistas reconhecem que o todo tem partes. Portanto, partes da opinião pública podem ter as suas opiniões.

Os advogados fazem parte de um segmento da opinião pública. Opto por chamar de classe dos advogados. Neste sentido, a classe deve ser compreendida como uma parte da sociedade, a qual, supostamente, tem opiniões diferentes de outras partes, como, por exemplo, médicos. Os advogados despertam interesse, pois a advocacia é uma profissão que atrai indivíduos e costumeiramente os seus membros são chamados de doutores.

Numa sociedade hierárquica como a do Brasil, a classe dos advogados exerce papel fundamental, pois são eles os doutores, os operadores do Direito, os garantidores da democracia e os defensores dos Direitos Humanos. O que seria de um País sem advogados? Certamente, o Estado de Direito não existiria.

Pesquisa realizada pela Faculdade Maurício de Nassau através do seu instituto de pesquisa (Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau) no mês de setembro de 2012 revela que os advogados são contraditórios e árduos defensores da democracia. A pesquisa revela também que a carreira de advogado não é tão bem remunerada como nossos pais sugerem e que nem todos estão tristes em razão de não conquistarem riqueza com a profissão.

Os advogados são democráticos, pois 68,2% não abrem mão da democracia por nada e 79,9% deles defendem uma imprensa livre. Ressalto, ainda, que 71,5% acreditam que o Brasil tem uma democracia consolidada. Entretanto, constato que as instituições têm pouca credibilidade junto aos advogados.

É importante ressaltar que 18,5% dos advogados não confiam em nenhuma instituição do estado. Apenas 22,9% dos operadores do Direito confiam no Poder Judiciário e no Tribunal de Justiça (Ambos são categorias semelhantes) e 15,4% confiam no Ministério Público. Percentuais reduzidos.

Friso que a Polícia Federal tem 6,9% de credibilidade junto aos advogados. Percentual, superior ao do Supremo Tribunal Federal (STF) – 2,9% dos entrevistados confiam no STF. Então, qual é a razão de 71,5% dos advogados afirmarem que o Brasil tem uma democracia consolidada?

Saliento que 81,7% dos advogados consideram que o Poder Judiciário é lento no julgamento dos processos. E 85,9% acreditam que existe influência política no Poder Judiciário brasileiro. Portanto, os dados sugerem que os advogados não confiam e desconfiam do Poder judiciário. Então, indago, novamente: por que eles acreditam na democracia brasileira?

Os advogados podem ser considerados corporativistas ou variáveis que provocam rupturas institucionais, pois 75,1% deles são favoráveis ao instrumento Quinto Constitucional e 63,8% crêem que ele democratiza o Poder Judiciário.

Neste sentido, tenho a hipótese de que os operadores do Direito acreditam que a ida de um membro da classe para o Poder Judiciário possibilita a ruptura com práticas que tornam o Poder Judiciário lento e passível de influência política. Será?

A renda do advogado não é tão alta como muitos pais pensam. De acordo com a pesquisa da Faculdade Maurício de Nassau, 42,5% dos entrevistados têm renda individual entre 5 a 10 salários mínimos e 28,9% recebem entre 2 a 5 salários mínimos. Apenas 22% dos advogados entrevistados declararam receber mais de 10 salários mínimos. Friso que 83,8% dos advogados estão felizes com a profissão.

Descobrir a opinião de segmentos da opinião pública possibilita a compreensão da sociedade e o desvendamento de mitos. Sociedades são, necessariamente, complexas, por isto, difíceis de serem decifradas. Mitos existem para serem desvendados.

Os advogados são atores complexos em razão das suas contradições, pois acreditam na democracia brasileira, mas desconfiam das instituições. E ainda crêem que o instrumento Quinto Constitucional motiva rupturas.

O exercício da profissão de advogado gerou mitos, dentre os quais, a de que “advogado ganha dinheiro” e de que muitos indivíduos realizam o curso de Direito para serem bem remunerados. A pesquisa realizada desmitifica estes dois mitos, pois são poucos os advogados que tendem a alcançar a riqueza exercendo a advocacia e que para a maioria dos operadores do Direito, dinheiro não é tudo, pois 83,8% estão felizes com a profissão.

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