Tópicos | Nika Dias

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Com predominância masculina, a arte do graffiti tem sido cada vez mais pintada através de mãos femininas, que desafiam os estigmas e a sociedade e colorem as ruas com suas ideias. Para ser grafiteira, é necessária uma dose extra de coragem. Primeiro porque quem pratica essa arte toma os muros e ruas públicas muitas vezes sem autorização. E segundo porque elas batem de frente com os preconceitos sexistas, existentes em vários meios. Mas apesar da participação de mulheres nesta expressão artística ainda ser um pouco discreta, já há exemplos de que tal situação segue em mudança, como o aumento da presença delas em oficinas de grafitagem e da formação de coletivos, os chamados crews, compostos só por meninas – ou sem desconsiderá-las.

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Atuante em várias regiões do Brasil, a Flores Crew é um coletivo independente, formado em 2004, e que busca contribuir para uma sociedade menos desigual através do movimento Hip-Hop. Uma das integrantes do grupo, a grafiteira Gabi Bruce, comenta que ainda existe muita resistência em relação à presença feminina não só no graffiti, mas dentro do movimento como um todo. “Nós mulheres somos inviabilizadas dentro do Hip-Hop. Ainda existe aquela ideia patriarcal bem forte de que mulher é desunida e construir uma nova ideia, começar a puxar diálogo sobre outros tipos de educação não sexistas, é bem desafiador neste meio”, opina a grafiteira, que ao lado de outras três mulheres pintou na última quinta-feira (20) uma parede no bairro de Jardim Piedade, Jaboatão dos Guararapes. 

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Machismo no graffiti

Segundo Bruce, ir para a rua pintar é mais do que um ato artístico, é um grito de liberdade. “É a nossa voz mesmo, a autonomia de pegar as tintas e ir pra rua e pintar o que se quer. Porque até padrão de qualidade se coloca em cima do graffiti feito pela gente”, afirma Gabi Bruce, uma das meninas que pinta há mais tempo em Pernambuco, desde 2004. A marca de Bruce nas paredes é uma personagem criada por ela e que foi inspirada em mulheres negras, sempre com um penteado black power que “pode ser um céu, um mar ou estrelas. A ideia é mostrar que o cabelo da mulher negra é um universo de possibilidades”, explica. 

Recifusion colore mais uma vez o Recife com grafitagens

Quem também faz graffitis pelas ruas do Recife é Nika Dias, integrante da 33 Crew e da Várias Queixas Crew, coletivos locais de grafitagem. Na opinião de Nika, machismo por parte dos meninos que pintam paredes não existe. “Mas da sociedade ainda existe. Acontece muito da gente estar pintando e alguém comentar ‘ó, é uma menina’ e ficam me perguntando por que eu faço isso, enquanto que com os meninos a abordagem já é diferente”, comenta Nika, que embarcou nessa expressão ainda em casa, para depois fazer algumas oficinas e finalmente ir para as ruas. Na Av. Conde da Boa Vista, por exemplo, próximo ao Consulado Americano, há uma arte de Nika pintada numa parede. “O sonho de todo mundo era pegar esse muro. Um belo dia eu consegui pegá-lo num domingo e nesse dia eu e uns amigos passamos mais de 12h pra terminá-lo. Mas valeu a pena”, diz Nika, com um sorriso de satisfação.

Também integrante da Várias Queixas Crew, além do coletivo Borboletas de Passagem, Priscila Lima, de João Pessoa, que assina suas artes com o nome WITCH, conta como foi o seu envolvimento com a grafitagem. “Comecei a partir da pichação, em 2005. Fiz parte de uma crew de pichadores em João Pessoa e algumas pessoas começaram a fazer letras e desenhos nos muros, isso por volta de 2007. Em 2008 soube de uma oficina de graffiti e lá encontrei a Dedo Verde, pessoa que me ensinou mais técnicas e foi aprendendo junto comigo. Montamos uma crew, a Borboletas de Passagem, e pintamos juntas até hoje. Contando desde a pichação, são quase dez anos. Mas de grafitti são apenas seis”, explica Priscila Lima, conhecida por grafitar caveiras. 

Envolvimento das mulheres com a arte

Sobre o envolvimento das mulheres com a expressão artística, é unânime a opinião das três grafiteiras: há um considerável aumento da participação feminina nesse meio, apesar do caminho ser repleto de dificuldades. “Noto que o número de mulheres que grafitam cresceu bastante, principalmente no nordeste. Antes era bem mais difícil pintar nas ruas porque o graffiti não era considerado arte e os materiais de qualidade eram bem difíceis de encontrar”, opina Priscila Lima. 

“Tem aumentado, mas é por época. Há períodos em que as meninas estão bem fortes, mas existem aquelas baixas que acontecem quando elas casam, têm filhos, ou os pais não aceitam e as proíbem de sair de casa. Ainda há toda essa cobrança, retrato de uma sociedade patriarcal”, explica Nika. “Quando eu comecei só tinham duas pernambucanas que pintavam. E hoje Pernambuco é o estado do Nordeste que mais tem grafiteiras. Onde estão elas? Nas ruas todos os dias. Só não querem nos enxergar como não nos enxergam há muito tempo. Mas somos muitas e somos organizadas”, comenta Gabi Bruce.

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