Inácio Feitosa

Inácio Feitosa

Direito, Educação e Cidadania

Perfil: Advogado e Presidente da Comissão de Direito Educacional da OAB-PE.

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A crise do saber

Inácio Feitosa, | qui, 27/10/2011 - 12:48
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Os efeitos da exclusão do saber estão em todos os lugares. Vão desde a criança reprovada na escola pública, mas, mesmo assim, promovida à série seguinte para que sua vaga seja ocupada por outra pessoa, ao adulto, que é desligado do seu emprego por não dominar a tecnologia, chegando ao cidadão que é assaltado à porta de casa.

O conhecimento - algo tão intangível - passa a ter materialidade na sociedade pós-industrial, restabelecendo uma nova ordem de organização social: a dos que possuem conhecimento e a dos seus excluídos. Na história da humanidade, o tear hidráulico, o tear mecânico e a máquina a vapor foram os símbolos da revolução industrial iniciada em 1750, que demarcou o território físico da criação do conhecimento humano exigindo dos operários o domínio das máquinas para a realização de uma produção seriada.

Em seguida, os ideais de “liberté”, “égalité” e “fraternité” da Revolução Francesa, em 1789, culminaram com a queda da Bastilha, símbolo do absolutismo francês, e fizeram surgir o “homem cidadão” detentor de direitos e de obrigações. Não mais subordinado às elites dominadoras e opressoras, mas um indivíduo livre cuja relação laboral passava a ser amparada por arcabouços jurídicos como, por exemplo, ocorreu no Brasil, com a Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, aprovada pelo Decreto-lei n. 5.452, de 01.05.1943.  

Vivemos em um novo milênio, cheio de ebulições sociais, no qual o conceito de trabalho já não corresponde ao apregoado naquela lei celetista. Hoje, vê-se que o trabalhador, muitas vezes, exerce suas atividades em casa, sem subordinação, sem expediente, e com uma perfeição técnica inigualável. Mas, o acesso às informações dá-se de uma forma sem precedente - em todos os instantes - de diversas maneiras. Por isso, somos cobrados a ter um conhecimento global, além de nossas aldeias.

A valorização da educação, do conhecimento, da capacidade humana de assimilação de informações, mas, sobretudo, da retenção de conhecimento é o que tem diferenciado as pessoas bem sucedidas das que tiveram insucesso profissional. Essa é uma das piores exclusões: a do saber.

Em plena era da sociedade do conhecimento, vivemos em um Brasil com índices de exclusão educacional altíssimos. O último Censo do MEC/Inep, referente a 2005, comprova que estamos longe de inserir nossos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior como objetiva os 30% do Plano Decenal de Educação. A taxa líquida de inserção desses jovens é de 10,9%, o que é muito baixo para um país de dimensões geográficas e culturais como o nosso.

É vergonhoso vermos os índices de violência de nossas cidades, em que a sociedade a cada momento se vê vítima também de suas crianças. A evasão escolar mostra onde elas estão: na rua mendigando ou vitimando a própria sociedade que as excluiu do convívio.

O projeto de inclusão social brasileiro funciona às avessas, mas o nosso planejamento estratégico de deformação social avança a cada dia em progressão geométrica. A criança fora da escola é o adulto que desconhece seus direitos, mas que aceita calado todos os deveres que os ditos “instruídos” lhe impõem.

Enquanto isso, nossos representantes legislativos aparecem nas páginas dos jornais se defendendo de denúncias de corrupção ou mesmo elaborando leis que os favoreçam. Parece até que as leis são criadas para os deixarem impunes!

As universidades de nossas ex-crianças de ruas são os presídios, onde passam a ser detentoras dos diplomas de indigentes sociais. Esses locais, verdadeiros “barris de pólvora”, estão prontos para explodir a qualquer momento. E nossas autoridades... O que fazem? Nossos juristas já falaram em punir, prender, trancafiar... Digo: sem educação não haverá solução para nossa crise social.

 

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