Tópicos | CLAUDIO MELO FILHO

O lobista da Odebrecht no Congresso, Claudio Melo Filho, detalhou à força-tarefa da Operação Lava Jato o papel central do senador Romero Jucá como representante do PMDB na distribuição de recursos não contabilizados e detalhou sua "intensa agenda legislativa lidera e patrocinada" em favor do grupo.

"Romero Jucá era o meu principal interlocutor no Congresso Nacional. O relevo da sua figura pode ser medido por dois fatos objetivos: a intensidade da sua devoção aos pleitos que era do nosso interesse e o elevado valor dos pagamentos financeiros que foram feitos ao senador ao longo dos anos", detalhou Melo, em um de seus anexos de delação, entregues à Procuradoria-Geral da República (PGR).

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Nesse anexo, o delator diz ter pago R$ 20 milhões para Jucá, líder do governo Michel Temer no Senado e presidente nacional do PMDB, e detalhou ainda as medidas provisórias, projetos e outros itens que tiveram atuação do senador em favor da Odebrecht.

"Pelo menos no que toca a Odebrecht, nos temas afetos a mim, a importância de Romero Jucá no PMDB transcendia a mera liderança política, pois ele concentrava a arrecadação e distribuição dos recursos destinados ao partido", afirmou Melo Filho, um dos 78 delatores da Odebrecht.

Jucá, ao lado do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tem o maior número de inquéritos na Lista de Fachin, cinco cada.

Ele afirmou que está "a disposição" e ainda que criou-se uma "calúnia coletiva". "O que está em xeque, o que está em discussão, o que está sendo passado a limpo, é o modelo político", disse afirmando que o partido "vai responder com toda tranquilidade" as investigações.

O delator registrou em seu anexo que "ao longo dos anos que mantive interlocução com o senador Romero Jucá, participei de pagamentos a ele que hoje superam R$ 22 milhões. Como tive conhecimento, esses valores eram centralizados no senador Romero Jucá e posteriormente redistribuído dentro de seu grupo no PMDB".

Segundo Jucá, o modelo era contatar empresas e pedir doações, sem saber a origem dos recursos, e que elas doavam "movidas por diversos interesses", tudo dentro da legislação vigente. "Você não ia falar com a empresa e perguntar se o dinheiro era do lucro liquido legal da empresa ou é do lucro em cima de uma obra superfaturada? Alguém perguntou isso a uma empresa na história política do Brasil? Não."

No depoimento prestado aos procuradores da Lava Jato, Melo Filho detalhou ainda a atuação de Jucá em nome do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), outro alvo das investigações abertas à partir da Lista de Fachin.

Presente no jantar no Palácio do Jaburu em que foram negociados repasses para a campanha eleitoral de 2014, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho afirmou em depoimento prestado ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Herman Benjamin, que o então vice-presidente Michel Temer presenciou as tratativas realizadas na noite de 24 de abril daquele ano. No encontro foi acertado o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB.

O depoimento de Melo Filho, realizado nesta segunda-feira, 6, na sede do TSE, ocorreu no âmbito da ação que investiga abuso de poder político e econômico na campanha presidencial de 2014 e pode gerar a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer.

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As declarações de Melo Filho se chocam com o depoimento realizado na última quinta-feira, 2, por Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa que leva o seu nome, segundo relatos de quem acompanhou as duas audiências. Ao depor para Benjamin, Marcelo teria dito que no momento em que foram mencionados os valores da doações na reunião do Jaburu, Temer não estava presente. Melo afirma, contudo, que o então vice-presidente da República estava na sala, mas que as tratativas sobre a divisão dos R$ 10 milhões se desenrolaram entre Marcelo e o agora ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Apesar da presença de Temer, Melo Filho afirma que o peemedebista não falou em valores e que antes apenas pediu uma ajuda para a campanha do PMDB.

Segundo Melo Filho, a ideia inicial era repassar todo o recurso para a campanha de Paulo Skaf (PMDB), candidato ao governo de São Paulo em 2014. A iniciativa encontrou resistência e, a partir daí, ficou acertado que R$ 6 milhões iriam para Skaf e o restante, R$ 4 milhões, para o PMDB.

O ex-diretor não soube responder, contudo, se todo o montante destinado à legenda era de caixa 2. Depois de fechado o entendimento no jantar do Jaburu, Melo Filho disse que não foi falado como seria feita a operacionalização dos repasses e que era Marcelo quem decidia sobre isso.

Em nota, a defesa do presidente Michel Temer afirmou que, em razão de os depoimentos no TSE serem sigilos, "somente após o término das oitivas será possível avaliá-las adequadamente, uma vez verificadas inúmeras contradições nas versões das testemunhas-colaboradoras".

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou na quinta-feira passada, 2, no entanto, por meio de nota, que o depoimento em que Marcelo afirma que Temer não esteve presente nas tratativas de valores entre a empresa e o PMDB, confirmou "aquilo que o presidente Michel Temer vem dizendo há meses". "Houve o jantar (entre Temer e o empresário), mas não falaram de valores durante o encontro e a empresa deu auxílio financeiro a campanhas do PMDB", diz o texto.

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