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"Passo o dia limpando cocô", lamenta a protetora Verônica. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

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Para conseguir conversar com a reportagem, Verônica* se tranca no quarto, o único cômodo de seu apartamento, localizado na Zona Sul do Recife, que não foi destruído pelos cerca de 80 gatos que resgatou das ruas. Fora do compartimento, a protetora de animais, atualmente desempregada, só dispõe de móveis deteriorados, paredes sujas e um piso invariavelmente coberto de fezes. “Eu passo o dia limpando cocô, não tenho um minuto de sossego. Só quando falta material de limpeza, aí é outra agonia. O cheiro não sai só com água, dependo de doações”, comenta. Endividada e enfrentando quadro de depressão, Verônica experiencia uma situação descrita como comum pelos protetores residentes no Recife, que se queixam da morosidade da prefeitura na assistência aos animais de rua.

“Minha situação piorou depois que um pessoal entrou em contato me pedindo para socorrer os gatos que viviam em um hotel desativado em Boa Viagem. As pessoas tinham medo de o prédio ser demolido com eles lá dentro. Me prometeram que, se eu fizesse o resgate, me ajudariam com os custos de ração e saúde dos bichos. Alguns animais morreram, mas outros trinta e cinco ficaram comigo”, conta Verônica.

 Na tentativa de conter a proliferação da esporotricose, Verônica mantém os animais doentes em gaiolas. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

A ajuda financeira combinada, contudo, não vem dando conta dos altos custos com saúde e alimentação dos animais. “Oitocentos reais por mês para tantos gatos é muito pouco. Para piorar minha situação, alguns deles estão com esporotricose, uma doença contagiosa. O tratamento é feito com itraconazol de 100g, que agora está custando R$ 600 a mais na quantidade que compro, direto na distribuidora”, comenta.

Em um esforço desesperado no sentido de evitar a proliferação da esporotricose, Verônica mantém os gatos doentes em gaiolas. Ela mesma, contudo, já apresenta feridas causadas pela doença, transmissível para humanos. Falta dinheiro para o próprio tratamento. "Já devo pelo menos R$ 3 mil em ração que comprei fiada. Compro cerca de 140 kg por mês, dá mais de R$ 1 mil só de ração. Tem dias que não tenho o que comer”, lamenta. 

Protetora apresenta feridas na pele em razão de doença transmitida pelos gatos resgatados. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

Verônica também se queixa da dificuldade para conseguir agendar castração no Hospital Veterinário do Recife Robson José Gomes de Mello (HVR) , localizado no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste da capital pernambucana. “Nunca tive ajuda da prefeitura, nota zero. Eles só agendam uma castração por CPF, mas vivo com oitenta gatos resgatados. Como vou sair para o fim do mundo, pagando dinheiro que não tenho a Uber, para levar apenas um animal? Acabo fazendo em um veterinário por conta própria, pagando R$ 50 por operação”, conta.

Em processo depressivo, a protetora se diz arrependida de ter feito os resgates. “Choro todos os dias, porque não vejo saída para minha situação, estou sem autoestima, exausta. Às vezes, não tenho nem vontade de viver, meu medo é de morrer e deixar esses gatos sozinhos. Faço por amor, mas não dou mais lar temporário. Sinto muito pelos bichos”, desabafa.

Aumento do abandono

Protetores afirmam que pandemia de Covid-19 aumentou número de animais largados nas ruas e em mercados públicos. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

De acordo com o protetor Cláudio Braga, a pandemia de Covid-19 provocou o aumento do número de animais abandonados na Região Metropolitana do Recife. “Isso foi sentido por todos e se deve a coisas como as diversas informações falsas que circularam sobre os animais transmitirem o novo coronavírus. Além disso, a própria crise econômica levou muita gente a abandonar cães e gatos”, explica.

O cenário motivou uma reunião entre ativistas pelos direitos dos animais e a prefeitura do Recife. Presente no encontro, a vereadora Andreza Romero informou que, em levantamento promovido por seu gabinete, foi constatado o crescimento de 70% dos casos de abandonos de animais na capital pernambucana, durante o período de crise sanitária. “A vereadora nunca foi atrás de contato com as instituições, trabalha de forma individual com pessoas que a procuram pedindo isso ou aquilo. Enquanto isso, a prefeitura até hoje não possui uma ação mais efetiva no sentido de reduzir o número de abandonos e as dificuldades para se conseguir uma castração. Ninguém consegue atendimento pelos telefones que eles oferecem”, aponta Braga.

É por essa razão que, segundo o ativista, muitos protetores recorrem a clínicas particulares, acabando por criar dívidas. “Deveria haver um projeto de atendimento psicológico para essas pessoas, que já não conseguem cuidar dos animais, diante de uma demanda tão alta. Meu salário está comprometido, porque estou ajudando outros protetores. Vou deixar meus amigos passando fome?”, lamenta.

“Cheguei a comer a ração”

Renata alugou uma casa para viver com 42 animais resgatados. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

O sentimento de frustração diante da impossibilidade de suprir a alta demanda de acolhimento de animais de rua é compartilhado pela protetora Renata*, que também alugou uma casa para viver com 42 animais resgatados, dos quais 24 já foram adotados por outras famílias. “Eu devo aluguel, conta de água e luz. Me alimento porque meus vizinhos me dão comida. Um traz café da manhã, outro almoço, outro a janta. Eu já cheguei a comer a ração com os bichos”, relata.

A protetora costumava trabalhar vendendo bombons pelas ruas. “Com a pandemia, fiquei com medo de pegar Covid e desisti. Acho que minha situação estaria bem melhor se a prefeitura oferecesse ração para os protetores, assim como uma estrutura melhor de castração”, opina.

Renata também critica a atuação da vereadora Andreza Romero, que se elegeu em 2020, sob a promessa de transformar o HVR em unidade 24 horas, implementar o SAMU Animal, bem como de resgatar “todos os animais abandonados”. “Sabemos que isso não tem como acontecer, ninguém consegue tirar todos os bichos das ruas. Mas onde está o abrigo que ela prometeu? Essa vereadora não faz nada pelos animais, o que ela sabe fazer é pedir votos”, queixa-se.

Protetores denunciam dificuldade para conseguir agendar castração no Hospital Veterinário do município (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

Por meio de sua assessoria de imprensa, Andreza Romero informou que o abrigo para os animais de rua será construído com recursos próprios, oriundos de seu salário como vereadora. “Um projeto responsável como este, precisa ser bem planejado e executado. Está na fase de aquisição do terreno e o projeto do prédio já foi desenvolvido por arquitetos”, escreveu. A vereadora não respondeu sobre o prazo para entrega da estrutura.

Já a Prefeitura do Recife comunicou que, por meio da Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais (SEDA), está estruturando um plano de expansão do Hospital Veterinário do Recife, bem como a ampliação dos atendimentos oferecidos no local. “Entre as medidas, está previsto construir um novo bloco cirúrgico para aumentar o número de procedimentos, sala de internamento para os pets e dotar o equipamento público com atendimento 24 horas”, diz a nota oficial.

Abandonar animais é crime previsto pela Lei Federal nº 9.605/98. Vale lembrar que, em setembro do ano passado, foi sancionada a Lei Federal nº 14.064/20, que aumenta a pena de detenção de até um ano para até cinco anos para quem cometer este delito.

A prefeitura do Recife mantém um canal específico para denúncia de casos de abandono e violência animal, por meio do telefone 3355-8371, com funcionamento de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. As queixas também podem ser feitas através da Ouvidoria Geral da administração municipal, pelo telefone 0800-281-0040. A denúncias são analisadas em conjunto pela SEDA e pela Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (Depoma). De acordo com a prefeitura, de janeiro deste ano até o dia 30 de abril, a pasta já recebeu 291 denúncias de suspeitas de maus-tratos.

*Nome fictício

Empresa de bijouterias doou as tiaras para a confecção dos EPI's. (Divulgação)

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Nesta segunda (13), a Diretoria de Atenção Básica (DAB) da Secretaria de Saúde de Olinda recebeu 115 protetores faciais do grupo Protetor do Bem, formado por dentistas. Os equipamentos serão destinados aos profissionais de saúde das unidades do município.

De acordo com a diretora da DAB, Cintia Ruas, o recebimento do material foi fundamental e fruto de uma preciosa parceria. “Entrei em contato com a empresa A.J.C Bijouterias, que doou as tiaras, sendo o insumo entregue ao grupo Protetor do Bem, que confeccionou as máscaras”, explicou.

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