Tópicos | V Janela Internacional de Cinema do Recife

O V Janela Internacional de Cinema do Recife chegou ao fim no  último domingo (18), tendo como destaque na programação o clássico Lawrence da Arábia de David Lean, além da mostra Quinzena do Realizadores, que acontece paralela ao Festival de Cannes, na França, e exibiu, no Cinema São Luiz, os curtas Thermidor, de Virgil Vernier; O sonho de Poliphile, de Camille Henrot e Boro na caixa de Bertrand Mandico. Já no Cinema da Fundação, o último dia do Festival foi marcado pela realização do Cineclube Dissenso com a exibição de Flor de Abril de Cícero Filho e em seguida, a sessão de curtas premiados.

Na mesma noite, foram anunciados os curtas-metragens vencedores das mostras competitivas internacionais e nacionais, que receberam a premiação informalmente no último sábado (17) durante a festa de encerramento do evento, a Festa Cubana do Janela, no Edifício Tebas. Foram dez dias de programação que levaram multidões ao centro do Recife, sobretudo ao Cinema São Luiz, consagrado como "a casa" do Janela.

Um dos destaques deste ano foi a exibição dos Clássicos do Janela, que emplacou uma sequência de sessões lotadas por espectadores que foram rever Tubarão de Steven Spielberg, Taxi Driver de Martin Scorsese, A Noviça Rebelde de Robert Wise e Psicose de Alfred Hitchcock, em cópias novas de alta qualidade de imagem e som, exibidos em DCP via sofisticado equipamento de projeção. 

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Uma das criadoras do Janela, Emilie Lesclaux, considera um momento histórico curioso este em que o digital através do DPC vem tomando o espaço de exibição. Segundo o curador do Festival, Kléber Mendonça Filho, não houve economia nos equipamentos, uma vez que considera essencial a excelência na exibição dos filme.

Evento - Em mais um ano, o Janela Internacional de Cinema se consolida no calendário cultural da cidade como a grande vitrine do cinema local e nacional, além de realizar parcerias internacionais na prática de mostras como o Panorama Alemão, a Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, na França e o Festival de Curtas de Vila do Conde, Portugal.

Outro momento especial foi o espaço reservado para a produção local, com exibições de filmes que ainda vão entrar em cartaz, mas que obtiveram uma ótima recepção do público: Boa sorte,  meu amor, de Daniel Aragão - filme de abertura - Eles voltam de Marcelo Lordello e Doméstica de Gabriel Mascaro, todos premiados em importantes festivais nacionais e internacionais.

O Festival ainda se destacou pela veiculação de vinhetas antes de algumas sessões, que foram compartilhadas na internet e tornaram-se motivo de discussão no que diz respeito a reconstruir a ideia de utilizar os espaços públicos. Uma das mais elogiadas foi NINGUÉM, que defende o São Luiz e o centro da cidade como espaços de cultura, questionando o ato de ir ao cinema, que pode ser restrito aos shoppings.

Este ano, o V Janela Internacional de Cinema do Recife atraiu cerca de 12 mil expectadores e transcorreu sem nenhuma sessão cancelada, projeção digital e som perfeitos, num ano que viu apenas 20% dos filmes exibidos passarem no tradicional formato 35mm. Para Kléber, um das metas para o próximo ano é contar com mais salas de exibição e assim, garantir mais espaço na grade do festival, que atualmente está precisando crescer.

Confira a lista dos filmes premiados:

PREMIAÇÃO - V JANELA INTERNACIONAL DE CINEMA DO RECIFE

1. PRÊMIO DA FEPEC - Federação Pernambucana de Cineclubes

Formado por: Carlos Silva, Ludimilla Wanderley e Pietro Félix

Competição nacional: A onda traz, o vento leva, de Gabriel Mascaro (Pernambuco)

Competição internacional: Dag (Adeus), de Tamar Van den Dop (Holanda)

2. PRÊMIO DA ABD/PE - Associação Brasileira de Documentaristas

Formado por: Iomana Rocha, Germano Rabello e Felipe André.

" Distintos olhares sobre como o sistema - em suas relações sociais e de trabalho - afetam incisivamente a subjetividade humana, gerando reações e catarses por vezes surpreendentes. Dois personagens em crise. corpos diluidos, oprimidos pelas misérias ( reais e simbolicas) que o sistema lhes proporciona. Por explorar sensivelmente estas relações, cada um a sua maneira, de como o sistema afeta e é afetado pela subjetividade humana, o Júri da ABD/PE, no V Janela de Cinema, concede os prêmios de melhor curta internacional à The Mass of Men, de Gabriel Gauchet, e de melhor curta nacional à Animador, de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet."

Internacional: The Mass of Men, de Gabriel Gauchet  (Reino Unido)

Nacional: Animador, de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet (São Paulo)

3. PRÊMIO DA OFICINA JANELA CRÍTICA

Formado por: Bruno Alves Ferreira, Elilson Gomes do Nascimento, Luciano Viegas da Silveira, Mário Rolim, Maria Olivia Silva de Souza, Rodrigo Silva Pereira e Mariana Vieira Gregorio

Melhor curta brasileiro: Quem tem medo de Cris Negão? de René Guerra (São Paulo)

Sem nunca chegar a ter certeza sobre a existência de Cris Negão, somos envolvidos nos relatos performáticos que transignificam a personagem e também o discurso em que se inscreve. René Guerra é sensível tanto como cineasta quanto como ouvinte, a imaginação dele e a nossa brincando juntas, inebriados como estamos pelas palavras das maiores contadoras de histórias da noite de São Paulo.

Melhor curta estrangeiro: The Mass of Men de Gabriel Gauchet (Reino Unido)

Ao desnudar as circunstâncias estruturais da organização do trabalho, Gabriel Gauchet relembra que permanecemos uma massa humana em desespero silencioso, suscetível a dar voz à mais feroz das violências. The mass of men nos arrebata com discurso, argumento e imagem, cuja força cinética deixa uma sensação de único filme, como se não houvesse equivalência emocional possível.

4. JURI INTERNACIONAL

Formado por:  Moacir dos Anjos (pesquisador e coordenador de artes visuais da Fundação Joaquim Nabuco); o cineasta Marcelo Caetano, vencedor de Melhor Curta Brasileiro no Janela do ano passado;  e a cineasta Renata Pinheiro.

Melhor Som: Rafa, de João Salaviza (Portugal)

Por definir a decupagem a partir da tomada de pontos de vistas sonoros essenciais para a narrativa; pelo uso do extra-campo para estabelecer relações de poder entre personagens; pela construção de uma ambiência de cidade que preenche a jornada solitária do protagonista. O prêmio de melhor som vai para “Rafa” de João Salaviza.

Melhor Montagem: O Que Arde Cura, de João Rui Guerra da Mata (Portugal)

Por executar com ritmo e sensualidade a difícil tarefa de montar um monólogo; por articular memória histórica e lembranças pessoais em camadas que se sobrepõe em uma narrativa de exuberante teatralidade; o prêmio de melhor montagem vai para “O que arde cura” de João Rui Guerra da Mata

Melhor Imagem: Manhã de Santo Antônio, de João Pedro Rodrigues (Portugal)

Pela rigorosa construção de planos em enquadramentos pouco óbvios, pelo equilíbrio da luz que transforma uma manhã de sonhos românticos em uma melancólica marcha de mortos-vivos.  O prêmio de melhor imagem vai para “Manhã de Santo Antônio” de João Pedro Rodrigues.

Premio especial do júri: Les Cheveux Courts, Ronde (Cabelo Curto, Gordinha e Baixinha), Petite Taille, de Robin Harsch (Suíça)

Por utilizar a linguagem cinematográfica para superar o luto da perda da mãe, em uma narrativa extremamente pessoal e ao mesmo tempo de potente universalidade, o júri concede uma menção honrosa ao emocionante filme “Cabelo Curto, Gordinha e Baixinha” de Robin Harsch.

Melhor filme: Rodri, de Franco Lolli (França)

Pela construção ambígua das relações de uma família de classe média; por não esbarrar em pudores ao explorar os conflitos entre personagens; pela impecável direção de atores que provoca os corpos a interpretarem com intensidade a história de um personagem deslocado dentro da ordem burguesa; o prêmio de melhor filme vai para “Rodri” de Franco Lolli.

5. JURI NACIONAL

Formado por: André Dib, jornalista, pesquisador e crítico de cinema; o cineasta Sérgio Borges; e o cineasta Marcelo Lordello

O júri reconhece o alto nível da seleção apresentada pelo Janela Internacional de Cinema do Recife. Em sua maioria, são filmes fortes, o que tornou nosso trabalho ainda mais desafiador. Deste conjunto, elegemos filmes cujo mérito é maior do que suas premiações específicas.

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI -  O Duplo, de Juliana Rojas (São Paulo)

Pelo exímio controle e rigor no uso da linguagem cinematográfica, por respeitar o mistério como posicionamento contra a banalização do gênero e por criar uma analogia formal com o tema e assim, se abrir para o seu duplo, o júri concede o prêmio especial para “O Duplo”, de Juliana Rojas.

MELHOR SOM - A Onda Traz, O Vento Leva, de Gabriel Mascaro (Pernambuco)

Por expandir o uso do som enquanto objeto da matéria fílmica a partir da experiência de transfiguração sonora conduzida pelo personagem e assim propor ao espectador outras possibilidades de se relacionar com os seus sentidos, o júri concede o prêmio de Melhor Som para “A onda traz o vento leva”, de Gabriel Mascaro.

MONTAGEM - Sobre o Abismo, de André Brasil (Minas Gerais)

A partir de um olhar pessoal, a obra se apropria de imagens alheias e as  rege por um fluxo de pensamento com liberdade de criação que constrói um discurso íntimo sobre sentir o cinema. Ao concatenar filmes, estabelece ideias, tom e ritmo próprios, e se torna um. O júri concede o prêmio de Melhor Montagem para “Sobre o Abismo”, de André Brasil.

MELHOR IMAGEM - Porcos Raivosos, de Isabel Penoni e Leonardo Sette (Pernambuco)

Oca em construção, espaço ocupado por processos de criação conjunta.  Reinvenção estética da potência de uma cultura. Consciência coletiva da representação e da autoria no jogo do cinema. O júri concede o prêmio de Melhor Imagem para “Porcos Raivosos”, de Isabel Peroni e Leonardo Sette.

MELHOR FILME - Sobre o Abismo, de André Brasil (Minas Gerais)

Por traduzir com maestria o risco da crença na potência da arte que escolhemos como vida, pelo elogio às imagens que inquietam e aprofundam nossa experiência no mundo e pelo ato incondicional de amor ao cinema, o júri concede o prêmio de Melhor Filme para “Sobre o Abismo”, de André Brasil. Porque, alguém disse, acreditamos que as imagens podem nos salvar, mesmo que aqui do lado de fora, a catástrofe seja iminente.

 

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