Conhecida em Salvador como o 'Anjo bom da Bahia', Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, a irmã Dulce, dedicou sua vida dentro e fora do convento a ajudar os mais pobres e doentes. A freira, que ganhou fama pela bondade e caridade, 'multiplicou-se' em várias pessoas para poder prosseguir com seus ideais. Trechos da trajetória da religiosa são retratados no longa Irmã Dulce, que em alguns momentos emociona.
Apesar de momentos da infância de irmã Dulce serem retratados em alguns flashs do filme, o longa é dividido basicamente em duas fases de sua vida. Na fase mais jovem, a freira é interpretada por Bianca Comparato até os anos 1960. Regina Braga vive a religiosa até os anos 1980. Apesar de ensaios rigorosos em que ambas atrizes estavam sempre presentes na filmagem das duas, ainda é possível perceber um pequeno deslize na mudança da intérprete de irmã Dulce. Quando jovem, Bianca reproduz uma imagem mais delicada da freira. Com a mudança da atriz, Irmã Dulce parece mais rígida, por exemplo.
##RECOMENDA##A trama tem direção de Vicente Amorim (Corações Sujos) e produção da Midgal Filmes (Minha Mãe é uma Peça) e dá ênfase a momentos que marcaram a trajetória da freira. Um dos pontos positivos da cinebiografia é que ela se propõe a dar ouvidos à história que Irmã Dulce gostaria que fosse passada ao público. De forma que em algumas cenas do longa, atitudes da freira que eram muito criticadas na épocasoam para o espectador de forma romantizada, com o intuito de dar voz aos anseios da freira. Invasão de propriedades privadas, apatia mediante a furtos e até mesmo tentativa de homicídio são algumas das polêmicas que marcam a trajetória de Dulce.
A fotografia do filme é de extrema qualidade. Gustavo Hadba, diretor de fotografia, busca sempre apresentar ao espectador ângulos que não soam clichê. "A ideia foi trazer simbolismos para dentro da fotografia do filme, pois existe a realidade e o simbólico da realidade. E quando conseguimos exercer corretamente essa mistura, é sinal que a fotografia está no caminho certo", comenta o diretor.
"Tudo seria melhor se houvesse mais amor", dizia irmã Dulce. No longa, a frase marcante da indicada ao Prêmio Nobel da Paz é bastante presente na formulação das cenas. A beata chega a afrontar por diversas vezes as regras da igreja católica para conseguir concretizar o seu desejo de um mundo com mais afeto. A luta contra o machismo e a sobreposição da mulher também é algo que está presente na cinebiografia. Por vezes, a freira tinha suas causas diminuídas por ser uma mulher e não poder estar em situações de risco ajudando o próximo.
De forma brilhante, o roteiro do filme não se propõe a desvendar o universo católico das freiras. Não se trata de um filme religioso, mas sim de uma história de uma das mais importante figuras na luta pelas causas sociais.
Apesar da melhor interpretação de irmã Dulce por Bianca, é na figura de Regina que as maiores emoções do filme são retratadas. A figura do menino João (Lisandro Oliveira/Amaurih Oliveira), abandonado na porta do Convento Santo Antônio, que acompanha a trajetória da freira através dos anos é um dos pontos que mais causa comoção na história. Um amor sem limites, como um amor de mãe entre irmã Dulce e João.
A cinebiografia peca por vezes em se ater de forma excessiva ao diálogo expositivo, faltando profundidade no roteiro da trama. Algumas passagens são rápidas e se tornam soltas no filme. Nos personagens, falta ainda um maior grau de profundidade psicológica. Apesar disso, a trama ainda sim consegue manter o espectador preso à história que conta.
É um filme em que o roteiro, embora raso, é muito bonito pela história de vida da Irmã Dulce. A ideia de que ela foi uma guerreira e lutou pelos pobres, sem se importar com consequências é passada ao público com maestria e quem não conhecia a história da freira que mudou os rumos da sociedade baiana, passa a conhecer de maneira fiel e bem engajada.
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