Tópicos | dia do livro infantil

Nem todas as histórias começam com o “era uma vez”. Cada história é única e, assim, cabe o plural. De plural, entende bem a professora Joanna de Paoli, de 37 anos, docente de química em Brasília, e que se transformou também em pesquisadora do tema da inclusão e educação especial. A maior aula da vida dela veio da própria casa, depois que o filho foi diagnosticado nessa condição. Professora, pesquisadora, mãe, ela ensinou ao menino, hoje com 15 anos de idade, que a leitura e o livro poderiam ser bons companheiros.

“Ele segue sempre agarrado todos os dias aos livros que de que gosta”, testemunha a mãe. Na história da família, tal como os livros, a vida real fez com que a pesquisadora mergulhasse em outras paisagens. “Meu filho me deu uma oportunidade de conhecer outro mundo. O autismo do meu filho me evidenciou que a dificuldade de comunicação e socialização não é só do autismo. Pelo contrário, é da sociedade em se comunicar com ele, e de todos se comunicarem entre si”.

##RECOMENDA##

A pesquisadora defende que a inclusão de pessoas com deficiência, com autismo ou qualquer outra necessidade específica, tenha a perspectiva de ter acesso à cultura na sua forma mais plena. E isso inclui a literatura. “A literatura precisa ser feita também por pessoas com deficiência, sobre pessoas com deficiência e estar acessível a essas pessoas”.

Afinal, a literatura é feita da imaginação. Por isso, conforme a pesquisadora, melhor será que o quanto antes as crianças tenham acesso às páginas de um livro. “Onde o seu horizonte se expanda, o quanto antes antes você começa lendo para criança e ela busque novos significados sobre o mundo (seja ela com deficiência ou não) maiores oportunidades essa pessoa terá de ampliar as experiências de vida”. Isso inclui criar vínculos afetivos, organizar as emoções, pensar e respeitar as diferenças que existem entre cada um de nós.

O menino via a mãe também agarrada aos livros e logo se apaixonou pela leitura de obras de autoras como, por exemplo, as escritoras brasileiras Ana Maria Machado (com Menina bonita com laço de fita) e de Ruth Rocha (Bom dia, todas as cores). Ela argumenta que a inclusão real se faz com a não exclusão. Todos devem estar em um mesmo ambiente, e não isolados. “A inclusão envolve a diversidade. Por isso, as pessoas devem estar em conjunto porque a sociedade é diversa. As pessoas com deficiência precisam participar de todos os espaços com todas as outras pessoas, com ou sem deficiência”. 

Letrinhas gigantes e da paz

Sob essa ótica, um projeto de inclusão no Distrito Federal denominado Letrinhas da Paz tem buscado integrar crianças com alguma deficiência com os outros pequenos. A idealizadora do projeto social, Lyara Apostólico, diz que a meta é sensibilizar e formar público leitor da primeira infância com deficiência auditiva, visual, motora e mental.

“Somente na última Bienal Internacional do Livro de Brasília (em outubro do ano passado), 350 crianças participaram de ações de sensibilização e encontros lúdicos. Atualmente, o projeto tem tratado de capacitar profissionais da educação e assistência social no DF em metodologias inovadoras para leitura com crianças com deficiência”, diz a coordenadora das atividades.

A iniciativa fez sucesso e foi contemplada pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), na categoria Primeira Infância, tendo recebido recursos de R$ 194,7 mil.

"Mediação amorosa"

Lyara Apostólico defende que todo livro pode ser acessível. “Mas, para isso, é necessária uma mediação amorosa que trabalhe com um conjunto de estímulos criativos. Mais do que mediadores de leitura, a literatura infantil inclusiva requer a atuação de recontadores de histórias”, aponta a idealizadora do Letrinhas da Paz, especialista em projetos sociais.

Um dos livros utilizados pelo projeto foi o Bola Vermelha, de Vanina Starkoff. “Como contar a história de uma bola vermelha para uma criança com deficiência visual?”. A partir desse desafio, criamos um jogo com bolas texturizadas, que faziam as crianças vivenciarem, de forma lúdica e afetiva, a mesma lógica apresentada no livro”.

Para ela, o livro infantil deve ser inclusivo não apenas em relação às deficiências, mas também em relação à diversidade social e humana. “A infância é dominada por princesas brancas, frágeis e indefesas, por padrões estéticos únicos, pela difusão de comportamentos de gênero e, muitas vezes, de estereótipos que se perpetuam há gerações”, pondera.

Livrinhos na banheira

Para romper com os estigmas, a ex-promotora de vendas Edna Rocha Lima, de 39 anos, moradora de Montes Claros (MG), foi para a faculdade de pedagogia ao descobrir que o filho recebeu o diagnóstico do autismo. O garoto, hoje com 12 anos, foi estimulado desde os tempos de banheira de bebê a manusear livros de plástico. 

As histórias de patinhos e de outros bichinhos fizeram com que o garoto se tornasse, hoje, um “leitor voraz”, que o ajuda a codificar o mundo, nem sempre tão compreensível. A mãe foi chamada para constituir equipe de apoio pedagógico na cidade. "Posso ajudar outras pessoas também com o que estudo e com o que aprendi".

O garoto conta com a parceria do irmão mais novo, de 8 anos, companheiro das leituras e da vida. “Prefiro as histórias de ação”, diz por telefone à Agência Brasil. Mas a adolescência já o estimulou a ler toda a série Diário de um banana (de Jeff Kinney) e livros que deixam o final em aberto. Afinal, nem tudo se explica com o “era uma vez”.

 

Nesta semana  é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. Além da alfabetização, o hábito de ler proporciona diversos benefícios para as crianças. A pedagoga Yasmin Carreira destaca a importância de incentivar a leitura durante a infância: “Desperta a imaginação, ela ajuda no desenvolvimento da fala, ajuda nas relações sociais, a criança aprende a ouvir e a relacionar a vida com a história contada ou lida”, conta. 

Carreira também ressalta a participação da família na rotina de leitura “Ao ler uma história para seus filhos os pais estão demonstrando amor, carinho e o mais importante, o conhecimento por meio da leitura, despertando na criança que ler é um momento mágico e único entre ela e seus pais”. Segundo ela, é preciso que as famílias se esforcem para mudar o conceito equivocado segundo o qual ler não é algo cansativo e sim muito divertido.

##RECOMENDA##

“A leitura é essencial para que a criança cresça e se desenvolva de maneira significativa, para se tornar um adulto pensante e leitor”, completa a professora.

Para isso, ela indica três livros infantis:

• Menina Bonita do Laço de Fita -  Ana Maria Machado• O Monstro das Cores -  Anna Llenas• O pequeno príncipe para crianças pequenas - Antoine de Saint-Exupéry

Por Maria Eduarda Veloso

Em tempos de pandemia, o número de crianças e adolescentes usando dispositivos eletrônicos como smartphones, tablets e notebooks aumentou consideravelmente, bem como a quantidade de tempo dispensado pelos pequenos a esses utilitários. Segundo levantamento realizado pela empresa Opinion Box, em outubro de 2020, só no Brasil o número de crianças, na faixa etária dos cinco aos oito anos, que utilizam o celular por cerca de três horas ao dia, aumentou de 30% para 43% em um ano. 

A corrida para as telas, como forma de amenizar os impactos do isolamento social - e alternativa para manter as atividades escolares de forma remota -, pode, a princípio, parecer um risco para outra ferramenta de extrema importância no desenvolvimento infantil: a literatura; no entanto, o cenário que se descortinou diante a crise sanitária de proporções mundiais botou por terra o estigma de que a tecnologia pode ser mais vilã do que ‘mocinha’ para o universo dos livros.

##RECOMENDA##

LeiaJá também

--> Contra as expectativas, literatura viveu boom na pandemia

De acordo com pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro em mais de 200 cidades brasileiras,  houve crescimento de leitores na faixa dos cinco aos oito anos, durante a quarentena: de 67% para 71%. Para a escritora de livros infantis Clara Haddad, a união da tecnologia com a literatura pode ser um aliado poderoso no estímulo à leitura dos pequenos. “Acredito muito que uma coisa não substitui a outra. Sempre houve essa ideia: ‘chegou o CD, vai acabar o LP’, aquela ideia de ‘é o fim do mundo’; acho que uma coisa não invalida a outra. São formas de leitura diferentes, mas que se complementam”, disse em entrevista exclusiva ao LeiaJá.

A escritora, com quase 30 anos de experiência na literatura infantil - sendo 23 deles dedicados exclusivamente à narração oral; ofício que, em 2020,  lhe rendeu o Troféu Baobá - considerado o Oscar brasileiro da narração e mediação de leitura -, diz que se surpreendeu positivamente com o ‘casamento’ da tecnologia com a literatura e que, desde o último ano, tem se dedicado bastante às atividades remotas. “Eu me vi numa situação em que eu realmente tive que abraçar o online porque seria a única maneira que eu tinha de estar com meus leitores. Eu tinha algum receio porque quando a  gente fala em literatura a gente pensa no contato com o público, o olho no olho, a partilha das emoções, tudo muito presencial, e de repente fazendo esse vínculo com o online eu fiquei surpreendida porque as crianças embarcam na mesma (maneira) e às vezes até interagem mais”.

No mês em que a literatura e, sobretudo a literatura infantil, é celebrada em todo o mundo - sendo 2 de abril o Dia Internacional do Livro; 18 do mesmo mês, Dia Nacional do Livro Infantil e; 23 de abril,o Dia Mundial do Livro -, Clara festeja a sua profissão e frisa a importância do hábito de ler para a criançada. “A literatura infantil chega a todos, quando é uma boa escrita, porque os temas são transversais, falam de emoções, falam de pessoas como nós,  e acredito que a literatura para a infância pode chegar a todas as idades porque a gente tem sempre esse olhar de encantamento e curiosidade. Acho que isso os adultos não poderiam perder”. 

As escritoras Lenice Gomes (esq.) e Clara Haddad se dedicam à literatura infantil. Foto: Arquivo Pessoal

Habitat da infância

Compartilhando opinião semelhante, a escritora infantil Lenice Gomes, arrisca ir um pouco além. Para ela, “a literatura habita a infância e a infância habita a literatura”. A autora pernambucana tem mais de 40 livros infantis publicados e foi finalista do prêmio Jabuti, em 2004. Ela passou a dedicar-se à literatura para a infância após muitos anos atuando como professora e encontra nas parlendas, trava-línguas e adivinhas o material bruto para suas histórias.

Para Lenice, os livros são um universo de conhecimento e desbravamento do mundo e o segredo para despertar o interesse dos pequenos é deixá-los à vontade para escolherem seus caminhos no mundo das letras. “É preciso, antes de tudo deixá-los livres para ler e contar a versão deles das histórias. A confiança no maravilhoso é um excelente caminho. Sempre digo que a literatura enquanto arte da palavra abre-se para uma pluralidade de leituras e eu persisto nesse caminho a literatura que abraça o sonho e a fantasia com o mesmo entusiasmo que se aproxima da vida real”, disse em entrevista ao LeiaJá.. 

Monteiro Lobato

No Brasil, o dia 18 de abril foi o escolhido para celebrar o Livro Infantil. A escolha se deu como forma de homenagear o escritor Monteiro Lobato, dono de clássicos como Reinações de Narizinho e O Saci, que lhe renderam o título de ‘pai’ da literatura infantil brasileira. No entanto, o reinado de Lobato, no entanto, como baluarte da literatura nacional vem sendo duramente questionado e, até mesmo, ameaçado. 

Com livros escritos em meados do século 20, nas quais questões raciais e de gênero tinham outro contexto e conotações, o escritor tem sido apontado como vilão, sobretudo entre pais e educadores. Alguns defendem a retirada de certos títulos do autor das prateleiras infantis, já outros, acreditam que deva ser feita uma reestruturação dessas obras com a retirada de termos e trechos. 

Foto: Wikimedia Commons

Para a escritora Clara Haddad, que diz ter crescido lendo e “relendo” os livros de Lobato, o bom senso é o que deve falar mais alto frente a questões como essas. Ela enxerga na literatura uma ferramenta de conscientização e construção social, sendo assim, o bom uso dos livros, até mesmo os considerados polêmicos, pode ser de extremo ganho na formação das crianças. “Não concordo com as coisas racistas e misóginas mas ao mesmo tempo eu acho que não podemos simplesmente cancelar um autor porque, querendo ou não, ele tem um percurso e um valor para a literatura brasileira.Se a gentenao trata esses temas e  não conversa com as crianças ela sobre essas situações todas, elas não se protegem para o mundo. A literatura é um espelho do que acontece na vida, é uma forma de preparar a criança sobre esses temas num ambiente seguro a partir da voz daquelas pessoas que ela confia”. 

Já Lenice, comenta sempre ter lido o autor para seus alunos e relembra algumas reações. “Muitas vezes eles próprios questionavam os aspectos racistas e preconceituosos que apareciam nas histórias. Isso mostra como os leitores também problematizam os temas e revela que a mediação cuidadosa pode ser melhor do que uma radicalização como retirar os livros da escola”. 

Para a autora pernambucana, Lobato tem sua importância por ter promovido a  "formação da literatura brasileira” e menciona outra escritora importante, Clarice Lispector - que menciona o escritor no conto Felicidade Clandestina -, para ilustrar sua fala. “Para ela, esse contato com o livro foi uma abertura para o encantamento, isso revela que em qualquer tempo os leitores terão a sensibilidade para experimentar os mais diversos temas e as diferentes perspectivas sobre os textos” 

‘Isso dá história’

Clara Haddad levou sua literatura para a internet por conta da pandemia. Foto: Divulgação

Para celebrar um mês repleto de datas alusivas aos livros e à literatura infantil, a escritora Clara Haddad lança a edição brasileira do título O que é que o crocodilo come ao meio-dia, já lançado em Portugal, país onde reside há 17 anos. Nele, Clara mistura um tradicional conto africano a uma inusitada notícia lida no jornal, em uma história repleta de referências familiares e ludicidade. “Tudo pode ser matéria e material para um escritor escrever. Seja uma notícia, uma música, uma experiência de vida, a gente trabalha com essa matéria humana. O escritor vai fabular e brincar com elas. O escritor tem essa possibilidade de brincar e recriar de forma amena, sem perder as questões da vida, porque é importante falar delas, mas fazendo de uma forma talvez mais suave”. 



 

O LeiaJá preparou uma lista especial com clássicos da literatura infantil para instigar a criação do gosto pela leitura nas crianças e, claro, relembrar os momentos mágicos da infância. 

1 - "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry

##RECOMENDA##

A obra é de Antoine de Saint-Exupéry está entre os livros mais traduzidos do mundo. Sua primeira publicação data de 1943 e a história já foi adaptada várias vezes para o cinema. Conta a história de um piloto de avião que se vê perdido no deserto e encontra um menino que diz vir de outro planeta.

2 - "Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato

 

Com primeira publicação em 1931, o livro foi o nascimento do universo de "Sítio do Picapau Amarelo", clássica série que encantou uma geração.

3 - "O Touro Ferdinando", de Munro Leaf

O clássico infantil, publicado em 1938, ganhou adaptação para o cinema em 2017. Conta a história de um touro que, diferente dos outros com quem cresce e convive, não sonha em vencer na arena. Ele não gosta de lutar, é calmo, amigável e ama flores. O livro é repleto de ilustrações.

4 - "O Menino Maluquinho", de Ziraldo

Lançado em 1980, foi o livro que consagrou o escritor e cartunista brasileiro Ziraldo. A história de um menino como diz o título, maluquinho, e também muito alegre e sempre envolvido em aventuras também ganhou adaptação para o cinema. 

5 - "A Parte Que Falta", de Shel Silverstein

O livro publicado pela primeira vez em 1976 traz um protagonista incompleto, como uma pizza com um pedaço faltando, e que está em busca de outro pedaço para ser feliz. O livro demonstra essa busca humana por completude com outra pessoa e sobre ser completo sem necessitar dos outros. Em 1981, o livro ganhou a continuação, intitulada "A Parte que Falta Encontra o Grande O". 

por Valéria Campello 

Em comemoração ao Dia Nacional e Internacional do Livro Infantil, celebrado em abril, o projeto 'Coisas que se contam nas Olindas' realiza uma programação voltada para as crianças, no próximo domingo (29). Com o tema 'O fantástico universo da literatura infantil', o evento promove contação de histórias e apresentações musicais em homenagem a autores como Monteiro Lobato, Hans Christian Andersen e Charles Perraul, entre oturos. 

Realizado no Centro de Cultura Luiz Freire, o encontro vai reunir Dayse Constantino, Olga Marinho, Cida Fernandez e Júlia Sol. O propósito do evento será relembrar grandes autores infantis, através de histórias e músicas, para os pequenos e os grandes que comparecerem. A entrada é gratuita. 

##RECOMENDA##

Serviço

Coisas que se contam nas Olindas: histórias e música - O fantástico universo da literatura infantil

Domingo (29) | 15h

Centro de Cultura Luiz Freire (Rua 27 de Janeiro, 181 - Bairro do Carmo)

Gratuito

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando