Diante dos rumores de que o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), renunciaria ao mandato em dezembro de 2013 para dar mais exposição ao seu vice e candidato à sucessão, Luiz Fernando Pezão, o PT fluminense resolveu antecipar de vez a campanha estadual de 2014.
Do lado do PMDB, um princípio de crise se instaurou e, segundo lideranças do partido, até uma reunião de campanha das legendas que apoiam a reeleição de Eduardo Paes (PMDB) à prefeitura da capital foi cancelada na tarde da quinta-feira para evitar atritos entre os aliados.
##RECOMENDA##O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), pré-candidato do partido, reafirmou sua intenção de disputar o governo do Rio e chamou de "arrogante" a postura dos aliados peemedebistas. O petista disse ainda contar com o apoio da direção nacional do partido e anunciou que vai reeditar, a partir do ano que vem, uma versão fluminense das Caravanas da Cidadania - programa de viagens que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez pelo interior do País entre 1993 e 1996 e em 2001.
"Resisto a acreditar que essa movimentação partiu dele (Cabral). Ainda estamos na primeira metade do seu segundo mandato", comentou Lindbergh. "Mas combinaram com o povo? É um movimento arrogante. Não dá para combinar um plano, dentro de uma sala com ar-condicionado, para a sucessão estadual até 2026", reclamou o petista, referindo-se ao suposto planejamento peemedebista de reeleger Pezão em 2014 e Eduardo Paes em 2018 e 2022.
Silêncio - Do Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, nenhuma declaração. Nem para contestar a reportagem publicada na quarta-feira pelo jornal O Globo que informava que Cabral já havia falado da renúncia em favor de Pezão até para a presidente Dilma Rousseff. A especulação sobre a estratégia não é nova. Mas esta é a primeira vez que Cabral não se apressa a desmenti-la.
Sempre muito discreto, Pezão preferiu não polemizar. Disse que não adianta "apressar as coisas" e nem "botar o carro na frente dos bois". O vice-governador, no entanto, também não desmentiu a renúncia de Cabral.
"Falar que eu não quero (ser governador), seria mentira. Mas vamos devagarinho. Saí da prefeitura de um município (Piraí) com 25 mil habitantes para ser vice-governador. Já estou no lucro. Tenho agora que trabalhar", disse Pezão.
O PMDB tentou contemporizar. O líder do partido na Assembleia Legislativa, André Lazaroni, disse que era tudo especulação. O parlamentar, no entanto, apressou-se a lembrar que a aliança entre PT e PMDB é nacional e que é natural que o seu partido tenha prioridade no plano estadual.
"Temos que lembrar que os nossos adversários locais também são adversários do governo federal no plano nacional. Esse tipo de reação açodada só ajuda nossos adversários", afirmou Lazaroni, referindo-se ao ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM). Procurado, o presidente do PMDB, Jorge Picciani, não quis se pronunciar.
Herdeiro - Além de ajudar a expor o aliado, a renúncia de Cabral é necessária para viabilizar a candidatura de seu filho e herdeiro político, Marco Antônio, à Assembleia Legislativa. Pela legislação eleitoral, ele não poderia disputar caso o pai continuasse no Palácio Guanabara. O próprio Cabral precisaria renunciar caso quisesse disputar um mandato à Câmara dos Deputados ou ao Senado em 2014.
A prática é comum entre os governadores. Em 2010, os hoje senadores Aécio Neves (PSDB), Roberto Requião (PMDB), Blairo Maggi (PR), entre outros, renunciaram aos mandatos em Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso, respectivamente, para disputar a eleição. Todos, no entanto, abriram mão de seus cargos apenas em abril de 2010 - prazo limite estipulado pela legislação eleitoral.