O mesmo tipo de pragmatismo que orienta os partidos políticos brasileiros, aglomerados pelo cheiro de poder aos mandantes da ocasião, é o pragmatismo que domina a decretação e a duração das greves no País. Mal termina o movimento dos professores das universidades federais, depois de mais de três meses de paralisação, os bancários resolvem interromper as atividades, seguidos pelos funcionários dos Correios e possivelmente pelos vigilantes de empresas de segurança que fazem o transporte de valores, dinheiro e documentos.
A interrupção de serviços essenciais é um sintoma de desgoverno, incompetência e imaturidade institucional. Mas vai longe a época em que essas coisas podiam ser utilizadas politicamente para a obtenção de votos e o favorecimento de determinados candidatos. O partido que dominava essa “tecnologia”, assim como seus satélites, estão no poder há mais de uma década. E agora o que pretendem é a manutenção do status quo, e não a sua mudança, para o desespero dos empolgados militantes e simpatizantes que ainda enxergam na ideologia surrada a justificativa para tudo, até para a incoerência, a desonestidade, a falta de ética, o oportunismo e a bandalheira.
Sem uma legislação rigorosa que seja respeitada pela deflagração de movimentos paredistas, o cidadão comum se torna refém da insatisfação dos grevistas, e também da inflexibilidade dos patrões – e muitas vezes o patrão é o governo. Os sindicatos deitam e rolam no vácuo da moleza que é fazer greve no Brasil. O direito do trabalhador se transforma num abuso quando o direito da maioria da população é flagrantemente ignorado, inclusive pela Justiça, que não dispõe de instrumentos de punição efetivos.
No decorrer do processo eleitoral, dificilmente se vê algum candidato tocando no assunto das greves. Porque a maioria dos partidos integra a base aliada do governo federal, ou do governo estadual. E a oposição ainda não consegue canalizar os prejuízos evidentes para o seu discurso. O resultado é quase inacreditável: ao contrário do passado, quando as greves pré-eleitorais tinham destino certo, as de hoje, às vésperas de uma eleição, não atrapalham as campanhas de nenhum deles.
Só atrapalham a vida do eleitor, coitado.
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