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De domingo a domingo, Gildo Gonçalves de Souza, de 50 anos, sai de sua casa, no bairro dos Torrões, na Zona Oeste do Recife, e, dirigindo uma bicicleta lotada de lanches, traça rota pela cidade, vendendo seus produtos para uma clientela que já é das mais fieis. O expediente começa às 16h, pelas redondezas de sua residência, e acaba só às 5h, na Praça do Derby, na Zona Central da capital pernambucana. A marca já é conhecida nas localidades que ele percorre: falou em Gildo Lanches, o público associa o nome à pessoa. Há 10 anos, o vendedor ambulante apostou no negócio itinerante e, hoje em dia, não pretende mudar de ramo. "É o pouco que se torna muito", disse ele, referindo-se à proporção inversa entre os preços de vendas e o faturamento obtido no fim do mês.

Gildo é um exemplo consagrado nos bairros onde circula, mas os bike negócios, atualmente, são tendência. No caso do carismático vendedor, soa como alternativa para otimizar sua conta bancária com base em muita disposição para 11 horas diárias de trabalho. Mas as bicicletas, apesar de 'magrelas', são plataformas que abrigam os mais variados tipos de empreendimento. Desde os mais populares, como a própria venda de lanches, até os mais gourmet, com base em enfeites e produtos de 'grife'.

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O fato é que vender produtos numa bicicleta não é bem algo inovador. A prática já é antiga, por exemplo, para entregadores de água, pão, jornais e botijões de gás. Mas, a cada ano, o veículo vem ganhando mais espaço nos debates sobre transporte sustentável e formas de manter a saúde em dia. Temas que puseram a bike em evidência, inspirando, paralelamente, o surgimento de novos empreendimentos, de acordo com as necessidades impostas pelo mercado atual. E foi essa onda que Gildo dropou, consolidando sua marca através de um modelo de negócio que cativa o nicho mais popular de consumidores.  

Assim como qualquer uma empresa, para chegar ao nível de reconhecimento que tem, a marca Gildo Lanches precisou de planejamento. Desde a separação de um capital inicial até a escolha dos horários e locais de trabalho, no intuito de driblar a concorrência e potencializar as vendas. Em conversa com a reportagem do Portal LeiaJá, o fundador do empreendimento, que já conta com mais três funcionários, detalhou como surgiu essa proposta itinerante, explicando detalhes que o fizeram crescer no mercado. Gildo contou que trabalhou como vigilante durante 15 anos e, depois, passou um ano fornecendo almoço, mas logo criou seu bike negócio, utilizando uma indenização que recebeu após deixar seu primeiro emprego.

"O dinheiro que recebi quando deixei de ser vigilante serviu como investimento inicial. Foram cerca de R$ 5 mil. Com essa quantia, comprei uma bicicleta e comecei trabalhando sozinho, mas já circulando pela cidade. Criei minha clientela em vários pontos. Hoje, não pretendo mudar de negócio. Foi assim que consegui pagar a escola particular da minha filha e deixar de ter a luz cortada todo mês por atraso no pagamento da conta de energia. Ainda ajeitei minha casa, que era cheia de goteiras", disse. E explicou: "Sempre estabeleci meu expediente entre 16h e 5h porque, durante a manhã, a concorrência é muito grande. Além disso, como transporto uma carga pesada, fica difícil encarar as ruas em horários de muito trânsito".

Com a mudança de ramo, Gildo passou a ganhar cerca de três vezes mais do que recebia como vigilante. Além do fôlego para carregar caixas e mais caixas de lanches na garupa da bicicleta, ele faz um marketing pessoal que, indiscutivelmente, fideliza sua clientela e o faz conseguir um faturamento entre R$ 4 mil e R$ 5 mil mensais, pagando seus funcionários semanalmente. "Um comido e um bebido custa cinco reais!"; "cinco bilhetes", referindo-se à quantia de R$ 5; "uma cachaça e um imbu", para indicar o valor de R$ 3. Essas são parte das expressões criadas pelo ambulante e já conhecidas pelo público. E ele garantiu: "O pessoal se diverte. Tem gente que chega chateada e sai mais feliz. Ainda gasta pouco. É bom para as duas partes, porque, com o preço bom, eu aumento a quantidade de vendas e termino lucrando o que preciso".

O marketing de Gildo não para nas tiradas autorais. Ele também fez questão de manter o padrão na forma de se vestir: uma camisa verde limão com a da marca Gildo Lanches registrada no tórax e, por cima, uma jaqueta de manga longa - dobrada no começo do expediente e esticada durante madrugada, pelo clima mais fresco - com estampa de Exército. "Além de proteger do vento, essa roupa também é útil por ter muitos bolsos, o que facilita na hora de separar as notas de dinheiro de acordo com o seu valor. E, claro, quem vê, reconhece de longe. Serve como identificação", observou.

Outra tática utilizada pelo vendedor é repassar o número de seu celular para os clientes. Assim, quem deseja comer no Gildo Lanches mas não sabe onde ele se encontra, liga e descobre. A bike pode estar no ponto mais próximo, não é? A rota atual do empreendedor conta com quatro paradas: o próprio bairro dos Torrões, para começar as vendas já perto de casa; a sede do Batalhão de Choque, no Derby; o supermercado Extra da Benfica; e a Praça do Derby, perto do bar Drive-In, onde ele chega por volta das 21h e permanece até o fim do expediente. Para manter o negócio a todo vapor, são 10 fornecedores de alimentos. Tem comido e bebido para todo mundo! Ah, sim, aos que quiserem uma indicação, o carismático ambulante deixou a dica: "Nosso egg cheddar é sucesso!"

Pegando carona no boom dos food bikes

Do mesmo jeito que Gildo fatura através do volume, os food bikes também funcionam dessa forma, porém contam com o valor agregado das decorações e sabores gourmet, suavizando o ‘suor’ na hora de montar os cálculos. No fim das contas, é necessário vender muito, mas nem tanto, digamos. Afinal, o que está na moda já fica – nesse caso, literalmente – na boca do povo. Trata-se de um modelo de negócio no qual se encaixa, por exemplo, a Docecleta Brownieria Ambulante. A franquia começou com pontos itinerantes, os quais ainda existem, mas, atualmente, conta com quatro quiosques: na capital pernambucana, nos Shoppings RioMar e Recife; em Caruaru, no Shopping Difusora; e outro no bairro de Aldeia, no município de Camaragibe.

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Um dos sócios da Docecleta, Eduardo Monteiro, conversou com o Portal LeiaJá, e mostrou os dois lados da moeda da realidade vivida pelas bicicletas gourmet. Por um lado, o boom dos food bikes, desde meados de 2014, mantém o negócio impulsionado. Mas, em contrapartida, o empresário admitiu que sente fortemente a crise político-econômica refletir em sua marca.

“Começamos na rua e adaptamos a ideia para pontos estáticos, mas sempre existiu esse visual mais gourmet. Tudo começou no Cabo de Santo Agostinho, onde eu tinha um restaurante com o meu primo, Marcelo Moura, que hoje é sócio cuida da produção na cozinha. Os nossos brownies eram muito vendidos como sobremesa e, por isso, começamos a enviar uma funcionária para circular, de bicicleta, comercializando o produto”, contou. E observou: “Terminou que a iniciativa coincidiu com a época do boom dos food bikes. A partir daí, trouxemos para o Recife e expandimos a marca. Felizmente, a aceitação do público sempre foi excelente. Assim, procuramos manter um negócio rentável, mas que não fuja muito da realidade financeira do consumidor. No nosso caso, as classes A e B”.

A história da Docecleta é das mais firmes. A partir da resposta do público, entrou o quesito criatividade e culminou nos bons saldos de lucro. Aproveitamento este que vem oscilando, assim como acontece na quase totalidade dos negócios que funcionam em solo brasileiro desde o estabelecimento da chamada crise.

“Hoje, sentimos bastante o momento que o país vive. Nos shoppings, por exemplo, o movimento caiu bruscamente. E não adianta querer ‘aplicar’ no preço para compensar, porque, se o público já vem fazendo de tudo para cortar gastos, imagine se ficar mais caro? Eu mesmo desconheço alguém que não tenha sentido essa crise apertar o orçamento”, explanou Eduardo, que demonstrou cautela ao comentar sobre suas pretensões de expansão da Docecleta. “Claro que temos o objetivo de crescer ainda mais. Queremos chegar a outros estados brasileiros. Mas, no momento, não dá. Estamos trabalhando para sobreviver e, depois, crescer. Não adianta ter 30 pontos e todos fecharem em um ano. Inclusive, por conta dessa instabilidade, diminuímos nossos pedidos. Antes, fazíamos entregas diariamente. Agora, só três ou quatro vezes por semana”, detalhou o empresário.

Entre oscilações e acertos, a Docecleta ainda consegue ser referência no mercado dos food bikes. Atualmente, a marca conta com cerca de 40 funcionários, espalhados entre seus pontos fixos – até 10 deles por dia – e itinerantes. Eduardo ainda aproveitou para traçar um comparativo entre os dois modelos de comércio adotados pela marca. Segundo empresário, os shoppings trazem um retorno maior, mas ele garantiu, também, que a parte genuinamente ambulante poderia sustentar a marca independentemente dos quiosques.

“Nos shoppings, o quantitativo diário de vendas é bem maior, avaliando-se individualmente os pontos de vendas. Afinal, há um valor agregado ao ambiente. Por outro lado, gastamos muito com taxas como o aluguel nesses locais fechados”, comentou Eduardo. “Se fossem só as unidades móveis, daria para manter ativo o negócio, pelo movimento atual. Mas há uma desvantagem, apesar de não podermos ‘controlá-la’: quem está na rua fica exposto a riscos. Querendo ou não, estamos sujeitos a assaltos, por exemplo. É algo mais vulnerável”, complementou.

Além dos pontos físicos destacados e das encomendas listadas pelo sócio, a Docecleta também atua em eventos, aproveitando a moda gourmet dos food bikes, que tem como ‘parceiro’ paralelo os food trucks, predominantes em eventos dos mais variados portes. E essa é mais uma face dos bike negócios. Neste caso, aumentando a proporção do glamour em relação ao trabalho braçal.

Para andar na linha

A repercussão dos bike negócios, seja no ramo gourmet ou popular, é atrativa, mas, assim como qualquer tipo de empreendimento, tem burocracias a serem cumpridas, para que tudo siga de acordo com as normas legais. Por isso, a reportagem do Portal LeiaJá entrou em contato com a Prefeitura do Recife (PCR) para trazer os devidos esclarecimentos sobre o assunto.

De acordo com a assessoria de imprensa, a regulamentação dos food trucks e food bikes ainda é um assunto em debate, envolvendo Secretarias que compõem a administração pública local. Confira abaixo, na íntegra, a nota enviada em nome da PCR:

“A Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife (Semoc) informa que está em andamento um debate acerca da regulamentação dos food trucks e food bikes na cidade. A discussão também envolve secretarias como a de Turismo e Lazer e Desenvolvimento e Empreendedorismo, além da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e de representantes dos proprietários de food trucks e food bikes. O objetivo é elaborar uma legislação que estabeleça normas para este tipo de comércio, levando em conta também a questão urbanística da cidade”.

Neste sábado (7), alguns representantes da nova modalidade de serviços de comida, food truck, vão promover o Na Praça Gourmet. Trata-se de um encontro, na Praça Industrial Miguel Santos, conhecida como Praça da Quermesse para reunir food trucks que oferecem diferentes cardápios.  

Estarão presentes A Barka Temakeria, com temakis e sushis, a food bike Docecleta, com brownies e o trailer Urbanóide, com hambúrgueres artesanais e sanduíches de costela suína e cervejas especiais. Os food trucks vem se popularizando no Recife, eles podem manter um ponto fixo - como A Barka que sempre atende na Praça da Quermesse - e, também, estacionar em diferentes lugares e eventos. 

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Serviço

Na Praça Gourmet

Sábado (7) | 18h às 00h

Rua Baltazar Pereira - Praça Industrial Miguel Santos

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