Daniel Tavares é a cara do Neymar e um dos alvos preferidos das brincadeiras dos atletas brasileiros nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru. Nesta terça-feira, ele conquistou a medalha de ouro nos 400 metros livre classe T20 e manteve sua hegemonia na prova.
"Estou muito feliz, foi um peso tirado das costas. Está sendo um dos anos mais difíceis trabalhamos a cabeça e fui abençoado com essa medalha linda", comentou o atleta, que é recordista mundial da prova, bicampeão mundial (2015 e 2017) e também ouro no Rio-2016.
##RECOMENDA##Na capital peruana, ele ficou longe da sua melhor marca porque viveu um ano complicado, marcado por uma lesão que quase o deixou de fora do Parapan. Ele sofreu um estiramento na coxa no início do ano e ficou parado por 45 dias. Teve apenas dois meses de preparação, o suficiente para manter seu reinado.
Daniel completou a prova em 47s48, na frente do equatoriano Anderson Colorado (47s96) e do venezuelano Luis Bolivar (49s01). Uma de suas melhores amigas da delegação, Verônica Hipólito, deixou a zona mista, onde dava entrevistas pela medalha de prata nos 100m livre (a segunda medalha dela em Lima) e correu para abraçar Daniel na pista.
"É como uma irmã para mim", comentou ele. O atleta deu risada por ser comparado a Neymar. "Levo na brincadeira. Dou uma zoada neles também, ué?", complementou. Daniel comentou que na Vila dos Atletas um brinca com o outro, minimizando qualquer problema pelas deficiências.
"Eu gosto de zoar o anão, o Jair (Henrique de Souza). Falo que vou juntar mais seis e colocar a música da Branca de Neve. Ele me chama de doido, diz que sou ligado no 220v. A brincadeira é só entre nós, porque quem vê de fora pode assustar, né?"
Agora que não vai mais competir em Lima, ele avisou que as brincadeiras vão piorar. "Já está uma bagunça danada e agora então... Vou comer pizza, dar aquela relaxada, aproveitar bastante porque é uma vez só. Fazer o máximo de amizade possível", declarou.
Os dias de descanso não serão muitos, porque o recordista dos 400m vai disputar o Mundial de atletismo, que acontecerá em novembro, em Dubai. A preparação acontecerá nas ruas de Marília, no interior de São Paulo, onde vive. "É no asfalto mesmo, porque lá onde moro não tem pista de atletismo", disse.
Daniel está no esporte paralímpico desde 2013. Ele é deficiente intelectual. "Não entendo direito as coisas". No início, teve resistência. Ele treinava atletismo e um dia depois de ter uma convulsão por ser também epilético, o treinador o convidou para tentar o paralímpico. "Meu técnico dizia que tinha dificuldade para entender as coisas e eu ficava nervoso. Mas era preconceito meu", comentou.
"Vim para São Paulo, fiz o testes, mas não queria. Dizia que não queria ficar no meio de um Momente de doido. Mas era preconceito. Aí convivendo, aprendendo o que era... Vish, é tudo pessoa tranquila. Me deu mais respeito. Entre nós a gente brinca, mas é aquela brincadeira saudável", prosseguiu.