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Na tarde desta segunda (16), batuqueiros, amigos e familiares se despediram do Mestre Afonso, mestre da Nação de Maracatu de Baque Virado Leão Coroado. Afonso faleceu no último domingo (15), aos 70 anos, vítima de um infarte. Sua despedida foi ao som de cânticos sagrados da religião de matriz africana, o candomblé, e toadas da nação que ele comandou por mais de duas décadas.

O corpo de Mestre Afonso foi velado na sede do Leão Coroado, localizada no bairro de Águas Compridas, Olinda. Por volta das 15h30, um cortejo seguiu do local do velório até o Cemitério Público de Águas Compridas, onde houve o sepultamento. Por todo o caminho, batuqueiros da Nação Leão Coroado tocaram seus tambores em uma última homenagem ao seu mestre. Familiares, amigos e representantes de outras nações de maracatu de baque virado também acompanharam, a maioria vestindo branco e cantando loas.

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Afonso Aguiar assumiu a nação Leão Coroado em 1997, sucedendo um dos maiores mestres de maracatu de Pernambuco, Luís de França. Por pouco mais de duas décadas, Mestre Afonso conduziu a nação levando-a para diversos cantos do Brasil e do mundo, em apresentações e oficinas ministradas por ele. O Leão Coroado é uma das mais importantes e antigas nações em atividade no Estado e é reconhecida como Patrimônio Vivo.

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Na última quarta (17), foi celebrado o Dia do Patrimônio Histórico, e agremiações e artistas populares pernambucanos dos mais diversos segmentos, intitulados Patrimônios Vivos do Estado, receberam os diplomas que materializam a honraria em uma cerimônia no Teatro de Santa Isabel. O título, que hoje conta com 39 contemplados, além de homenagear estes representantes da cultura popular pernambucana, também se propõe a apoiar e perpetuar suas tradições, memórias e saberes. O Portal LeiaJá conversou com dois destes ícones culturais - o Mestre Galo Preto e o Maracatu Nação Leão Coroado - para conhecer suas realidades e entender como a titulação os ajudou, em termos práticos, no seu ofício de fazer cultura.

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O Mestre Galo Preto recebeu o título de Patrimônio Vivo em 2011. Ele é um dos mais tradicionais coquistas de Pernambuco e já contabiliza 73 anos de carreira, dentro dos quais teve a oportunidade de se apresentar em grandes programas da televisão nacional e importantes palcos Brasil afora. Para o Mestre, a titulação não trouxe mudanças efetivas mas, ainda assim, ser patrimônio é uma grande honra para ele: "Não mudou muito não. Mas eu me senti muito feliz em saber que meu trabalho foi reconhecido. É honroso", disse.

Para Galo, além do reconhecimento, a relevância da nomeação está no impulsionamento da carreira com a visibilidade e a facilidade em entrar na grade de eventos e festas populares, promovidas pelo Governo do Estado, sem a necessidade de passar por editais e burocracias. Ele também esteve na cerimônia de entrega dos diplomas e se emocionou por receber a homenagem em tão nobre palco: "Eu nunca pensei que o coco entraria no Teatro de Santa Isabel. A gente está fazendo uma coisa que tá chamando atenção", comemorou.

A Nação de Maracatu Leão Coroado, uma das mais antigas em atividade, com 153 anos de tradição, ostenta o título desde 2005. Localizada no bairro de Águas Compridas, em Olinda, a agremiação conta hoje com cerca de 100 integrantes - sendo 98% oriundos da própria comunidade - e já levou seu baque virado a diversos lugares do Brasil e do mundo. Herança do lendário mestre Luís de França, o Leão Coroado é comandado, desde 1997, pelo Mestre Afonso Aguiar. Para Afonso, ser considerado Patrimônio do Estado não é o bastante. "A gente recebe uma bolsa, mas o dinheiro não é tudo. Acho que falta um apoio do governo. Se é Patrimônio do Estado, então o Estado tem que ajudar e orientar. Não é manter o grupo, mas direcionar, dar escolaridade pro pessoal. E não tem nada disso", revela.

O Mestre também frisa a falta de atenção para com os contemplados com a honraria: "Só agora, em 2016, é que vieram dar o diploma. Porque até então não tinha nada que comprovasse", disse, em referência à cerimônia ocorrida no Teatro de Santa Isabel na última quarta (17), e lamentou: "Ninguém toma conta. Os que morrem, morrem desprezados. É um patrimônio desprezado". Afonso acredita que, para aqueles que levam o título, poderia haver uma equipe específica para elaborar medidas de apoio e manutenção de suas agremiações e ofícios: "Deveria ser criado um órgão para cuidar disso, com pessoas da cultura, que entendem dos processos". E complementa: "Ser Patrimônio é bom, mas tem essas fragilidades".  

Registro do Patrimônio Vivo é lei

Pernambuco é o primeiro Estado brasileiro a instituir a Lei do Registro do Patrimônio Vivo (nº 12.196, de 2 de maio de 2002). A iniciativa inédita visa preservar, valorizar e cuidar dos fazedores de cultura popular. Para concorrer ao título, os interessados devem se inscrever através de um edital anual que escolhe, com a avaliação do Conselho Estadual de Cultura (CEC), três nomes por ano - este número subirá para seis a partir de 2017 devido a uma mudança na lei, anunciada pela presidente da Fundarpe, Márcia Souto, durante a cerimônia de entrega dos diplomas aos já titulados, na última quarta (17). 

Para concorrer, os candidatos devem residir em Pernambuco há mais de 20 anos e comprovar sua participação em atividades culturais por este mesmo período de tempo. Os contemplados recebem uma pensão vitalícia - no valor de R$ 1.080,61 mensais para pessoas físicas e R$ 2.161,22 mensais para grupos - além da prioridade na participação em eventos e festas populares promovidas pelo Governo do Estado. Em 2016, foram nomeados os três Patrimônios Vivos mais recentes - a repentista Mocinha de Passira, a Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense e o cineasta Lula Gonzaga.

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