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No dia 19 de março de 2020, o icônico letreiro do Cinema São Luiz - que informa aos transeuntes a programação semanal da sala na fachada do número 175 da Rua da Aurora (bairro da Boa Vista) - trocou os títulos que estavam então em exibição por uma mensagem de ‘até logo’. Era um momento de extrema gravidade em todo o mundo, com a chegada arrebatadora da pandemia do coronavírus, e o cinema, assim como tantos outros equipamentos culturais e serviços diversos da capital pernambucana, fecharam suas portas sem estimativa de retorno.

Quase dois anos se passaram e o letreiro do São Luiz, um dos últimos cinemas de rua a resistirem à chegada dos multiplex, continua ostentando o seu 'voltamos em breve'. Apesar da diminuição dos índices de internações e mortes por Covid no Recife e consequente relaxamento das normas de segurança que, inclusive, já colocaram outras salas de exibição em funcionamento pela cidade, o cinema tão querido por moradores e visitantes da 'Mauricéia' permanece fechado. 

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Outros cinemas recifenses retomaram suas operações desde meados deste ano. Algumas salas de exibição em shoppings como Tacaruna, Guararapes e Patteo de Olinda funcionam com algumas limitações desde junho. Já o Cinema da Fundação voltou a abrir as portas um pouco em seguida, no mês de agosto. Agora, depois da última atualização do Plano de Convivência com a Covid-19, anunciada nesta segunda (1º) pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), os cinemas pernambucanos poderão funcionar todos os dias da semana, sem restrição de horários, e com 100% de sua capacidade de ocupação. No entanto, é preciso fazer o controle vacinal do público a partir de uma plateia de 300 pessoas.

A nova liberação é animadora mas, os apaixonados pelo São Luiz - cinema  reconhecido pela programação que privilegia a produção audiovisual nacional e pernambucana e pelos preços mais acessíveis, mais chamados de ‘populares’ - terão que esperar até 2022 para voltarem a ver em seus letreiros títulos de filmes. De acordo com a assessoria da Fundarpe, órgão que gerencia o espaço, problemas técnicos em alguns equipamentos da sala impedem um pronto retorno de seu funcionamento.

Em nota enviada ao LeiaJá, a Fundarpe explica que “o cinema passa por manutenção no sistema de climatização da sala e reparo na placa de som, que apresentou defeito na última revisão mensal”. Além disso, o órgão afirma haver “um pregão eletrônico (licitação) em curso para compra de compressores para o ar-condicionado”. Tal processo demanda um certo tempo e cuidado pois são poucos os fornecedores disponíveis no país para a compra de peças específicas para o maquinário. A previsão é de que na próxima quarta (10) seja definida uma empresa vencedora no processo e que assim, “até o final de janeiro de 2022 sejam concluídos os reparos nesses equipamentos”. 

Ainda de acordo com a Fundarpe, durante esse tempo sem abrir ao público, o São Luiz vem passando por revisões periódicas em toda sua estrutura. Uma vez por semana e por mês, os equipamentos são ligados para checagem de seu funcionamento. A equipe fixa de trabalhadores do local não sofreu nenhuma baixa e, agora, com a retomada das atividades culturais, a administração do equipamento espera “receber propostas de produtoras e realizadores de festivais e mostras”. Por fim, mas não menos importante, não há previsão de “mudança na tabela de preços”. 

Além de sua importância para a cadeia do audiovisual local e nacional, e consequente fomento da cultura do cinema entre o público, o São Luiz é um símbolo da cidade do Recife e um espaço que guarda as memórias afetivas de várias gerações de recifenses. Com 67 anos de história, o equipamento cultural - que em 2008 ‘viu’ o prédio onde funciona ser tombado pelo Governo do Estado como Patrimônio Histórico -, figura como um dos poucos cinemas de rua remanescentes no país, funcionando, também, como ferramenta de resistência e valorização da sétima arte. Resta aos cinéfilos de plantão um pouco mais de paciência para que possam voltar a ocupar as poltronas de veludo vermelho desta emblemática e histórica sala de exibição.   


 

Nesta sexta (11), o Recife recebe um evento esperado há uma década por boa parte de seus moradores: a reabertura do Cineteatro do Parque. Após amargar 10 anos de portas fechadas, com o vai e vem de uma reforma grandiosa e delicada, um dos equipamentos culturais mais queridos dos recifenses, finalmente, voltará à ativa. 

Para marcar a devolução do espaço à cidade, haverá apresentação do espetáculo Vozes do Recife, da Companhia Fiandeiros de Teatro, para uma plateia de 100 convidados. Já no sábado (12), será exibido o filme O Canto do Mar, de 1952, também para um público reduzido. Porém, embora a data represente uma vitória para aqueles que tanto esperaram por ela, é impossível não lembrar o longo processo pelo qual passou o centenário Cineteatro do Parque até chegar aqui. 

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Flashback do Parque

Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Instalado no coração do centro do Recife - mais exatamente no número 81 da Rua do Hospício, no bairro da Boa Vista -, o Cineteatro do Parque foi inaugurado em 24 de agosto de 1915, então chamado de Theatro do Parque. O equipamento, sonhado pelo comendador português Bento Aguiar para ser um luxuoso local de fomento à cultura e entretenimento, foi entregue à população como um teatro de variedades, com apresentações de operetas e teatro de revista, além de contar com um belo jardim que transformou o espaço em uma verdadeira área de convivência. 

Um mês após sua inauguração, no entanto, o equipamento cultural passou a exibir filmes, e contemplou desde o cinema mudo - quando as fitas eram acompanhadas pela execução de música ao vivo -, ao apogeu do cinema falado, passando pelos ciclos do Cinema Pernambucano. Assim, o Parque tornou-se uma das salas de exibição mais frequentadas da capital pernambucana, com o diferencial de oferecer, anos mais tarde, entradas a preços populares, nas saudosas sessões de R$1. 

No final da década de 1920, o lugar passou por sua primeira intervenção. Arrendado pelo empresário Severiano Ribeiro, o teatro teve sua antiga estrutura modernizada com as novas tecnologias da indústria cinematográfica da época. Três décadas mais tarde, já com alguns problemas estruturais, o espaço passou a ser gerido pela Prefeitura do Recife, que providenciou uma pequena reforma na gestão do prefeito Augusto Lucena. 

Com o passar dos anos, e a pouca manutenção do equipamento, o Cineteatro do Parque foi definhando. Já nos anos 2000, o quase centenário casarão de estilo art-noveau apresentava diversos problemas, como danos na caixa cênica e nas partes hidráulica e elétrica. Em 2010, o equipamento cultural foi fechado pelo risco que imprimia ao público e aos artistas que lá se apresentavam. O derradeiro espetáculo no palco do teatro, no fim daquele ano,  foi um concerto da Banda Sinfônica da Cidade do Recife, cuja sede funcionava lá mesmo. E foi aí que se deu início a um verdadeiro calvário. 

Cerca de 11 meses após ter sido interditado, não havia sinal de qualquer reparo no Parque. Para piorar a situação, fortes chuvas que caíram no Recife, em 2011, causaram ainda mais estrago no espaço alagando a sala de espetáculos, fazendo ceder o forro de gesso do teto e ensopando ladrilhos e cerâmicas que seriam reaproveitados durante a reforma mas que, mesmo assim, haviam sido deixadas ao relento. 

A promessa da Prefeitura do Recife, à época, era entregar o equipamento no primeiro semestre de 2012. Inicialmente, a reforma do teatro estava prevista para custar cerca de R$ 1,5 milhão, e R$ 500 mil viriam de uma emenda parlamentar, mas ainda em 2011 esta verba foi contingenciada pelo governo federal. Logo em seguida, foi concedido ao complexo arquitetônico do Teatro do Parque o título de Imóvel Especial de Preservação - IEP, o que incluiu novos padrões para qualquer reforma ou restauração no espaço.

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O que se viu depois disso foram inúmeros imbróglios que impediram o Cineteatro do Parque de celebrar seus 100 anos junto ao público. Ainda que o então prefeito do Recife, Geraldo Júlio, afirmasse ser a cultura uma “prioridade na sua gestão”, o caminho de retomada do espaço percorreu licitações que não eram lançadas, intervenção do Ministério Público de Pernambuco, que ajuizou uma ação determinando a retomada das obras que sempre eram paralisadas logo após iniciarem, e muita luta de coletivos formados por artistas e sociedade civil, que chegaram a realizar um velório simbólico pelo lugar.

Depois da tempestade, a bonança

Após 10 anos de muita espera e angústia, o retorno do Cineteatro do Parque promete deixar no esquecimento a última década amarga. Isso porque o equipamento será entregue à população novinho em folha, depois de um longo e delicado processo de requalificação. O projeto, comandado pela arquiteta e gerente geral do Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura, Simone Osias, devolveu ao espaço as características de 1929, porém, acrescentou ao lugar modernos equipamentos cênicos, de som, iluminação e projeção, além de ferramentas de acessibilidade. 

A revitalização do Parque custou cerca de R$ 20 milhões aos cofres públicos e o desafio agora é manter o espaço preservado. Um Plano de Conservação e Utilização do Teatro será lançado ao passo que serão privilegiadas pautas e artistas locais em sua programação, de acordo com o presidente da Fundação de Cultura do Recife, Diego Rocha. “A gente vai lançar um edital de ocupação de pauta, esse edital vai dar chance para produtores e artistas acessarem essa pauta. A gente vai dar privilégio para a pauta local, os preços para as pautas de pernambuco e Recife vai ser menores do que para as  de fora, mas também vai ter espaço para todo mundo”, disse o gestor durante entrevista durante o anúncio da data de reabertura do espaço, no dia 24 do último mês de novembro.

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Teatro de volta ao povo

Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

A retomada de um dos equipamentos culturais mais queridos dos recifenses quer manter um de seus princípios mais famosos, o de ser um espaço democrático. Para tanto, a primeira apresentação realizada no Cineteatro foi exclusiva para os trabalhadores responsáveis pela sua reforma. Na última quinta (10), pedreiros, pintores, técnicos e outros especialistas que passaram pela restauração do espaço foram os primeiros a prestigiar uma sessão de projeção e dança no Parque. Acompanhados pelo prefeito Geraldo Júlio, e pela primeira-dama Cristina Mello, eles assistiram a um vídeo em sua homenagem e a uma apresentação dos alunos da Escola de Frevo.

Já nesta sexta, às 20h, uma solenidade oficial marcará a devolução do teatro à cidade. Por conta da pandemia do novo coronavírus, o evento precisou ser adaptado e limitado a um determinado número de pessoas. Sendo assim, o plano inicial de realizar um concerto da Banda Sinfônica precisou ser abandonado e será apresentado o espetáculo Vozes do Recife, da Companhia Fiandeiros de Teatro, apenas para 100 convidados.

No sábado (12), será a primeira oportunidade para o público matar a saudade do espaço cultural, com a exibição do filme O Canto do Mar, de 1952, do diretor Alberto Cavalcanti, às 16h. A película faz parte do acervo da cinemateca do Teatro do Parque. A sessão também terá um número reduzido de pessoas na plateia, por conta dos protocolos de segurança, e serão permitidos apenas 50 espectadores - além dos outros 50 convidados. Os ingressos serão distribuídos na bilheteria do teatro a partir das 15h.  

Já para aqueles que não puderem ou conseguirem visitar o cineteatro neste primeiro momento, haverá a oportunidade de conferir as novas instalações do equipamento até o final de dezembro. A partir da próxima segunda (14), o espaço estará aberto à visitação do público, das 9h às 12h. Os grupos não poderão exceder 10 pessoas, com intervalo mínimo de 30 minutos entre um grupo e outro. O uso da máscara será obrigatório.

Nesta terça-feira (27), a cidade de São Paulo vai receber o Cinema de Rua, projeto realizado em parceria com o Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo é exibir filmes de curta e média metragem nacionais e internacionais, ao ar livre, na praça ao lado do prédio.

Projeto será realizado a cada duas semanas, sempre às terças, às 19h. Na rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque, São Paulo.

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Confira abaixo os filmes da primeira sessão do Cinema de Rua:

H2OBBy, de Flavia Trevisan;

A Galinha que Burlou o Sistema, de Quico Meirelles;

O Estacionamento, de Willian Biagioli;

Quando os Dias Eram Eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos;

The Box, de Camila Coutinho;

Pele de Pássaro, de Clara Peitier;

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