Cotado como um dos possíveis substitutos para a vaga de Joaquim Levy na Fazenda, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, está otimista em relação a 2016. Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro disse esperar que a situação política possa ser resolvida em um horizonte curto e vê oportunidades para a indústria e os exportadores no próximo ano. "O câmbio está nos dando uma oportunidade, uma janela. As empresas voltaram a colocar as exportações no radar", afirmou.
Na entrevista, concedida em seu gabinete na quarta-feira (16), antes de seu nome ser ventilado como uma possibilidade para o ministério da Fazenda, Monteiro afirmou que o Brasil não pode ter um déficit primário pelo terceiro ano consecutivo em 2016. "O sinal que tem que ser muito claro, inequívoco, é de que o governo tem claramente o compromisso em gerar um superávit primário."
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O ministro prevê um saldo da balança comercial em torno de US$ 35 bilhões no próximo ano, e de cerca de US$ 17 bilhões neste ano.
De acordo com ele, em relação ao cenário atual do País, a questão política ao longo do ano prejudicou muito, não apenas porque o processo do ajuste fiscal foi extremamente prejudicado no seu ritmo, mas na própria amplitude do ajuste. "Com esse cenário político conturbado, o Congresso não respondeu de forma mais tempestiva à própria necessidade do ajuste. Ficamos assim com um processo que não se completou. Você tem as dores do ajuste, sem ter completado o processo", disse. "É um cenário muito complicado, muito difícil. Esperamos que tenha uma solução para esse processo."
Quanto ao comércio exterior, Monteiro disse que o governo procurou trabalhar do lado do setor externo, que sem nenhuma dúvida é um canal muito interessante e vai ser muito mais em 2016. "No lado do acesso a mercados tem uma série de coisas que foram plantadas e vamos colher. A retomada da exportação pelo setor automotivo é uma coisa muito interessante."
Para o ministro, é evidente que os investidores estão olhando o cenário de crise política e econômica do curto prazo, mas, segundo ele, o investimento se define a partir de uma visão muito mais longa, um horizonte mais largo de tempo. "De uma maneira geral, as empresas mantêm seus planos de investimentos. Podem estar ajustando um pouco a velocidade. Um dado muito importante é que o câmbio, no sentido de um câmbio mais amigável para o setor exportador, a meu ver veio para ficar. As multinacionais já estão começando a olhar o Brasil como uma plataforma para a exportação para a América Latina. Muitos planos de exportação foram reativados."
Quanto aos efeitos de rebaixamentos da nota de crédito pelas agências de risco, Monteiro afirmou que já existe algo "precificado". "Acho que o câmbio vai continuar tendo uma flutuação normal, sem nenhum movimento artificial na taxa, e há uma tendência no sentido de que possamos ter um reflexo da mudança da política monetária nos EUA. A gente tende a ter uma flutuação na direção da desvalorização aqui, na minha avaliação", comentou. "Não vejo nenhum elemento em relação ao câmbio que possa significar uma volatilidade muito grande. Acho que vamos continuar a ter um câmbio que estimula as exportações, isso é o mais importante."
Quanto ao peso da questão da meta, discutida no Congresso Nacional, na eventual saída do ministro da Fazenda Joaquim Levy, o ministro do Desenvolvimento respondeu: "O que posso dizer sobre essa questão numérica da meta é que o grande sinal que precisa ser dado é que o Brasil não pode ter déficit primário pelo terceiro ano. Agora o sinal que tem que ser muito claro, inequívoco, é de que o governo tem claramente o compromisso em gerar um superávit primário."
Sobre a balança comercial, Monteiro disse que o desempenho da exportação foi um aumento no volume de 9%, o que está, segundo ele, muito acima da média mundial neste ano. "Em valor, devemos ter queda de 13% a 14% na exportação porque o preço das commodities, que tem peso na nossa pauta de exportação, caiu bastante. Se tivéssemos em minério, soja e petróleo os preços de 2014, teríamos gerado uma receita adicional de US$ 22 bilhões", avaliou. "Mesmo países como a Alemanha, EUA tiveram queda, porque o comércio global diminuiu de ritmo fortemente com a desaceleração da china. Nesse contexto, o Brasil tem um aumento de volume maior do que a média de comércio global, mesmo com essa queda nos preços da commodities.
Do lado das importações, a queda realmente foi muito acentuada."
Quanto aos prognósticos para o saldo neste e no próximo ano, Monteiro afirmou que o País deve ficar com um valor positivo em torno de US$ 16,5 bilhões a US$ 17 bilhões para 2015. "Olhando 2016, eu sou muito otimista. Acho que vamos começar no grupo de manufaturados com um aumento nas exportações, e não vislumbro um ano pior paras commodities que temos hoje", disse. "Acho até que há a possibilidade do lado das commodities agrícolas ter até uma certa recuperação de preços. As projeções mais conservadoras para o saldo da balança em 2016 estão apontando US$ 30 bilhões para o ano que vem e há projeções que indicam possibilidade de até US$ 50 bilhões. Eu vou ficar no meio do caminho, com US$ 35. Acho que é um resultado bastante razoável, que permitiu já neste ano que o déficit nas transações correntes caísse muito", previu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.