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O poeta Ferreira Gullar, ao sentir seu quadro de saúde se agravar por causa de uma pneumonia, pediu à mulher, a também poeta Claudia Ahinsa, para não sofrer intervenções que prolongassem sua agonia. A alternativa dos médicos era que ele fosse entubado.

"Se você me ama, não deixa fazerem nada comigo. Me deixe ir em paz. Eu quero ir em paz", pediu àquela que era sua companheira havia 22 anos. "Foi uma decisão muito dura para nós, para a família e para mim. Mas era o que tinha de ser feito", disse Claudia, muito emocionada.

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Gullar sentiu-se mal na madrugada de 9 de novembro. Com intensa falta de ar, foi levado para o Hospital Copa D'Or. Os médicos diagnosticaram pneumotórax, a entrada de ar na pleura, a fina camada que recobre os pulmões. O problema era um reflexo do seu tempo de fumante, ainda que estivesse livre do cigarro há mais de 30 anos.

O ar na pleura comprime o pulmão e o faz murchar. Nos 25 dias de internação, os médicos trataram a lesão na pleura. Instalaram um dreno, para a retirada do ar. E esperavam o pulmão expandir para liberá-lo. "Estava tudo dando certo. A pleura estava fechando, o pulmão estava expandindo. Eles tirariam o dreno nos próximos dias e ele já receberia alta", conta Claudia.

Claudia conta que o marido tinha boa saúde. "No domingo, três dias antes da internação, tínhamos ido ao cinema, passeado. Não tinha nada no coração, indisposição para nada. Essas doenças são silenciosas", afirmou.

O casal imaginava que a internação seria curta. Preferiu não alarmar os amigos. Com o passar das semanas, Claudia começou a contar a um e outro sobre a internação. Nas primeiras semanas, Gullar escreveu de próprio punho a crônica semanal publicada na Folha de S. Paulo. Depois, com o agravamento do quadro, passou a ditar o texto para a mulher. "Ele era poesia pura. A poesia está aí. A obra vai ficar", afirmou.

Gullar será velado na Biblioteca Nacional a partir das 17 horas de domingo (4). Pela manhã, haverá um cortejo até a Academia Brasileira de Letras. O poeta será enterrado à tarde, no Mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista.

O poeta maranhense Ferreira Gullar, de 84 anos, foi eleito nesta quinta-feira para ocupar a cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL). O titular anterior da cadeira era o poeta e tradutor Ivan Junqueira, morto no dia 3 de julho deste ano.

Gullar obteve 36 dos 37 votos possíveis - houve um voto em branco. Votaram 19 acadêmicos presentes, e 18 por cartas. Os ocupantes anteriores da cadeira 37 foram: Silva Ramos - que escolheu como patrono o poeta Tomás Antônio Gonzaga -, Alcântara Machado, Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand e João Cabral de Melo Neto.

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O poeta Ferreira Gullar, por sua obra Em Alguma Parte Alguma, foi o vencedor da primeira edição do Prêmio Moacyr Scliar, criado pelo governo gaúcho e concedido pelo Instituto Estadual do Livro (IEL) do Rio Grande do Sul.

A cerimônia de premiação será na próxima quinta-feira (29), às 18h30, no Espaço Cultural Eliseu Visconti, da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), no Rio de Janeiro. O evento terá as presenças do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, do secretário de Cultura do estado, Luiz Antonio de Assis Brasil, e do presidente da FBN, Galeno Amorim.

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O Prêmio Moacyr Scliar, que homenageia o escritor gaúcho falecido em fevereiro de 2011, tem como objetivo contemplar os melhores livros das categorias poesia e conto, publicados no Brasil, em língua portuguesa, de 1º de janeiro a 31 de dezembro dos dois anos anteriores à cada premiação. O escritor escolhido recebe R$ 150 mil e a editora, R$ 30 mil. O livro vencedor terá direito ainda a uma edição especial de 5 mil exemplares, que serão distribuídos nas bibliotecas públicas e pontos de cultura do Rio Grande do Sul.

A primeira edição do prêmio é dedicada à poesia. Segundo o IEL, as categorias poesia e conto foram privilegiadas em vista da grande quantidade de prêmios já instituídos para a categoria romance. A cada edição, uma das duas categorias será contemplada, de forma alternada.

Nascido em 1930, em São Luiz (MA), Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, é poeta, ensaísta, crítico de arte, autor teatral e tradutor. Em 1959, foi um dos fundadores do movimento neoconcretista. Com 17 livros de poesia publicados, recebeu diversos prêmios, entre eles o Camões, em 1910, e o Jabuti, no ano passado.

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