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Animais herbívoros correm um risco maior de extinção que predadores, sejam eles mamíferos, pássaros ou répteis. É o que revelou um extenso estudo feito com 24,5 mil espécies vivas e extintas, divulgado nesta quarta-feira (5).

A pesquisa, publicada na revista Science Advances, indica que herbívoros sofreram taxas de extinção mais altas nos últimos 50 mil anos, em comparação a outras partes da teia alimentar, e até hoje a tendência continua.

A descoberta contradiz a ideia, baseada em evidências anedóticas, de que predadores são os mais vulneráveis por viverem em áreas mais amplas e terem um crescimento populacional mais lento.

Segundo os pesquisadores, a ameaça é ainda maior para répteis herbívoros, como tartarugas, e herbívoros grandes, como elefantes.

"Há tantos dados por aí e às vezes você só precisa de alguém para organizá-los", disse Trisha Atwood, uma ecologista da Utah State University e primeira autora do estudo.

Os cientistas primeiro observaram os padrões modernos de risco de extinção entre herbívoros, onívoros e predadores em mamíferos, pássaros e répteis de diferentes níveis da teia alimentar.

Eles então realizaram a mesma análise em espécies do final do Pleistoceno, começando 11 mil anos atrás na África, América do Norte e América do Sul e há 50 mil anos na Austrália.

Por fim, examinaram como o tamanho do corpo e a posição na teia alimentar afetavam o status de ameaça entre 22.166 espécies.

De acordo com os autores, embora existam provavelmente várias razões para a tendência, certas intervenções humanas parecem afetar mais os herbívoros do que outros.

"Vertebrados invasores (como ratos), insetos (como formigas-de-fogo) e plantas (como figueiras) foram todos implicados no declínio e até na extinção de diversos répteis", escreveram.

Além disso, espécies invasoras, poluição e alteração de habitat parecem impactar desproporcionalmente pequenas aves herbívoras.

Existem, no entanto, exceções: os predadores que vivem em habitats marinhos enfrentaram um risco de extinção elevado, o que sugere que eles tinham que lidar com mais ameaças à sobrevivência do que seus colegas da terra.

Paleontólogos descobriram o mais antigo ancestral dos herbívoros, com 300 milhões de anos, um espécime que ajuda a esclarecer o aparecimento dessa forma de alimentação no mundo animal, determinante para a evolução do ecossistema terrestre atual.

O fóssil parcial deste animal, denominado "Eocasea martini", que tinha menos de 20 centímetros de comprimento, representa "o primeiro vínculo entre os carnívoros e os herbívoros", disse à AFP o paleontólogo Robert Reisz, professor da Universidade de Toronto, no Canadá, principal responsável pela descoberta, divulgada em artigo publicado nesta quarta-feira na revista americana PLOS ONE.

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O esqueleto do "Eocasea", ainda um carnívoro, apresentava certas características estreitamente relacionadas a uma linhagem de herbívoros, acrescentou Reisz, indicando que apenas uma parte do crânio, o essencial da coluna vertebral, a pélvis e uma pata traseira foram recuperados no Kansas.

Este animal, que viveu 80 milhões de anos antes do aparecimento dos dinossauros, fazia parte da classe "Synapsida", que inclui os primeiros herbívoros terrestres e os grandes predadores, ancestrais dos mamíferos modernos.

Antes da emergência dos herbívoros, um pouco depois do "Eocasea", os animais terrestres, todos carnívoros, alimentavam-se uns dos outros, ou comiam insetos. O aparecimento dos herbívoros "foi uma revolução da vida sobre a Terra, porque significou que os vertebrados puderam ter acesso diretamente a vastos recursos alimentares oferecidos pelos vegetais", destacou o pesquisador.

Os herbívoros, que se multiplicaram e cresceram, por sua vez, viraram uma fonte importante de nutrição para os grandes predadores, completou. Assim, o "Eocasea" foi o primeiro animal a ativar um processo que resultou no ecossistema terrestre atual, no qual um grande número de herbívoros assegura o aporte alimentar de um número cada vez menor de grandes predadores, observou o professor Reisz.

Este fenômeno ocorre depois separadamente em outros grupos de animais, em pelo menos cinco ocasiões, afirmou. "Uma vez que a via para o mundo da alimentação herbívora foi aberta pelo 'Eocasea' (...), vários grupos de animais continuaram evoluindo para desenvolver os mesmos traços", permitindo-lhes digerir a celulose, um glicídio que é a principal fonte de energia fornecida pelas plantas.

"Os primeiros dinossauros eram todos carnívoros antes que um grande número se tornasse herbívoro" no curso da evolução, revelou o cientista. Mas, ele admitiu, "não compreendemos porque essa evolução de carnívoro para herbívoro não aconteceu mais cedo, nem as razões pelas quais ela ocorreu separadamente em várias linhagens animais".

O paleontólogo Jörg Fröbisch, do "Museum für Naturkunde" e da Universidade Humboldt, em Berlim, é co-autor desses trabalhos.

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