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Mulher, com idade entre 25 e 49 anos e nordestina. Esse é o perfil da maioria dos 4,8 milhões de brasileiros que desistiram de procurar emprego por achar que não encontrariam uma posição - esses são os chamados desalentados. O levantamento foi feito pela Consultoria LCA com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, do segundo trimestre.

O desalento, no fim de junho, atingiu o maior contingente de trabalhadores desde o início da série histórica da pesquisa. Desse total, 36% são brasileiros de até 25 anos. "O desalento está relacionado à saída da recessão, que tem sido mais lenta do que se imaginava", diz Bruno Ottoni, do FGV/Ibre e do Idados.

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Em situação desigual no mercado de trabalho, sobretudo pela remuneração menor do que a dos homens, as mulheres também acabam desistindo de procurar um emprego com mais frequência. Elas representam 54% dos desalentados.

Os números de desalento também variam entre as regiões. No Nordeste, onde o mercado de trabalho é mais frágil, os que desistiram de procurar emprego eram 2,91 milhões em junho. Isso significa que 60% dos brasileiros que estavam no desalento moram na região.

Depois da crise, o serviço por conta própria teve um aumento no Sudeste e no Sul, pois essas regiões têm economias mais dinâmicas e maduras, avalia o economista da LCA Cosmo Donatto. "Nesses Estados, se o trabalhador perde o emprego formal, acha uma alternativa na informalidade ou por conta própria. No Nordeste, o trabalhador, que já era informal, muitas vezes desiste."

É o caso da dona de casa Nete Farias, do Recife. Aos 45 anos, sem curso superior, cansou de ouvir "não". "Poderia ter conseguido algo melhor, se tivesse estudado, mas casei cedo e logo tive filhos. Agora ficou difícil."

Arrimo

Na crise, o desalento chegou aos chefes de família. A faixa é maior, de 41%, justamente entre trabalhadores de 25 a 49 anos - geralmente os responsáveis pelo sustento da casa. "Desisti", diz o ex-garçom Antônio José Rodrigues. Sem emprego há três anos, desde que o restaurante em que trabalhava em São Paulo fechou, ele tenta voltar ao mercado. Fez alguns bicos, mas parou de procurar. "Vou fazer um curso de formação para porteiro. Tem mais prédio do que restaurante", brinca. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O País ganhou 838 mil novos desalentados no período de um ano. Em apenas um trimestre, 202 mil pessoas a mais aderiram à situação de desalento. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Embora a desocupação esteja menor em relação a um ano atrás, a geração de vagas não acompanhou o avanço na população em idade de trabalhar. A taxa de desemprego deixou de aumentar porque cresceu também o desalento, aquelas pessoas que não procuram emprego porque acreditam que não conseguiriam uma vaga, por exemplo.

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A população desalentada alcançou o patamar recorde de 4,833 milhões de pessoas no segundo trimestre deste ano, um avanço 21% em relação ao segundo trimestre do ano passado. O desalento atingiu o maior patamar da série histórica, iniciada em 2012, em 11 Estados, entre eles São Paulo, com 467 mil pessoas nessa situação, e Rio de Janeiro, onde há 101 mil desalentados.

"A probabilidade de uma pessoa desistir de procurar emprego está muito relacionada ao tempo que ela ficou procurando emprego. E algumas nem para a fila do desemprego vão", lembrou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Azeredo lembra que a dificuldade de outros integrantes da família de conseguir uma vaga ou notícias na mídia sobre o desemprego elevado já influenciam a percepção das pessoas sobre a dificuldade de encontrar um trabalho. Desde o início da crise, em 2014, o número de pessoas procurando trabalho há mais de dois anos aumentou 162%, para o montante recorde de 3,162 milhões de desempregados nessa condição.

A população inativa, formada por pessoas em idade de trabalhar que nem têm emprego nem procuram uma vaga, alcançou o recorde de 65,642 milhões no segundo trimestre de 2018. Desses, 8,162 milhões são considerados força de trabalho potencial, porque poderiam ou gostariam de trabalhar caso surgisse uma vaga. "Sessenta por cento de quem está na força de trabalho potencial está desalentado", apontou Azeredo.

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