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Em meio aos deleites das atrações de viagem e séries de humor do Multishow, surgem, pelo menos duas vezes ao ano, debates sobre violência, drogas e outras questões da sociedade. A partir de domingo, 23, às 23h30, o Conexões Urbanas volta em sua sétima temporada para falar sobre policiais feridos em conflitos, projetos sociais e outros temas que fogem à regra do canal.

O episódio de estreia, batizado de O Que Sobrou do Céu, põe em xeque o que acontece com agentes da Polícia Militar gravemente atingidos em operações com consequências graves. "Quando um policial é morto na rua, não reverbera", defende o apresentador José Junior,

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Figura central do Conexões Urbanas, ele afirma não ser pró-polícia. "Não tenho a preocupação de mostrar os dois lados, pois não sou jornalista. Na primeira temporada, mostramos a violência policial e a polícia ficou p... comigo. Quero mostrar que a polícia do Rio é a que mais mata e a que mais morre. Claro que o crime mata mais. Mas qual ONG denuncia a violência do tráfico?", indaga Junior, coordenador da ONG AfroReggae, que faz inclusão social por meio da arte e da cultura.

Por causa de sua ousadia, o apresentador recebeu ameaças de morte, o que o faz circular sempre acompanhado de agentes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais, unidade especial da Polícia Civil) fortemente armados. Um dos policiais de sua equipe foi baleado ao ser confundido com um bandido quando não estava de farda. O fato reforçou sua vontade de mostrar o outro lado da violência. "O caso só teve visibilidade porque ele era meu segurança."

Para o programa, ele conversou com autoridades como o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, além de policiais que tiveram a vida transformada após serem feridos em serviço. "Alguns deles não queriam dar entrevista", relembra. A temporada, entretanto, não fica restrita à violência nem à capital fluminense. Um dos episódios vai tratar da cultura urbana de SP. "Há uma coisa com o rock, tatuagens até saraus de literatura. Há uma pluralidade cultural em São Paulo. É difícil para um carioca reconhecer", admite.

Futuro

A convivência com o crime fez José Junior ter uma visão criativa sobre o universo do tráfico. Entre os planos dos próximos projetos está o documentário de nome provisório Narcocultura. "É sobre o aspecto musical, econômico e da moda. Quero contar a história de como o tráfico influenciou o trabalho lítico e até as novelas, por exemplo", adianta. Segundo ele, elementos do dia a dia de bandidos já estiveram presentes na vida de quem não tem relação com esse universo.

"Em programas como o da Xuxa, cantavam o funk cujo refrão era ‘Tá tudo dominado’. Ela não sabia que isso era o hino de uma facção criminosa", aponta.

O longa incluirá ainda outros países. "No México há os narcocorridos, é um tipo de repentistas que compõe letras sobre ações do tráfico", conta. As composições em questão foram incorporadas em canções de hip-hop que fazem sucesso nos Estados Unidos.

Entre os itens no planejamento do AfroReggae, que além do trabalho de ONG tem um núcleo audiovisual, está outro filme sobre homens que foram chefes do tráfico e abandonaram a função. "Tenho acesso a 40 histórias. Quero fazer um misto de documentário, com depoimentos e ficção", disse ao Estado por telefone.

José Junior também desenvolve Redenção, em que pretende registrar o momento em que os integrantes da ONG abordam jovens aliciados pelo tráfico em locais como bocas de fumo. "Vamos acompanhar até o momento em que eles puderem mostrar o rosto."

Em 2015, ele vai retomar o Caminho de Abraão, programa em que percorrerá a pé países do Oriente Médio para reproduzir o trajeto do personagem bíblico. O projeto havia sido adiado porque Junior teve necrose na cabeça do fêmur, o que o impediu de fazer esforço físico. Ele também prepara sua biografia em vídeo e em papel. "Sempre me pediram. É melhor fazer agora do que quando estiver morto." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O set tem câmeras e policiais do Bope de fuzis nas mãos, mas as balas não são de festim nem isso é Tropa de Elite. O que parece ficção é, na verdade, a vida real da sexta temporada de Conexões Urbanas, programa comandado por José Junior. Ameaçado de morte e escoltado por policiais durante 24 horas, Junior é o coordenador do Afro Reggae, movimento social que mexeu com o poder do tráfico no Rio.

Com direção do premiado cineasta Jeferson De, a nova safra estreia neste domingo, 27, às 22h30, no Multishow. E já que a rotina vivida por Júnior afeta todas as suas atividades, a temporada reserva um inevitável caráter de reality - sem show -, especialmente nos dois primeiros dos 15 novos episódios.

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Em conversa com a reportagem por telefone, Júnior contou que o plano inicial previa gravações em São Paulo, Minas, Pará, Amazonas, Bahia e Pernambuco. Mas a situação de quem é jurado de morte forçou uma reforma no roteiro e a equipe quase não saiu do Rio. A exceção é o episódio Alcatraz Mineiro, gravado no presídio privado de Ribeirão das Neves.

"A confusão do ataque ao Afro Reggae começou no primeiro dia de gravação", ele lembra. "Isso foi dia 9 de julho. No dia 11 de julho, meu pai faleceu e duas semanas depois, minha filha nasceu." Foram dias intensos.

O momento mais tenso foi o nascimento da filha. A mulher sentiu as dores do parto à noite, quando ele já havia dispensado a escolta que o acompanha - em casa, o plantão policial é de 24 horas. Teve de esperar pela volta da escolta para seguir até o hospital. Lá pelas 6h da manhã, quando levou o bebê até a vitrine onde o pai costuma apresentar o recém-nascido a familiares e amigos, encontrou dois policiais do Bope a lhe sorrir.

Durante as gravações, um episódio marcante foi a visita a um menino com câncer, em casa. "Ele morava perto de uma favela e, no meio da entrevista, um dos policiais que trabalham comigo, que estava fora da casa, entrou e começou a me olhar nos olhos. Perguntei: ‘Aconteceu alguma coisa?’E ele: ‘Aconteceu. Você vai ter que ir embora agora. Teve um tiro aqui atrás’. Eu perguntei: ‘Mas foi por minha causa?’ Ele falou: ‘a gente não sabe ainda’. Na hora ele não sabia." À tarde, Júnior viu na internet que os tiros vinham de uma operação policial.

"O garoto estava debilitado. Eu olhava para o policial e olhava para o garoto. E se eu não fosse embora? Se o tiro fosse por minha causa, eu teria colocado aquela família em risco. Quando fui embora e cheguei no escritório, chorei, fiquei mal por causa do garoto. Ele estava feliz porque eu estava lá, ele estava debilitado e estava me contando a história dele."

Uma compensação foi encontrar gente de diferentes níveis sociais e idades manifestando apoio e solidariedade à sua causa e ao Afro Reggae. "O público que não dialogava antes, as pessoas mais velhas, todos começaram a dar apoio, a querer estar perto, a proteger."

CONEXÕES URBANAS - Estreia domingo, 27/10, às 22h30, no canal pago

Multishow; temporada de 15 episódios semanais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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