Tópicos | Marice Corrêa Lima

Os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato pediram que a cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto permaneça presa preventivamente por ter mentido durante seu depoimento prestado nesta segunda-feira, 20, diante das autoridades. Marice Corrêa Lima foi detida temporariamente (por 5 dias) após se entregar, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, na sexta-feira, 17.

Marice foi identificada como a pessoa que pode ter feito depósitos "picados" para a irmão e mulher de Vaccari, considerados formas de ocultar o rastreamento de dinheiro ilegal.

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Ouvida ontem em Curitiba, pelos investigadores da Lava Jato, Marice negou ter feito depósitos na conta da irmã, mulher de Vaccari, em 2015. Imagens inéditas anexadas ao processo, das câmeras de bancos, mostram que a cunhada pode ter sido a origem desses depósitos e que eles teriam continuado até março.

"Assim, tudo indica que Giselda recebe uma espécie de "mesada" de fonte ilícita paga pela investigada Marice, sendo que os pagamentos continuam sendo feitos até março de 2015."

Se o pedido for acatado pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, ela permanecerá encarcerada por tempo indeterminado.

Identificação

A força-tarefa da Lava Jato havia identificado depósitos "picados", no limite próximo de R$ 10 mil, que somaram R$ 322,9 mil em conta da mulher do tesoureiro do PT sem identificação do depositante. Em um único dia, 12 de dezembro de 2013, Giselda Rousie de Lima recebeu em conta cinco depósitos, quatro deles no valor de R$ 2 mil e um de R$ 1.500.

Iniciou-se então uma investigação para identificação quem poderia ter feitos os depósitos. O Banco Itaú, após ser acionado pelo MPF, foi um dos que enviou imagens de suas câmeras internas.

Pedido de Prisão Preventiva

"(O banco) identificou registros videográficos de dois depósitos fracionados, com valor abaixo de R$ 10.000,00, realizados em por uma "pessoa do sexo feminino, aparentando mais de 50 anos de idade, comparece às agências 4836 e 1685, ambas desta instituição financeira, no intuito de realizar depósitos em espécie, por meio de caixa de autoatendimento, em benefício da conta titulada por Giselda Rouse de Lima", registrou a força-tarefa da Lava Jato, no pedido de prisão de Marice.

"Analisando as imagens do vídeo, tudo indica que Marice Correa Lima foi a pessoa responsável por tais depósitos."

Um dos depósitos identificados e que justificaram o pedido de conversão da prisão temporária, que tinha prazo de cinco dias, para preventiva, sem data determinada para acabar, foi em 2 de março, às 13h06.

"Das imagens enviadas pelo banco, as 13:04:55 é possível verificar Marice esperando na fila da agência Fagundes Filho, em São Paulo. No exato momento da operação bancária identificada, as câmeras de segurança capturaram imagem de Marice realizando o depósito em um dos caixas automáticos da agência", informa o MPF.

Houve ainda registro dela fazendo depósitos para a irmã na mesma agência no dia 6 de março, às 14h25.

Para os procuradores, "nesse contexto, a prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração delitiva".

A força-tarefa ressaltou ainda que o fato da cunhada de Vaccari estar no

Panamá, quando foi decretada sua prisão, dever se levado em consideração.

"Nunca é demais agregar que Marice estava no Panamá, conhecido paraíso fiscal da América Central. Em que pese a sua viagem por si só não seja ilícita, este fato associado ao contexto das atividades de Marice, aparentemente operadora de recursos ilícitos, merece no mínimo aprofundamento investigativo, pois levanta suspeitas da manutenção de depósitos ocultos no exterior, como por diversas vezes se verificou com outros investigados nesta operação."

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Ouvida

A cunhada do ex-tesoureiro do PT negou em depoimento na Polícia Federal na tarde desta segunda- feira, 20, que tenha recebido propina em dinheiro vivo da OAS, empreiteira sob suspeita da Lava Jato por participação no cartel que assumiu contratos bilionários na Petrobrás entre 2003 e 2014.

Marice Correa Lima depôs durante duas horas e meia. Ela esclareceu que não viajou para o Panamá para fugir ao decreto de sua prisão temporária. Marice diz que foi àquele país da América Central para participar do Fórum Sindical das Américas.

A PF indagou de Marice sobre a denúncia do doleiro Alberto Youssef que, em delação premiada, anexada aos autos da Operação Lava Jato, citou dois repasses de aproximadamente R$ 400 mil para Vaccari, em nome do PT.

À PF, a cunhada de Vaccari negou ter recebido valores de Youssef.

Em seu depoimento desta segunda feira, 20, ela também afirmou que não houve irregularidades na compra do apartamento OAS Bancoop - transação sob suspeita do Ministério Público Federal.

Os investigadores da Lava Jato apontam para o negócio que Marice realizou com a OAS. Ao comprar o imóvel ela lucrou 100% em apenas um ano - adquiriu o imóvel por R$ 200 mil e o vendeu um ano depois por R$ 432 mil para a própria empreiteira.

A força-tarefa da Lava Jato vê "caráter fraudulento" na transação. Os procuradores da República e a PF suspeitam que o negócio "serviu para ocultar e dissimular a origem ilícita dos recursos, tratando-se de possível vantagem indevida paga pela OAS a João Vaccari Neto".

Marice disse que, em liberdade, poderá localizar todos os documentos relativos à compra do apartamento Bancoop e outros de interesse dos investigadores da Lava Jato.

Seu advogado, o criminalista Cláudio Pimentel, disse ontem que ela "ratificou o depoimento que já tinha prestado em novembro". "Ela está serena, tranquila, apesar das condições, e está plenamente à disposição da Justiça", anotou o advogado. Ele não foi encontrado nesta terça-feira.

A Polícia Federal investiga se o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, recebeu do doleiro Alberto Youssef - alvo central da Operação Lava Jato - cerca de R$ 400 mil usando como emissária sua cunhada Marice Corrêa Lima. Em depoimento prestado no dia 5, em São Paulo - quando foi deflagrada a nova fase da Lava Jato, batizada de Operação My Way -, Vaccari foi questionado pelos delegados da PF se a cunhada foi usada como "courrier" para o recebimento de valores de propina na Petrobras.

"Marice nunca prestou serviço de courrier", afirmou Vaccari, segundo registro da PF. "Tampouco recebeu R$ 400 mil em espécie de Alberto Youssef."

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Vaccari foi um dos 11 acusados de serem operadores de propina na Petrobras, via ex-diretor de Serviços Renato Duque. Todos foram conduzidos coercitivamente à PF para prestar esclarecimentos no dia 5. O tesoureiro do PT falou por cerca de três horas e negou a acusação do doleiro, em sua delação, de a cunhada ter recebido R$ 400 mil em seu nome.

"Não confirma a declaração prestada por Alberto Youssef, onde esse teria afirmado que Marice seria (sua) emissária", registrou a PF.

Em novembro, a cunhada de Vaccari também foi levada coercitivamente para depor na PF, depois de interceptação telefônica indicar a entrega de valores de uma das construtoras do cartel alvo da Lava Jato, em seu endereço, em São Paulo. O ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco - outros dois delatores da Lava Jato - revelaram à PF que Vaccari era o elo do PT com o esquema de arrecadação de propina que variava de 1% a 3% em contratos bilionários da Petrobras, desde 2003.

O tesoureiro do PT negou no depoimento à PF a informação do ex-diretor de Abastecimento. Disse não ter recebido 2% dessa "propina" nos contratos da Petrobras.

PT

Vaccari foi citado em outubro pelos dois primeiros delatores da Lava Jato - Costa e Youssef - como contato do PT na Diretoria de Serviços para arrecadação de propina. Em novembro, seu nome voltou a ser apontado pelo ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco como elo do partido no esquema.

Segundo Barusco, Vaccari operou a arrecadação de até US$ 200 milhões em propina na Petrobras entre 2003 e 2013. A delação do ex-gerente de Engenharia - braço direito de Duque, na época - serviu de base para a nona fase da operação Lava Jato, deflagrada há uma semana.

Vaccari foi perguntado pelos delegados sobre esses valores. Em resposta, o tesoureiro disse "nunca ter recebido, em nome do Partido dos Trabalhadores, o valor aproximado de US$ 150 a 200 milhões de 'propina' ´proveniente de 90 contratos firmados com a Petrobras".

Para os investigadores, Duque era o diretor colocado pelo PT para efetivar a arrecadação de propina entre as 16 empresas do cartel que se organizou para afastar concorrência nas contratações da Petrobras. Vaccari afirmou que todas as contribuições obtidas por ele para o partido "foram absolutamente dentro da lei".

Ontem, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que vai acionar na Justiça o ex-gerente de Engenharia pelas afirmações de que o partido arrecadou até US$ 200 milhões em propina durante dez anos, em cerca de 90 contratos da Petrobras.

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