Na última quarta (17), foi celebrado o Dia do Patrimônio Histórico, e agremiações e artistas populares pernambucanos dos mais diversos segmentos, intitulados Patrimônios Vivos do Estado, receberam os diplomas que materializam a honraria em uma cerimônia no Teatro de Santa Isabel. O título, que hoje conta com 39 contemplados, além de homenagear estes representantes da cultura popular pernambucana, também se propõe a apoiar e perpetuar suas tradições, memórias e saberes. O Portal LeiaJá conversou com dois destes ícones culturais - o Mestre Galo Preto e o Maracatu Nação Leão Coroado - para conhecer suas realidades e entender como a titulação os ajudou, em termos práticos, no seu ofício de fazer cultura.
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O Mestre Galo Preto recebeu o título de Patrimônio Vivo em 2011. Ele é um dos mais tradicionais coquistas de Pernambuco e já contabiliza 73 anos de carreira, dentro dos quais teve a oportunidade de se apresentar em grandes programas da televisão nacional e importantes palcos Brasil afora. Para o Mestre, a titulação não trouxe mudanças efetivas mas, ainda assim, ser patrimônio é uma grande honra para ele: "Não mudou muito não. Mas eu me senti muito feliz em saber que meu trabalho foi reconhecido. É honroso", disse.
Para Galo, além do reconhecimento, a relevância da nomeação está no impulsionamento da carreira com a visibilidade e a facilidade em entrar na grade de eventos e festas populares, promovidas pelo Governo do Estado, sem a necessidade de passar por editais e burocracias. Ele também esteve na cerimônia de entrega dos diplomas e se emocionou por receber a homenagem em tão nobre palco: "Eu nunca pensei que o coco entraria no Teatro de Santa Isabel. A gente está fazendo uma coisa que tá chamando atenção", comemorou.
A Nação de Maracatu Leão Coroado, uma das mais antigas em atividade, com 153 anos de tradição, ostenta o título desde 2005. Localizada no bairro de Águas Compridas, em Olinda, a agremiação conta hoje com cerca de 100 integrantes - sendo 98% oriundos da própria comunidade - e já levou seu baque virado a diversos lugares do Brasil e do mundo. Herança do lendário mestre Luís de França, o Leão Coroado é comandado, desde 1997, pelo Mestre Afonso Aguiar. Para Afonso, ser considerado Patrimônio do Estado não é o bastante. "A gente recebe uma bolsa, mas o dinheiro não é tudo. Acho que falta um apoio do governo. Se é Patrimônio do Estado, então o Estado tem que ajudar e orientar. Não é manter o grupo, mas direcionar, dar escolaridade pro pessoal. E não tem nada disso", revela.
O Mestre também frisa a falta de atenção para com os contemplados com a honraria: "Só agora, em 2016, é que vieram dar o diploma. Porque até então não tinha nada que comprovasse", disse, em referência à cerimônia ocorrida no Teatro de Santa Isabel na última quarta (17), e lamentou: "Ninguém toma conta. Os que morrem, morrem desprezados. É um patrimônio desprezado". Afonso acredita que, para aqueles que levam o título, poderia haver uma equipe específica para elaborar medidas de apoio e manutenção de suas agremiações e ofícios: "Deveria ser criado um órgão para cuidar disso, com pessoas da cultura, que entendem dos processos". E complementa: "Ser Patrimônio é bom, mas tem essas fragilidades".
Registro do Patrimônio Vivo é lei
Pernambuco é o primeiro Estado brasileiro a instituir a Lei do Registro do Patrimônio Vivo (nº 12.196, de 2 de maio de 2002). A iniciativa inédita visa preservar, valorizar e cuidar dos fazedores de cultura popular. Para concorrer ao título, os interessados devem se inscrever através de um edital anual que escolhe, com a avaliação do Conselho Estadual de Cultura (CEC), três nomes por ano - este número subirá para seis a partir de 2017 devido a uma mudança na lei, anunciada pela presidente da Fundarpe, Márcia Souto, durante a cerimônia de entrega dos diplomas aos já titulados, na última quarta (17).
Para concorrer, os candidatos devem residir em Pernambuco há mais de 20 anos e comprovar sua participação em atividades culturais por este mesmo período de tempo. Os contemplados recebem uma pensão vitalícia - no valor de R$ 1.080,61 mensais para pessoas físicas e R$ 2.161,22 mensais para grupos - além da prioridade na participação em eventos e festas populares promovidas pelo Governo do Estado. Em 2016, foram nomeados os três Patrimônios Vivos mais recentes - a repentista Mocinha de Passira, a Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense e o cineasta Lula Gonzaga.
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