O motorista de aplicativo Vitor Marques, de 22 anos, circula desde 2020 pelas ruas de Recife e Região Metropolitana. Ao iniciar na função, em meio à pandemia de Covid-19, Vitor sempre quis oferecer aos passageiros um serviço diferenciado. "Eu sempre tentei ser diferente. Então, era sempre o carro limpo, se queria ar ou janelas abertas, que tipo de música gostava. Trabalhava pela manhã, mas, durante a Copa de Mundo de 2022, resolvi trabalhar à noite", contou.
Na noite, e sem as restrições aplicadas para conter o avanço da doença no país, ele teve contato com um público diferente. "O pessoal desse horário é, na maioria das vezes, animado. Estavam indo ou voltando de bares. Muitos diziam que aqui no carro estava mais animado que na festa que estavam", disse ao LeiaJá.
##RECOMENDA##Vitor Marques, motorista de aplicativo. Foto: Elaine Guimarães/LeiaJá
Nas buscas por continuar gerando entretenimento e conforto aos passageiros, Vitor encontrou um motorista de aplicativo brasileiro que tinha um karaokê no carro, mas, na Nova Zelândia. A partir disso, ele começou a montar seu "karaocar". Primeiro, foi um microfone, em seguida e após um pesquisa, vieram as luzes. Todo sistema de luz e som foi criado por Vitor. "Eu peguei essas lâmpadas e comprei uns cabos. Juntei tudo, fiz um sistema. Agora, eu consigo apertar os botões e ligar tudo de vez", disse enquanto mostrava o sistema que fez à reportagem.
Os sistema criado por Vitor para acionar as luzes no 'karaokar'. Foto: Elaine Guimarães/LeiaJá
O jogo de luz cria um clima de balada no carro. Foto: Elaine Guimarães/LeiaJá
Ao LeiaJá, o motorista explica como é a dinâmica no 'karaokar'. De acordo com ele, o karaokê é acionado apenas se o passageiro estiver de acordo e não gera custo adicional no valor final da corrida. "Ninguém é obrigado a cantar. Eu ofereço, se a pessoal não quiser, tudo bem", ressalta. As recusas não são maioria.
A repercussão do 'karaokê em quatro rodas' ganhou foça no início de julho, quando Vitor compartilhou um vídeo em uma rede social mostrando a reação de alguns passageiro com a estrutura do carro. "Eu gravo, com autorização dos clientes, as cantorias e reações quando ligo as luzes e mostro o microfone, é sempre uma festa muito grande. Foi um desses vídeos que viralizou no Instagram. Ele teve mais de dois milhões de visualizações. Não esperava, mas fiquei feliz com a repercussão.
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Equipamento de vídeo instalado por Vitor para gravação dos vídeos. Foto: Elaine Guimarães/LeiaJá
Do Ibura, ex-estudante de engenharia e empreendedor
A repercussão do trabalho de Vitor, que era morador do Ibura, localizado na Zona Sul da capital pernambucana, não ficou restrita apenas as redes sociais. Ele conta que algumas pessoas já o reconhecem e que os ganhos aumentaram. "Algumas pessoas deixam uma gorjeta, um valor simbólico. Não é nada obrigatório", salienta.
Antes de ser motorista, ele chegou a cursar engenharia de produção na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas decidiu deixar a graduação para trabalhar com transporte por aplicativo. "Durante a pandemia, eu comecei a sentir a necessidade de fazer alguma coisa. O carro estava parado em casa. Então, perguntei ao meu pai se ele permitia que eu rodasse com o carro. A princípio, a minha ideia era juntar dinheiro e viajar. Mas, tudo mudou após um acidente. Todo dinheiro que tinha juntado foi para o ajuste do carro", relembra.
Nos planos de Vitor Marques, que já foi intercambista por meio do Programa Ganhe o Mundo, não está voltar para o curso de engenharia. "Não penso em voltar para a universidade. Como empreendedor, eu tive contato com muitas coisas, estudei a mente e tenho outra visão de mundo. Penso em melhorias no 'karaocar', novidades", soltou, sem dizer à reportagem o que virá.