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Em seu relatório de atividades de 2015, lançado nesta quarta-feira (14), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) apresenta redução de 6% na receita real, motivada pela queda de arrecadação tributária no Estado. A Fundação recebe, por lei, 1% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) paulista. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente da Fundação, José Goldemberg, afirma que a redução afetou pouco os investimentos em ciência, mas foi preciso recorrer às reservas.

Como a queda de 6% na receita real da Fapesp afetou os investimentos em ciência?

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Afetou muito pouco. A Fapesp recorreu às reservas, um fundo de cerca de R$ 700 milhões, para manter as pesquisas.

O fundo já havia sido utilizado?

Sempre é usado quando há flutuações no que recebemos do governo estadual, mas depois, quando o ICMS é recuperado, o fundo também se restabelece e não há grandes perdas.

Qual porcentagem do fundo foi preciso utilizar em 2015?

Menos de 10%. E nós ainda estamos com esperanças de reconstituir o fundo porque a Capes (coordenação federal de aperfeiçoamento de pessoal) ficou nos devendo R$ 60 milhões no ano passado.

 

Qual a origem dessa dívida?

Temos um convênio entre Fapesp e Capes para concessão de bolsas. Mas, com a crise, a Capes não transferiu os recursos integralmente e ficou devendo esses R$ 60 milhões.

Com o uso do fundo, a Fapesp pode passar por situação semelhante à das universidades, que estão liquidando suas reservas?

Não dá para comparar. Elas estão gastando mais de 100% com pessoal. Esse problema não existe com a Fapesp porque só podemos gastar 5% da receita com o custeio, por lei. É claro que, se o ICMS continuar caindo por cinco anos, por exemplo, isso vai começar a afetar as reservas de fato.

Não houve redução de investimentos em auxílios e bolsas?

Muito pouco. A única coisa que fizemos foi tornar os critérios de seleção de projetos de bolsistas um pouco mais exigente. Isso diminuiu a taxa de aprovação de bolsas, permitindo reduzir em cerca de 5% o desembolso com elas.

Além da redução da receita, houve outras dificuldades?

O ano foi mais difícil também por causa da alta do dólar. Parte significativa das nossas despesas é com equipamento importado e o pagamento de bolsas no exterior, que são valores convertidos em dólar.

 

A Fapesp contornou a crise?

Se algo foi preservado, na situação econômica desastrosa que o Brasil está vivendo, foi o sistema científico de São Paulo, que é sólido e nos permitiu navegar nesse mar revolto As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O físico e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) José Goldemberg recebeu nesta quarta-feira, 15, o Prêmio Professor Emérito - Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita, concedido pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), em parceria com o Estado. Desde 1997, o prêmio é dado anualmente àqueles que prestam serviços relevantes à educação do País.

Além de contribuições na administração pública, como reitor e ministro da Educação, Goldemberg é um pesquisador de reconhecimento internacional. "É um lutador por natureza", elogiou Ruy Martins Altenfelder Silva, presidente do Conselho de Administração do CIEE e da comissão julgadora do prêmio. "Sua brilhante trajetória é pontuada por vários destaques, que mostram a paixão pela pesquisa e pela transmissão de conhecimento, pilares da formação de novas gerações", disse.

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A comissão julgadora é formada por conselheiros do CIEE, outros professores eméritos e personalidades acadêmicas e empresariais e a lista de candidatos é sugerida a cada ano. Na votação final, a escolha de Goldemberg foi unânime. Como nas últimas edições, a entrega do troféu, que desde 2013 leva o nome de Ruy Mesquita em homenagem póstuma ao ex-diretor de Opinião do Estado, foi no Dia do Professor.

"Essa é uma profissão em que ninguém fica rico. O reconhecimento dos outros é uma forma de recompensar isso", afirmou Goldemberg. "O prêmio também aumenta o prestígio da atividade educacional. Aos olhos do governo, preocupado com outras coisas como saúde e segurança, é preciso mostrar que a educação é ingrediente fundamental para resolver os problemas brasileiros", completou.

Em seu discurso de agradecimento, Goldemberg destacou a necessidade de melhorar a educação básica e ampliar o acesso ao ensino superior. O homenageado lembrou das dificuldades enfrentadas no Ministério da Educação e criticou a falta de mais investimentos nos ensinos fundamental e médio de São Paulo e do País. O físico recebeu o prêmio das mãos do especialista em bioética William Saad Hossne, laureado em 2013.

Trajetória

As passagens na gestão pública não impediram Goldemberg de manter intensa atividade de pesquisa sobre energia e biomassa, com passagens por instituições de ponta na Europa e dos Estados Unidos. Gaúcho, ele se formou em Física na USP em 1950 e, 15 anos mais tarde, começou a modernizar o ensino dessa ciência como docente da Escola Politécnica. Em 1970, assumiu a direção do recém-criado Instituto de Física. Ainda participou ativamente do debate ambiental e da militância contra a construção de armas nucleares no Brasil.

Na época em que esteve à frente da USP (1986-1990), a instituição conquistou a autonomia administrativa e financeira. Goldemberg foi responsável por consolidar esse processo, que desenvolveu as três universidades estaduais paulistas. Em seu mandato, a meritocracia também era meta.

Goldemberg ocupou também os cargos de secretário de Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia do governo federal no início da década de 1990. Foi secretário paulista de Meio Ambiente (2002-2006). Aos 86 anos, o físico ainda orienta trabalhos de pesquisa no Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Reconhecimento

Para o reitor da USP, Marco Antonio Zago, o prêmio também condecora o papel da universidade. "Dos 18 laureados até agora, só um ou dois não estudaram na USP. E pelo menos 13 são ou foram nossos professores", enumerou. "Ficamos orgulhosos."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.V

Secretário do Meio Ambiente (com status de ministro) durante a Eco-92, o físico José Goldemberg já não acredita que a Rio+20 possa ter resultado comparável à conferência de vinte anos atrás. A falta de convergência dos países quanto ao documento que está sendo negociado e o anúncio da possível criação de um fundo de US$ 30 bilhões pelo G-77 para financiar o desenvolvimento sustentável nos países mais pobres são alguns dos motivos que o levam ao descrédito - embora a maior participação da sociedade civil, na comparação com 1992, o anime.

"Estamos na décima hora. Eu consideraria um sucesso se chegássemos a um enunciado de algumas direções da economia verde, metas e um calendário para cumpri-las. Isso é o sucesso de uma conferência internacional. Esperar o mesmo dessa vez seria uma utopia", disse Goldemberg, que participou na quinta-feira do penúltimo dia do Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação da PUC-Rio.

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"O documento é muito difícil de ler, são tantos colchetes (pendências, no jargão diplomático) que há os colchetes dos colchetes. Ao que tudo indica, não vão conseguir enxugar o documento. Até o secretário-geral da ONU está exasperado. Imagino que o que vá acontecer, ao fim, será um apelo, uma exortação aos países."

A possibilidade de o G-77 criar um fundo para viabilizar ações sustentáveis ele encara como uma "distração" do que realmente interessa no momento. Lembra que, em 2009, na conferência de Copenhague, os Estados Unidos já haviam anunciado apoio a um fundo verde de US$ 100 bilhões, que entraria em operação em 2013 para ajudar os países mais vulneráveis às mudanças climáticas - ou seja, mais do que o triplo do valor focado num único aspecto ambiental.

"Essas propostas não se concretizam, porque os países têm que colocar dinheiro e as contribuições são voluntárias, então eles não colocam. Além disso, US$ 30 bilhões são completamente insuficientes para todos os objetivos do desenvolvimento sustentável."

Goldemberg também se diz desapontado com o alinhamento brasileiro ao G-77, por acreditar que o País teria "muito a mostrar individualmente". Mas vê com bons olhos a participação da sociedade civil - muito maior, em sua análise, do que a registrada na Eco 92. À época, houve grande envolvimento de ONGs; agora, ele observa, o empresariado, a indústria, as megacorporações estão à frente.

"Isso me dá otimismo, porque são eles que vão ter que agir. As pessoas estão decepcionadas porque a direção não virá de cima. Isso é muito claro, na comparação com a Eco-92: lá era uma cúpula, o Brasil numa posição de liderança forte, desenhando providências. Agora, a impressão que dá é que as propostas estão subindo de baixo para cima."

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