Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Costa de Oliveira acredita que os integrantes da Lava Jato - entre advogados, procuradores e magistrados - têm as mesmas origens, atuam em um “circuito fechado” que funcionaria, segundo ele, “em rede” familiar. De acordo com o sociólogo a avaliação é baseada em um estudo, que será apresentado no fim de maio, chamado “República do Nepotismo” e foi detalhado por ele durante uma entrevista ao site Agência Pública.
A pesquisa, detalha Ricardo Costa, utiliza a técnica da prosopografia (biografia coletiva de determinado grupo social ou político) para demonstrar que pessoas como o juiz Sérgio Moro, o procurador Deltan Dallagnol, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin e advogados ligados a operação são “herdeiros de figuras do Judiciário e da política paranaenses”.
##RECOMENDA##“Há um verdadeiro circuito que começa no Moro e vai até o Fachin. Todos com o mesmo perfil: família, ação política, conexões empresariais, com escritórios advocatícios, ideologia propensa à direita, de uma elite estatal muito antiga que opera em redes familiares”, declarou o professor ao site.
“É uma elite estatal hereditária porque eles apresentam parentescos no sistema judicial bastante significativos. Não apenas parentesco, mas também relações matrimoniais, de amizade e de sociabilidade. Há também a dimensão do corporativismo. Se forma um grande circuito formativo ideológico, de convivência, que tem determinados padrões e valores hereditários”, completou.
Ao mencionar o resultado da pesquisa sobre o Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em primeira instância, o professor salientou ele como uma figura central. “O próprio Sérgio Moro, uma figura central, filho de um professor universitário, tem como primo um desembargador, o Hildebrando Moro. Ter um parente no Tribunal de Justiça, para os códigos internos, faz muita diferença. Na nossa interpretação, é um sistema pré-moderno. Ele não funciona através de regras impessoais ou de aspectos técnicos, mas com muito poder pessoal. De modo que o ator, na magistratura, tem uma capacidade incrível de determinar a agenda, a temporalidade dos processos, no sentido de escolher os que quer acelerar e aqueles que serão adiados”, analisou.
Quanto aos procuradores da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF), o estudioso mencionou Carlos Fernando dos Santos Lima, “filho de Osvaldo Santos Lima, que foi procurador, deputado estadual da Arena e presidente da Assembleia Legislativa do Paraná em 1973. Ele também tem dois irmãos no Ministério Público”. Além de Deltan Dallagnol, “filho do ex-procurador Agenor Dallagnol, ele passou no concurso sem ter os dois anos de formado, o pai foi o advogado [na apelação da União, em que a Justiça deu vitória ao procurador]”.