Que o mercado de casamentos no Brasil movimenta milhões não é novidade. Só em 2012, a indústria de fornecedores de produtos e serviços para casamento deverá render para a economia brasileira cerca de 12 bilhões de reais. A decoração, os doces, o buffet, o vestido perfeito, todos os detalhes para garantir uma noite inesquecível para noivos e convidados. O que não se podia imaginar é que um mercado matrimonial paralelo, e bem mais transacional, esta se formando no país. Pelo menos é o que conta o jornal espanhol “El País”, em matéria divulgada esta semana.
Segundo o periódico, com o aumento do desemprego na zona do euro, agora é a vez de alemães, espanhóis, franceses e ingleses buscarem uniões por conveniência no Brasil. No passado os brasileiros, em busca de uma vida melhor, tornaram-se conhecidos por recorrer aos mais variados esquemas para contornar as leis de imigração nos Estados Unidos e Europa. O aquecimento da economia e as oportunidades de emprego no país tem possibilitado, contudo, não apenas o retorno de expatriados, mas também estimulado os famosos casamentos de fachada para garantir dupla cidadania.
O El País destacou a história do publicitário Luis que, espanhol e homossexual, pagou um “dote” de três mil reais a uma empregada doméstica para garantir uma residência legal em São Paulo. Uma bagatela se comparada com os 10 mil euros que chegavam a valer um casamento “arrumado” na Espanha dos anos noventa. O estrangeiro, que contatou a “noiva” pelo Facebook, afirma conhecer três alemães e um americano na mesma situação no Brasil.
Em caso de pedido de matrimônio entre estrangeiros, a polícia federal busca formas de comprovar se o casamento tem mesmo fins “nobres”, estudando o histórico e fazendo vistorias surpresas à residência do casal. Quem não passar nesta inspeção e vier a ter comprovada a acusação de fraude, pode ser condenado por crimes como falsidade ideológica ou uso de documento falso.
A burocracia envolvida na retirada de vistos a na autorização para trabalho legal no Brasil é um determinante. O governo brasileiro, contudo, afirma ter interesse em profissionais estrangeiros bem qualificados em busca de trabalho. Já às empresas brasileiras é exigido que um mínimo de dois terços de sua mão-de-obra seja nativa. As corporações fogem da extensa papelada e dos trâmites necessários para a contratação de um estrangeiro.
No Brasil são registrados cerca de 19 mil casamentos por semana. Ainda de acordo com a reportagem, os pedidos de visto por matrimônio com brasileiros aumentaram 95% de 2009 a 2010. Em 2011, 3.479 estrangeiros pediram visto. Franceses, ingleses e espanhóis encabeçam a lista dos interessados em visto para morar no Brasil.
Apesar de todo o empenho estrangeiro, já é possível perceber uma desaceleração na economia. O Brasil apresentou, no primeiro semestre deste ano, o pior resultado na geração de empregos nos últimos três anos. Uma redução de 26% nos primeiro semestre em comparação ao mesmo período de 2011 e uma queda de 44% em relação a Junho do ano passado. Ao contextualizar os números numa perspectiva global, porém, a situação do Brasil é muito mais favorável. Foram mais de um milhão de novos postos de trabalho gerados, um sonho para qualquer país europeu.