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Nesta sexta (11), o Recife recebe um evento esperado há uma década por boa parte de seus moradores: a reabertura do Cineteatro do Parque. Após amargar 10 anos de portas fechadas, com o vai e vem de uma reforma grandiosa e delicada, um dos equipamentos culturais mais queridos dos recifenses, finalmente, voltará à ativa. 

Para marcar a devolução do espaço à cidade, haverá apresentação do espetáculo Vozes do Recife, da Companhia Fiandeiros de Teatro, para uma plateia de 100 convidados. Já no sábado (12), será exibido o filme O Canto do Mar, de 1952, também para um público reduzido. Porém, embora a data represente uma vitória para aqueles que tanto esperaram por ela, é impossível não lembrar o longo processo pelo qual passou o centenário Cineteatro do Parque até chegar aqui. 

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Flashback do Parque

Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Instalado no coração do centro do Recife - mais exatamente no número 81 da Rua do Hospício, no bairro da Boa Vista -, o Cineteatro do Parque foi inaugurado em 24 de agosto de 1915, então chamado de Theatro do Parque. O equipamento, sonhado pelo comendador português Bento Aguiar para ser um luxuoso local de fomento à cultura e entretenimento, foi entregue à população como um teatro de variedades, com apresentações de operetas e teatro de revista, além de contar com um belo jardim que transformou o espaço em uma verdadeira área de convivência. 

Um mês após sua inauguração, no entanto, o equipamento cultural passou a exibir filmes, e contemplou desde o cinema mudo - quando as fitas eram acompanhadas pela execução de música ao vivo -, ao apogeu do cinema falado, passando pelos ciclos do Cinema Pernambucano. Assim, o Parque tornou-se uma das salas de exibição mais frequentadas da capital pernambucana, com o diferencial de oferecer, anos mais tarde, entradas a preços populares, nas saudosas sessões de R$1. 

No final da década de 1920, o lugar passou por sua primeira intervenção. Arrendado pelo empresário Severiano Ribeiro, o teatro teve sua antiga estrutura modernizada com as novas tecnologias da indústria cinematográfica da época. Três décadas mais tarde, já com alguns problemas estruturais, o espaço passou a ser gerido pela Prefeitura do Recife, que providenciou uma pequena reforma na gestão do prefeito Augusto Lucena. 

Com o passar dos anos, e a pouca manutenção do equipamento, o Cineteatro do Parque foi definhando. Já nos anos 2000, o quase centenário casarão de estilo art-noveau apresentava diversos problemas, como danos na caixa cênica e nas partes hidráulica e elétrica. Em 2010, o equipamento cultural foi fechado pelo risco que imprimia ao público e aos artistas que lá se apresentavam. O derradeiro espetáculo no palco do teatro, no fim daquele ano,  foi um concerto da Banda Sinfônica da Cidade do Recife, cuja sede funcionava lá mesmo. E foi aí que se deu início a um verdadeiro calvário. 

Cerca de 11 meses após ter sido interditado, não havia sinal de qualquer reparo no Parque. Para piorar a situação, fortes chuvas que caíram no Recife, em 2011, causaram ainda mais estrago no espaço alagando a sala de espetáculos, fazendo ceder o forro de gesso do teto e ensopando ladrilhos e cerâmicas que seriam reaproveitados durante a reforma mas que, mesmo assim, haviam sido deixadas ao relento. 

A promessa da Prefeitura do Recife, à época, era entregar o equipamento no primeiro semestre de 2012. Inicialmente, a reforma do teatro estava prevista para custar cerca de R$ 1,5 milhão, e R$ 500 mil viriam de uma emenda parlamentar, mas ainda em 2011 esta verba foi contingenciada pelo governo federal. Logo em seguida, foi concedido ao complexo arquitetônico do Teatro do Parque o título de Imóvel Especial de Preservação - IEP, o que incluiu novos padrões para qualquer reforma ou restauração no espaço.

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O que se viu depois disso foram inúmeros imbróglios que impediram o Cineteatro do Parque de celebrar seus 100 anos junto ao público. Ainda que o então prefeito do Recife, Geraldo Júlio, afirmasse ser a cultura uma “prioridade na sua gestão”, o caminho de retomada do espaço percorreu licitações que não eram lançadas, intervenção do Ministério Público de Pernambuco, que ajuizou uma ação determinando a retomada das obras que sempre eram paralisadas logo após iniciarem, e muita luta de coletivos formados por artistas e sociedade civil, que chegaram a realizar um velório simbólico pelo lugar.

Depois da tempestade, a bonança

Após 10 anos de muita espera e angústia, o retorno do Cineteatro do Parque promete deixar no esquecimento a última década amarga. Isso porque o equipamento será entregue à população novinho em folha, depois de um longo e delicado processo de requalificação. O projeto, comandado pela arquiteta e gerente geral do Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura, Simone Osias, devolveu ao espaço as características de 1929, porém, acrescentou ao lugar modernos equipamentos cênicos, de som, iluminação e projeção, além de ferramentas de acessibilidade. 

A revitalização do Parque custou cerca de R$ 20 milhões aos cofres públicos e o desafio agora é manter o espaço preservado. Um Plano de Conservação e Utilização do Teatro será lançado ao passo que serão privilegiadas pautas e artistas locais em sua programação, de acordo com o presidente da Fundação de Cultura do Recife, Diego Rocha. “A gente vai lançar um edital de ocupação de pauta, esse edital vai dar chance para produtores e artistas acessarem essa pauta. A gente vai dar privilégio para a pauta local, os preços para as pautas de pernambuco e Recife vai ser menores do que para as  de fora, mas também vai ter espaço para todo mundo”, disse o gestor durante entrevista durante o anúncio da data de reabertura do espaço, no dia 24 do último mês de novembro.

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Teatro de volta ao povo

Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

A retomada de um dos equipamentos culturais mais queridos dos recifenses quer manter um de seus princípios mais famosos, o de ser um espaço democrático. Para tanto, a primeira apresentação realizada no Cineteatro foi exclusiva para os trabalhadores responsáveis pela sua reforma. Na última quinta (10), pedreiros, pintores, técnicos e outros especialistas que passaram pela restauração do espaço foram os primeiros a prestigiar uma sessão de projeção e dança no Parque. Acompanhados pelo prefeito Geraldo Júlio, e pela primeira-dama Cristina Mello, eles assistiram a um vídeo em sua homenagem e a uma apresentação dos alunos da Escola de Frevo.

Já nesta sexta, às 20h, uma solenidade oficial marcará a devolução do teatro à cidade. Por conta da pandemia do novo coronavírus, o evento precisou ser adaptado e limitado a um determinado número de pessoas. Sendo assim, o plano inicial de realizar um concerto da Banda Sinfônica precisou ser abandonado e será apresentado o espetáculo Vozes do Recife, da Companhia Fiandeiros de Teatro, apenas para 100 convidados.

No sábado (12), será a primeira oportunidade para o público matar a saudade do espaço cultural, com a exibição do filme O Canto do Mar, de 1952, do diretor Alberto Cavalcanti, às 16h. A película faz parte do acervo da cinemateca do Teatro do Parque. A sessão também terá um número reduzido de pessoas na plateia, por conta dos protocolos de segurança, e serão permitidos apenas 50 espectadores - além dos outros 50 convidados. Os ingressos serão distribuídos na bilheteria do teatro a partir das 15h.  

Já para aqueles que não puderem ou conseguirem visitar o cineteatro neste primeiro momento, haverá a oportunidade de conferir as novas instalações do equipamento até o final de dezembro. A partir da próxima segunda (14), o espaço estará aberto à visitação do público, das 9h às 12h. Os grupos não poderão exceder 10 pessoas, com intervalo mínimo de 30 minutos entre um grupo e outro. O uso da máscara será obrigatório.

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