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Uma legião de fãs e admiradores do ex-mutante Arnaldo Baptista lotou o Teatro de Santa Isabel na terceira noite da Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO), na última sexta-feira (7), para conferir a apresentação de um dos maiores ídolos do pop-rock brasileiro. Logo na entrada, já era de se esperar o frisson que a presença do cantor provocaria, devido à fila quilométrica que dava voltas no teatro para a distribuição das senhas, uma hora antes do espetáculo. Arnaldo trouxe para o Recife o show intitulado Sarau o Benedito?, em que canta e toca sozinho ao piano. O repertório contempla as várias fases de sua carreira, desde os Mutantes - banda que liderou nos anos 1960 com o irmão Sérgio Dias e a então mulher Rita Lee - à carreira solo, para a qual se dedicou nos anos 1970, lançando seis álbuns.

Ao entrar no palco, o roqueiro foi aplaudido de pé pela plateia. No fundo do palco, um vídeo-cenário com projeções de desenhos de suas obras como artista plástico. Quem esperava sucessos do aclamado Loki (1974), foi agraciado com Cê tá pensando que eu sou Loki? logo de cara. Em seguida, Não estou nem aí e Balada do Louco deixaram o público ainda mais excitado. No decorrer da apresentação, Arnaldo emendou canções diversas, entre elas, Jesus Back to Earth, Corta Jaca, Será que eu vou virar bolor?, I don't care e Walking in the sky - estas duas últimas inéditas do novo álbum Esphera - além de sucessos de seus ídolos Ray Charles, Bob Dylan, The Mamas and Papas e Elton John. 

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Mas o repertório vasto não garantiu a excelência do show. Totalmente desconcertadas e apáticas, as melodias pareciam estar sendo ensaiadas e não estabeleciam harmonia com a voz do cantor. A sensibilidade, a poesia e o caráter vanguardista do trabalho do ex-mutante já não aparecem com tanto vigor devido a um Arnaldo cansado de guerra. O artista transparece sequelas do tempo em que se dedicou à ala psicodélica da Tropicália, período em que se envolveu com drogas e desencadeou uma série de problemas psicológicos, além de ter enfrentado uma longa depressão.

Sem nenhum tipo de contato verbal com a plateia, apenas sorrisos, gestos de agradecimento e "mungangas" entre uma música e outra, Arnaldo fez um show sem criatividade e musicalmente precário. Melhor pianista do que cantor, o ex-mutante não estabeleceu um ritmo à apresentação, que ficou carente de pontos altos e sonoridade própria. A única comunicação com o público deu-se no final do show, quando o cantor repetiu Cê tá pensando que eu sou Loki? e agradeceu o momento antes de sair do palco: "Puxa, pessoal, adorei ficar aqui com vocês". Depois de ser aclamado para um bis, Arnaldo encerrou a noite com Blowing the Wind, de Bob Dylan.

A boa receptividade do público em geral explica-se pela trajetória musical do pianista, baixista e cantor, que se tornou um dos nomes mais influentes do pop-rock nacional e um dos autores mais originais da MPB, sem falar do longo tempo que não se apresentava no Recife. O caráter nostálgico da apresentação talvez tenha sido a grande ressalva do público, que vibrou com o espetáculo e não parava de pedir as músicas autorais.

Porém, houve quem reconhecesse falhas na apresentação do ex-mutante. "Eu não consegui entender as melodias que ele estabeleceu para as músicas. Faltou conexão nesse sentido, além de canções do próprio repertório", declarou Iaúca Cunha, 25 anos. O estudante de engenharia Alexandre Lins, 23 anos, também criticou a apresentação: "Achei um show improvisado. As músicas não tinham fluxo e nem melodia. A sonoridade deixou bastante a desejar." 

Em conversa com o LeiaJá, Arnaldo definiu a noite como "um improviso pesquisador" e elogiou o público recifense: "Aqui no Recife, a gente sente um grau de consciência diferente de outros lugares do Brasil, como Rio e São Paulo. O respaldo intelectual da cidade é muito forte". Ainda este ano, Arnaldo Baptista prevê o lançamento de seu novo álbum, Esphera, produzido por Fernando Catatau, do Cidadão Instigado.

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