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Depois de 40 dias sem água corrente, os moradores dos subúrbios do norte de Cartum arriscam sua vida para preencher panelas e outros recipientes com água do rio Nilo, sob o forte calor.

Quando os dois generais que comandam o Sudão iniciaram uma guerra pelo poder em 15 de abril, a central de tratamento de água do Nilo, que abastece vários distritos do norte de Cartum, foi atingida pelos combates.

Desde então, as 300.000 pessoas que vivem nestes bairros não encontram água nas torneiras de suas casas.

"No início da guerra, nós conseguíamos água dos poços das fábricas da zona industrial, mas depois de uma semana os paramilitares ocuparam as fábricas", declarou Adel Mohammed, morador da região.

Diante da troca de tiros entre os combatentes, que travam batalhas até mesmo nas casas e hospitais, Mohammed precisou esperar por vários dias para sair e procurar água.

Quando os combates parecem menos intensos, ele segue com os vizinhos até as margens do Nilo para encher panelas e baldes, enquanto a temperatura supera 40 graus Celsius.

- Mortalidade infantil -

O grupo retorna em uma caminhonete para distribuir alguns litros para as famílias que permaneceram no subúrbio.

Diante do racionamento, Rached Hussein fugiu para Madani, 200 km ao sul de Cartum. Este pai de família preferiu unir-se aos deslocados - um milhão, de acordo com a ONU -, antes que os filhos não tivessem como beber ou tomar banho.

"Foi a falta de água e não os bombardeios ou os combates que me obrigaram a abandonar minha casa diante de saqueadores e dos paramilitares", que em alguns casos instalam seus quartéis nos apartamentos das famílias em fuga", explica à AFP.

De acordo com Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), as doenças provocadas por consumir água insalubre ou por falta de higiene são uma das principais causas de mortalidade entre crianças com menos de 5 anos.

Uma ameaça que já estava presente no Sudão antes da guerra, onde 17,3 milhões de habitantes não tinham acesso à água potável.

Salah Mohammed optou por permanecer em casa depois de encontrar uma fonte próxima: os poços do hospital Ahmed Qassem, cuja água é tratada pelos médicos.

Na semana passada, no entanto, os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) também ocuparam o local e os moradores não conseguiram mais se aproximar do hospital.

Rachida al Tijani encontrou outro poço, no hospital de Cartum Norte. Para conseguir um pouco de água, ela fica atenta. "Quando os tiros param, eu vou o mais rápido possível", conta.

"Mas não consigo lavar uma única peça de roupa desde o início da guerra", lamenta.

No Sudão, um dos países mais pobres do mundo após duas décadas de sanções, as infraestruturas e os serviços públicos sempre registraram problemas. Mas nas últimas seis semanas, tudo está paralisado.

Os funcionários públicos estão de licença "até nova ordem" e os combatentes ocupam hospitais, fábricas e prédios públicos.

Para substituí-los, os "comitês de resistência", grupos informais de bairros que já organizaram um movimento contra o poder militar antes do início da guerra, mobilizaram seus ativistas.

Eles montam hospitais de campanha, criam postos de distribuição de alimentos ou utilizam caminhões para distribuir água entre os moradores.

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