Tópicos | Todo Duro x Holyfield

A rivalidade que virou filme. O histórico duelo entre os boxeadores nordestinos Luciano Todo Duro e Reginaldo Holyfield já tem data para ganhar as telas do cinema. O documentário ‘A Luta do Século’ terá sua primeira exibição no próximo dia 10 de outubro, durante o Festival de Cinema do Rio de Janeiro. O documentário dirigido por Sérgio Machado acompanhou toda a trajetória dos confrontos que marcaram o boxe em Pernambuco e na Bahia, desde a primeira luta até a última quando os cinquentões voltaram ao ringue em agosto de 2015 para desempatar o duelo e garantir o capitulo final do filme.

A primeira exibição do longa será aberta apenas para convidados e contará com a presença dos dois lutadores em um ambiente diferente dos que estavam acostumados a se encontrar. O pernambucano, inclusive, já tem viagem marcada nesta semana para o Rio de Janeiro. Eternizando a rivalidade, ele não mantém a modéstia quanto à qualidade do filme. “Para mim e para Pernambuco foi muito importante a gravação desse filme. Tenho certeza que vai ser um dos melhores filmes brasileiros que vai para as telas não só do Brasil, mas do mundo. Irei assistir no Rio e estou ansioso por esse momento”,  revelou Todo Duro ao Portal LeiaJá.

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Porém, nem com o clima festivo de estreia do filme o boxeador perdeu a postura provocativa quanto ao adversário baiano e aproveitou para destacar, mais uma vez, o maior número de vitórias que tem sobre Holyfield. “Eu quero ver nos telões do cinema a pisa que dei no meu filho Holyfield. Ele é meu filho, mas é muito teimoso. Já dei quatro pisas bem dadas nele e ele não se ajeitou ainda”, brincou.

Se toda vez que os lutadores se encontram, é briga na certa. Todo Duro avisa que nas salas do cinema não será diferente, por isso é bom manter os dois bem distantes. “Vamos estar lá, ele longe de mim uma légua, porque se ele estiver perto vai me apanhar de novo. Ele tem que obedecer o pai dele”, alfinetou. Após a estreia no dia 10, o filme ainda terá exibições nos dias 11 e 12 no Festival.

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Todo Duro é folclórico. O principal nome da história do boxe pernambucano não faz um personagem. Ele o é sem figuração. Completamente espontâneo, o pugilista agradece o apoio do povo pernambucano - além da imprensa pela cobertura - na Luta do Século por um momento inédito na carreira. Medo? Apenas um: parar. O boxeador de 50 anos sequer cogita pendurar as luvas e já se prepara para a revanche contra o baiano Reginaldo Holyfield, em dezembro, em Salvador.

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Luciano Horácio Torres mora na parte de cima de um duplex simples na Vila do Vintém, em Casa Forte, Zona Norte do Recife. Vive com a irmã, uma das três filhas e os netos – os quais apresenta como filhos. Todo Duro não é um personagem só da porta para fora. Dentro da casa a personalidade é a mesma. Sem as luvas vem o lado afável do boxeador e até resmungão.

O pugilista conta que faz treinos diários em três turnos e não escapa da ‘marcação cerrada’ das filhas. “Não dá para escapar (dos compromissos). Se eu não apareço, o empresário liga para elas e o carão vem por telefone”, conta. Mas o que realmente incomoda Todo Duro é a possibilidade de abandonar os ringues. “Eu tenho saúde, tou bonzinho aqui”, justifica. E completa: “Se botar aqueles meninos do UFC contra mim tu vai ver, é pau”.

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Se as lutas em Pernambuco não recebem o destaque necessário, é possível dizer até que o boxe existe um degrau abaixo. Esmagado inclusive pela popularização do MMA. Ainda assim, Todo Duro diz que não é por falta de talentos. Traído pela memória, o pugilista revela que alguns atletas têm a carreira castrada pela falta de incentivo, seja público ou privado.

Apesar de ser um esporte olímpico e o Brasil estar a menos de um ano dos Jogos do Rio de Janeiro, não existe investimento no boxe. A Luta do Século, por exemplo, recebeu apoio apenas da Prefeitura do Recife e foi ignorada pelo Governo do Estado.

A situação em que vive Luciano Horácio Torres é não só culpa da má administração das próprias finanças, mas também do reflexo de como o esporte definha na Terra dos Altos Coqueiros. O oposto da situação na Bahia – que sempre tem representantes na seleção brasileira, como atualmente Everton Lopes, Robson Conceição e Robenilson de Jesus, que estiveram em Londres-2012. Se Todo Duro venceu Holyfield nos pontos na noite da Luta do Século, os baianos nocauteiam Pernambuco diariamente na valorização do boxe.

Era o início do sexto - e último - round e Todo Duro mais ofegava e recuava do que usava os punhos para manter a distância do adversário. O público, no Clube Português (Zona Norte do Recife), iniciou os gritos de “ah, é Todo Duro”. O ainda pugilista, de 50 anos, partiu para cima do arquirrival, Reginaldo Holyfield, com um cruzado. E outro. Depois mais dois socos. A plateia mudou o canto para: “O campeão voltou”. E ele continuou golpeando até o sino apontar o fim do assalto. O pernambucano deixou o corpo cair nas cordas, olhando para cima, rindo, sem fôlego. Curtindo o momento e o que viria a se tornar, após decisão dos juízes, a quarta vitória. Mas, nesta terça-feira (11), o “estraçaiado” da vez não foi o baiano, mas sim o ceticismo dos que argumentavam contra a folclórica Luta do Século.

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Todo Duro deu as caras pela primeira vez na Luta do Século logo cedo. De blazer e calça social, como chegou ao local, o boxeador foi até o ringue e, descontraído, ensaiou alguns golpes que daria no arquirrival baiano. Foram oito cards preliminares até o principal – a maioria deles formado por lutadores especializados em outras artes marciais, não apenas pugilistas. Já o baiano só apareceu na hora H, acompanhado pela equipe e encoberto pela bandeira do estado da Bahia.

Holyfield foi completamente hostilizado pelo público. Ouviu o “uh, vai morrer” e algumas palavras até de baixo escalão. Mas não perdeu a cabeça em momento algum. Avançou entre as cordas, entretanto, sem as luvas. Porque foi pedido de um dos organizadores, ainda no vestiário, para tentar conter um possível combate contra Todo Duro antes da autorização do juiz. O pernambucano subiu acompanhado por muitos. Além da equipe, as filhas, alguns amigos e também o maior organizador do evento, Vicente Cassemiro. 

Com os dois frente a frente, então, começaria o que já estava “ensaiado”. Dois senhores de cinquenta anos que voltaram aos ringues mais para atuar e se estabilizar financeiramente do que para disputar o desempate secular, certo? Não. Se assim for, a WWE (World Wrestling Entertainment) – principal empresa das lutas “ensaiadas” no mundo – não sabe o que perde com dois gigantes do Nordeste Brasileiro. Ou talvez tenham só esquecido de avisar a Todo Duro e Holyfield. Porque aquilo foi completamente imprevisível. Foi luta, foi boxe e foi emocionante, apesar das limitações físicas de ambos.

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O tempo de luta foi roubando o vigor dos dois. A cada minuto os passos e murros se tornavam mais lentos, porém mais efetivos. No terceiro round, Todo Duro acertou o primeiro soco certeiro que fez voar o protetor bucal de Holyfield – típica cena de fim de filme de ação – e a trocação foi interrompida pelo juiz. Durante o confronto, a cena ainda se repetiu por mais umas cinco vezes. O baiano foi penalizado por duas vezes pelo árbitro por parar o combate durante o quarto e quinto assaltos. Até o último, quando o pernambucano conseguiu encaixar a sequência, levantou a plateia e venceu o arquirrival por decisão.

Primeiro,Todo Duro não queria mais sair do ringue. Quando o quis já era tarde, o público tinha pulado as cordas e invadido para comemorar com o lutador. Um lado do local até cedeu pelo peso, mas não estragou a festa. Exausto, o lutador só conseguiu dizer poucas palavras, dentre elas um esbaforido: “Estraçaiei”. Estraçaiou, não tanto Holyfield (já que o confronto foi bem equilibrado), mas principalmente os céticos. Os que foram ao Clube Português deixaram o local, sem dúvida, satisfeitos com a Luta do Século. Os que não foram talvez nunca se convençam. Eu estou convencido. E em dezembro tem mais, a revanche em Salvador.

VEJA ABAIXO VÍDEO DO ÚLTIMO ROUND DA LUTA DO SÉCULO

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