Para a coluna de hoje, conversei com a Dra. Ednilza Maranhão, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), líder do grupo de pesquisa em Conservação e Uso Sustentável do Bioma Caatinga e que relata um pouco de sua experiência com pesquisas voltadas para a região, exibindo um retrato atual deste importante bioma pernambucano. Só tenho a agradecer a professora Ednilza Maranhão por ter aceito a conversa e espero que esta seja apenas a primeira de muitos outras!
Qual o “retrato” atual do bioma caatinga em relação à conservação e/ou destruição?
Bem, em primeiro gostaria de agradecer o convite e dizer que falar Bioma Caatinga é sempre uma satisfação enorme. Esse bioma, exclusivamente brasileiro, deveria ter mais atenção por parte dos nossos governantes. Ele apresenta diferentes feições, o que o torna mais admirável e interessante do ponto de vista da sua biota, com destaque para as adaptação às condições semiáridas. Apesar de crescente interesse, basicamente pelo incentivo do MMA, atualmente as pesquisas vem crescendo e revelando potencialidades dos recursos naturais registrados para o bioma, todavia, ainda há muito que desvendarmos. E precisamos dessas descobertas para embasar e dar força à defesa dessas diferentes paisagens, bem como conseguir manter o homem no semiárido e conservar uma parcela representativa do potencial genético que ainda existe. Com tanta coisa para descobrir na Caatinga, tem-se o risco desse bioma desaparecer sem antes ser estudado por completo. O desmatamento é hoje o pior inimigo do bioma e também do sertanejo. A indústria, principalmente de gesso, vem contribuindo com a destruição da Caatinga, o empobrecimento do solo, a desertificação e o abandono das terras pelo homem. Perdemos cerca de 50% do Bioma e os dados evidenciam que essa destruição é crescente e sem limite. Precisamos de políticas mais direcionadas para minimizar os impactos e/ou estratégia alternativas de utilizar o recurso de forma sustentável
Como avaliar a biodiversidade do Vale do Catimbau?
O Vale do Catimbau é o nosso único Parque Nacional de Pernambuco no semiárido. Nesse local, além das belas paisagens, com destaque para as Caatingas e Brejo de Altitude, há a importância histórica e geomorfológica. É uma das áreas com maior riqueza de anfíbios e repteis na região semiárida de Pernambuco e tem muita coisa ainda para se descobrir. Através de pesquisas recentes tem sido possível documentar vários táxons novos entre invertebrados, principalmente abelhas, e também vertebrados.
Fale um pouquinho sobre suas pesquisas no Vale do Catimbau e como os resultados estão ajudando a conservação da biodiversidade do local?
Até o momento foi pontuado 12 área de interesse para Herpetofauna (estudo dos anfíbios e répteis) no Vale do Catimbau, entre essas duas espécies novas de Squamata (um lagarto um anfisbenídeos), até o momento considerado endêmico e acreditamos que mais espécies novas serão publicadas pois existe áreas ainda para ser inventariadas. Uma das áreas de grande relevância biológica é o brejo São José, um dos locais que é possível identificar elementos de Caatinga e também da Mata Atlântica
Por ser uma Unidade de Conservação do tipo Parque Nacional, muitos pesquisadores relatam falhas na gestão do parque (como por exemplo: falta do plano de manejo, presença de habitantes dentro da área, corte e queimadas de vegetação nativa entre outros) vc concorda com esta opinião?
Infelizmente sim. O PARNA enfrenta problemas graves um deles está relacionado com questões fundiárias. Tem muita gente que ainda não foi indenizada pela desapropriação das terras e existe também os aproveitadores, aqueles que não são moradores, mas recentemente estão invadindo as áreas dentro dos limites do parque com o objetivo também de receber uma indenização do governo. Existe um desconforto quando se falar em Guia e a comunidade, todo mundo quer ganhar um dinheirinho com o turista e com isso não existe uma organização. Pare resumo ir o Parque necessita urgentemente de um bom gestor. Esse administrador dessa UC não pode trabalhar isoladamente tem que buscar parcerias com a comunidade local de forma transparente e juntos definir regras e prioridade. É muito triste visitar áreas com pinturas rupestres e ver painéis destruídos por vândalos, área sendo desmatadas, pessoas caçando, bichos sendo atropelados nas estradas que dar acesso aos limites parque e não se ter uma estratégia ou uma fiscalização para isso precisa de um bom gestor e uma equipe de fiscalização atuante.
O que você sugeriria para melhorar/adequar o parque, para que haja efetivamente o uso sustentável?
Segundo o SNUC (Sistema nacional de Unidade de Conservação) o PARNA é de proteção integral. Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico
O CNPq estar com um edital aberto exclusivamente voltado para pesquisas em Unidades de Conservação de bioma caatinga, e neste edital o Parque do Catimbau foi contemplado. Como vc acredita que este edital ou pesquisas nesta região poderão ajudar no cenário de desconhecimento, impactos e destruição que são relatados para área?
Acredito que o instrumento mais eficiente para melhor manejar o parque é a informação, esse edital é na realidade uma luta de vários pesquisadores e ONG preocupados com as UCs e o Catimbau merece. Com os estudos será possível se ter um diagnóstico real e atual sobre essa U.C. e direcionar melhor as medidas e conservação. Todavia é interessante que todos os seguimentos e áreas diferentes de pesquisas sejam contempladas.
Fotos: Arquivo pessoal de Edinilza Maranhão