Os últimos números de intenção de voto, divulgados no final de semana e nesta segunda feira por três diferentes institutos de pesquisa, mostram a consolidação da tendência que se previa: a estabilização do candidato Geraldo Júlio na ponta e a tomada da segunda posição por Daniel Coelho, abrindo até uma certa vantagem sobre o petista Humberto Costa.
Restando menos de duas semanas pela frente, a esperança de reversão do quadro, para uns, e de reafirmação da tendência, para outros, volta-se para os debates das principais emissoras de TV. A maratona começa amanhã, na TV Jornal, e depois tem os debates da TV Clube e da Rede Globo. Não vai faltar emoção para os militantes, nem elementos para o eleitor indeciso tomar seu partido na boca da urna.
A judicialização da campanha nesta reta final indica também o grau de incerteza que domina nos comitês. Apesar das tendências, há espaço para mudanças de última hora que reduzam as distâncias, sem falar nas famosas margens de erro, que podem se revelar maiores do que estimam os institutos.
Das três principais forças que disputam a preferência do eleitorado, o PSB aproveita a folga na liderança para bater na tecla do primeiro turno. Como líder, Geraldo Júlio terá que mostrar equilíbrio nos debates, e não engolir a corda dos adversários, sob pena de repetir o resultado negativo de uma reação impensada, como aconteceu com Roberto Magalhães contra João Paulo. A Humberto não há outra saída senão o ataque frontal ao governo do qual participou como secretário, na tentativa de recuperar os votos perdidos para Daniel. Quanto a este, que corria por fora e ganhou fôlego nas últimas semanas, a expectativa é sobre a sua capacidade de manter a peteca para ir ao segundo turno – que muitos costumam chamar de “outra eleição”.
Como se vê, o suspense continua. E podemos ter surpresas por aí.
O mesmo tipo de pragmatismo que orienta os partidos políticos brasileiros, aglomerados pelo cheiro de poder aos mandantes da ocasião, é o pragmatismo que domina a decretação e a duração das greves no País. Mal termina o movimento dos professores das universidades federais, depois de mais de três meses de paralisação, os bancários resolvem interromper as atividades, seguidos pelos funcionários dos Correios e possivelmente pelos vigilantes de empresas de segurança que fazem o transporte de valores, dinheiro e documentos.
A interrupção de serviços essenciais é um sintoma de desgoverno, incompetência e imaturidade institucional. Mas vai longe a época em que essas coisas podiam ser utilizadas politicamente para a obtenção de votos e o favorecimento de determinados candidatos. O partido que dominava essa “tecnologia”, assim como seus satélites, estão no poder há mais de uma década. E agora o que pretendem é a manutenção do status quo, e não a sua mudança, para o desespero dos empolgados militantes e simpatizantes que ainda enxergam na ideologia surrada a justificativa para tudo, até para a incoerência, a desonestidade, a falta de ética, o oportunismo e a bandalheira.
Sem uma legislação rigorosa que seja respeitada pela deflagração de movimentos paredistas, o cidadão comum se torna refém da insatisfação dos grevistas, e também da inflexibilidade dos patrões – e muitas vezes o patrão é o governo. Os sindicatos deitam e rolam no vácuo da moleza que é fazer greve no Brasil. O direito do trabalhador se transforma num abuso quando o direito da maioria da população é flagrantemente ignorado, inclusive pela Justiça, que não dispõe de instrumentos de punição efetivos.
No decorrer do processo eleitoral, dificilmente se vê algum candidato tocando no assunto das greves. Porque a maioria dos partidos integra a base aliada do governo federal, ou do governo estadual. E a oposição ainda não consegue canalizar os prejuízos evidentes para o seu discurso. O resultado é quase inacreditável: ao contrário do passado, quando as greves pré-eleitorais tinham destino certo, as de hoje, às vésperas de uma eleição, não atrapalham as campanhas de nenhum deles.
Só atrapalham a vida do eleitor, coitado.
O publicitário Marcos Valério, operador do esquema do mensalão do governo Lula, fez quatro fitas de vídeo com depoimento bombástico sobre o ex-presidente e as relações espúrias entre a cúpula do PT e o Estado brasileiro em seu mandato. Nos vídeos, que supostamente teriam tido produção profissional, Valério conta detalhes sórdidos sobre o mensalão e como ele operou nos bastidores do governo do PT.
A providência foi tomada com base no temor de repetir o destino de PC Farias, tesoureiro do governo Collor que apareceu morto anos depois do caso. As revelações são do Blog de Noblat. É provável que o ex-presidente, Zé Dirceu e companhia já estejam elocubrando maneiras de desmentir a informação, assim como apostam que a Veja não conta com a gravação de entrevista de Valério, em que acusa Lula de chefe do esquema. E em última instância, devem recorrer à desqualificação da fonte, dizendo que se trata de um réu condenado buscando puxar inocentes com ele. Mas como crucificar Marcos Valério sem reconhecer os crimes do PT e a veracidade do mensalão?
Dificilmente o PT será o mesmo depois do julgamento do maior caso de corrupção já conhecido. Nunca antes neste País foi possível ver tão cristalinamente os mecanismos da corrupção e do assalto ao dinheiro do contribuinte. Com tudo que está vindo a tona, as revelações de Marcos Valério e o início do julgamento de Dirceu e Genoíno, esta semana, os efeitos políticos do fato podem ser devastadores para o partido e seus candidatos. Mas o julgamento em si já é tão grave, assim como as ameaças de Valério, que para os petistas graúdos a campanha eleitoral já deve estar em segundo plano. O mais importante agora, para eles, é salvar a pele e não manchar a biografia para sempre.
No plano local, se Humberto conseguir deter a "onda" Daniel e ir ao segundo turno, alguém tem dúvida que o PSB e seu novo marqueteiro, Antonio Lavareda, vão usar tudo isso contra o petista? Se não aparecer um fato novo muito rápido, a candidatura do PT no Recife pode ser considerada derrotada muito antes da véspera.
Em qualquer lugar do mundo a crítica política e o humor são formas naturais do contraditório no embate político. Por aqui, a tradição provinciana e coronelista que não foge à regra na capital quer confundir a sátira com jogo baixo, e impedir o contraditório recorrendo aos amigos da corte. Bastou uma bem-sucedida contra-propaganda nas redes sociais, transposta para o Guia em outra linguagem, para atiçar a ira dos que se sentem intocáveis.
A reação satírica apenas brinca com o mote da campanha do Palácio, que abusou do tema “Foi Geraldo que fez”. O tiro não chegou ainda a sair pela culatra, mas caminha pra essa direção, caso o estopim do mau humor e da judicialização se alastre nos bastidores e atinja o desempenho do candidato Geraldo Júlio, sobretudo nos próximos debates. Até porque Geraldo já deu mostras de que possui pavio curto. E arrogancia de mais.
Do outro lado, não há menos problemas. Humberto Costa vê o folego petista no Recife cada vez mais desgastado, e na pesquisa mais recente, do Datafolha, vislumbra com receio o empate técnico com Daniel Coelho – por ironia, agora pertencente ao partido mais denegrido pelo PT, o PSDB. Resta a Humberto apelar de uma vez para a entrada em cena de Lula e Dilma, como apagadores do incêndio recifense. Mas será que eles topam esse papel? O cenário cada vez mais embolado, com a subida de Daniel e a estabilidade do candidato de Eduardo lá na frente, podem afastar a presidenta e o ex-presidente do risco de se queimarem em Pernambuco, dando mais lenha para a fogueira dos altos planos do governador Eduardo Campos.
Enquanto isso, a onda verde-tucana continua a animar os defensores de uma terceira via original. Afinal, os eleitores podem não querer que o PSB domine Estado e Prefeitura de uma vez. Até porque o governo de Eduardo também tem as suas falhas – pouco exploradas por uma oposição capenga, mas tem. Quanto ao PT, o auge do julgamento do mensalão e o descarte autoritário de João da Costa da disputa tendem a diminuir as chances da continuidade do partido no poder no Recife. Suprema humilhação, quem diria para um PT, que teve mede de confrontar com o imperador e deverá ser varrido do mapa eleitoral de Pernambuco por ele.
Com o Império acusando o golpe e o PT em baque previsível, a campanha vai ser dura. Tirem as crianças da sala.
O favorito Geraldo Júlio começa a apresentar um discurso melhor, embora ainda sinta a necessidade de desfilar um rosário de dados e números, cacoete do ex-secretário que foi nos últimos anos. Com isso, tenta encobrir a falta de experiência nesse tipo de embate. Para alguém pego de surpresa e ungido pelo império de Eduardo Campos, no entanto, Geraldo evoluiu muito, aliando o volume de informações ao raciocínio com começo, meio e fim.
Numa reposta a Humberto Costa, o candidato de dois governadores – Eduardo e Jarbas – também reagiu com agressividade, quando disse que Humberto foi “monitorado” por ele. Passou uma arrogância desnecessária, mas a torcida palaciana deve ter gostado.
Prejudicado pelo processo desgastante de escolha da candidatura petista e pelo desgaste dos 12 anos no poder na cidade, o senador Humberto Costa é de longe o candidato que mostra mais preparo e conhecimento sobre o Recife. Apostou nessa experiência e colocou Daniel Coelho em xeque, ao afirmar que o candidato verde-tucano quer criticar por criticar. Depois de Mendonça Filho entrar em queda livre, Daniel é o alvo preferencial de Humberto, por ser o único que pode ameaçar sua ida ao segundo turno – se Geraldo não levar de primeira.
Se Humberto conseguiu transmitir a impressão de que tem maior experiência para governar o município, não conseguiu se livrar do carma petista, e se perdeu quando teve que explicar o imbróglio da confusão com João da costa. Tão pouco foi feliz ao responder a questão do mensalão, demonstrando o quanto o partido de Lula e Dilma pesa nesta eleição.
Daniel Coelho se mantém fiel ao estilo livre, batendo nos dois adversários do PT e do PSB. Seu ponto alto ontem foi quando colocou Geraldo no muro: “Ele é igual a João da Costa”, lembrando que o marqueteiro do atual prefeito é o mesmo do candidato do Palácio. No afã de ultrapassar Humberto e conseguir a façanha de ir ao segundo turno, Daniel precisa no entanto dosar o ímpeto. Se não equilibrar os ataques a um discurso propositivo, pode continuar sendo apontado como o franco atirador sem experiência administrativa.
O deputado Mendonça Filho também melhorou no clima quente, e surpreendeu ao partir para o ataque. “Temos o Humberto, o original, e Geraldo, o genérico”, disse no final do debate. A postura revela que o democrata resolveu enfim partir para o tudo ou nada. Com boa performance, poderia ter sido mais enfático contra o PT, no momento em que foi indagado sobre os problemas de corrupção do Democratas.
Para o eleitor indeciso, os debates de agora em diante devem ser uma oportunidade para enxergar as diferenças entre os candidatos, finalmente convencidos de que a hora da escolha democrática chegou.
A polêmica instalada entre o PT e o PSDB em virtude de artigo publicado pelo ex-presidente Fernando Henrique sobre a “herança pesada” de Lula para Dilma Rousseff foi exatamente o efeito esperado pelos tucanos. Com um simples artigo de jornal, a resposta de Dilma engoliu a corda e trouxe de volta a polarização que o PSDB vê se perder em São Paulo, ameaçando fortemente não apenas a eleição de José Serra à prefeitura da capital paulista, mas a própria importância do partido na configuração de forças da política nacional.
Dilma sabe que a herança do governo Lula é de fato pesada. E tem penado para administrar o rescaldo de uma gestão frouxa, tanto do ponto de vista da ética quanto do orçamento. A resposta contundente, que chegou ao ataque a FHC, numa nota escrita provavelmente pelos assessores de Lula, foi considerada necessária pela cúpula partidária devido ao contexto eleitoral.
E assim o PT mordeu a isca lançada pelo PSDB, numa tentativa de resgatar do fundo do mar a viabilidade da candidatura Serra. A falta de renovação de quadros é nítida na oposição brasileira, e o que já aconteceu com o DEM se repete no ninho dos tucanos: o envelhecimento das lideranças provoca o desgaste da imagem e o mau desempenho nas urnas.
Esse é o grande medo de FHC. E foi o que o levou a publicar um artigo que não diz nada de novo, apenas para reacender a chama de uma disputa antiga pelo poder. Como o eleitor de São Paulo parece cansado dela, tucanos e petistas podem estar gastando as últimas fichas de credibilidade ao embarcarem na velha troca de farpas, aumentando ainda mais as chances do azarão Russomano.
E abrindo a guarda para novas investidas, nos estados e na eleição presidencial, em 2014. O governador Eduardo Campos está de olho arregalado, adorando tudo.
O relançamento de um programa criado no governo Roberto Magalhães em 1985, com o devido reconhecimento ao ex-governador, é uma iniciativa digna de aplausos do governo Eduardo Campos.
E é exatamente isso que Eduardo persegue. A inclusão da referência histórica até nos anúncios publicitários do novo programa de segurança urbana só faltou citar o nome de Roberto Magalhães, mas rende-lhe homenagem ao descrever a experiência como “um grande sucesso”.
Presente na solenidade de lançamento, ontem, o ex-governador, que abandonou a política mas ainda participa da cúpula do DEM, prestigiando os eventos partidários, declarou estar lisonjeado com o gesto do herdeiro de Miguel Arraes – com quem, garante, se dava muito bem.
O gesto do governador é coerente com a movimentação recente de atração de antigos desafetos para o seu futuro palanque presidencial. Desta forma, Eduardo Campos vai se credenciando para juntar em torno de seu nome uma espécie de unanimidade em Pernambuco, minimizando a oposição interna a uma eventual candidatura à Presidência da República já em 2014, inclusive por parte de tradicionais adversários, cortejados como potenciais aliados.
No ano do centenário de nascimento de Nélson Rodrigues, Eduardo não está nem aí para o alerta de que seria a unanimidade burra, como escreveu o dramaturgo pernambucano. Prefere apostar na demonstração de grandeza de espírito, que beneficia o seu candidato a prefeito, Geraldo Júlio, e ainda cutuca o petismo raivoso com vara curta.
Duas pesquisas de intenção de votos divulgadas ontem injetaram novo ânimo no candidato do governador à Prefeitura – e ligaram o alerta vermelho no candidato do partido no poder há 12 anos no Recife.
Diante dos números, o avanço de Geraldo Júlio tem se consolidado sobre as quedas de Humberto e de Mendonça Filho – especialmente deste último, que caiu do patamar de 20% para menos de 10%.
Amargando o empate técnico depois das primeiras exibições da campanha eletrônica no rádio e na TV, Humberto pode ter chegado ao seu teto para efeito de primeiro turno. Isso significa que a esta altura os petistas precisam pensar numa estratégia urgente não para reverter o quadro de momento, mas para garantir ao menos condições mínimas de disputa no segundo turno. Não vai ser fácil, uma vez que a maioria dos aliados se bandeou para o lado do governador.
A migração dos eleitores de Mendonça Filho para Geraldo Júlio antecipou um movimento que poderia acontecer no segundo turno. Sem empolgar, no entanto, Mendonça assiste a antecipação mais cedo do que esperava, vendo a onda amarela crescer e capitalizar a insatisfação com o governo petista. Por mais que tenha a vice, o PSB conseguiu passar a mensagem de que Geraldo se coloca como “um novo prefeito”, como vende o slogan da campanha. Definitivamente no chão, Mendonça pode até atrapalhar o desempenho dos candidatos proporcionais do DEM.
Correndo por fora, Daniel evolui lentamente, mas de modo firme, e deve ser o mais cortejado dos apoios para o segundo turno. Mas se Humberto continuar caindo, com o aumento da tensão entre o seu vice, João Paulo, e o prefeito João da Costa, e a repercussão das condenações do mensalão, não se descarta a hipótese, ainda que remota, de Daniel ameaçar a posição de Humberto. É bom lembrar que falta mais de um mês para a eleição, e as mudanças nas pesquisas no Recife têm sido muito rápidas.
Quanto a Geraldo Júlio, ainda é uma incógnita a sua capacidade de manter o nível de crescimento, garantindo uma suposta vitória ainda no primeiro turno. Vai depender do desempenho dos outros. Pelo andar da carruagem, pode chegar perto disso, ou vencer de primeira com pequena margem de vantagem sobre a soma dos demais, como prevê o marketing do socialista. Hoje, no entanto, tudo aponta para o segundo turno até mesmo porque a definição no primeiro enterra de vez os planos do PT como força eleitoral do estado.
No afã de ultrapassar logo o principal adversário, dar uma demonstração de força nas pesquisas e criar um clima entusiástico para levar a eleição logo no primeiro turno, a campanha de Geraldo Júlio incorre no primeiro erro crasso. De fato, parece estratégia de militante inconsequente a adoção de uma “campanha casada” que, escrachadamente, põe inserções do candidato a prefeito em seguida à propaganda “institucional” do governo estadual sobre o mesmo assunto – a saúde maravilhosa das UPAs e Upinhas.
Protagonista da campanha mais cara do Recife nos últimos anos, o PSB não precisava exagerar na dose. Parece coisa do extinto voto vinculado, na época em que o eleitor era obrigado, por lei, a votar no governador e no senador de uma mesma chapa. Agora, a reedição da vinculação quer induzir o cidadão a votar no prefeito para reeleger simbolicamente o governador. Será que Eduardo precisa mesmo disso?
Mesmo mirando 2014 e uma eventual candidatura para presidente, Eduardo Campos precisa reavaliar a oportunidade dessa campanha casada que vincula absolutamente o voto. Para a Justiça Eleitoral, pode soar como oportunismo e abuso de poder, através do explícito uso da máquina pública estadual e o aproveitamento de recursos públicos do cofre azul e branco dos pernambucanos para dar um empurrãozinho em Geraldo. Repito a pergunta: precisa disso?
Numa campanha que tem tudo para continuar indo bem, o atropelo do marketing pode causar grandes estragos. Quem teve a brilhante ideia de atrelar as campanhas do governo e do candidato? Será que Geraldo concordou, achando a ideia boa? O governador também? ficam as dúvidas.
A reação do PT foi dura e agora o caso vai para a Justiça. Será um duelo que ganhará a mídia nos bastidores dos tribunais, tudo por causa de uma polêmica completamente desnecessária para uma candidatura que ganha preciosos pontos na intenção de votos toda semana. Ou ganhava, até a primeira besteira colossal que pode caracterizar campanha irregular, e despertar o eleitor para a forçada de barra.
Como todos esperavam, o debate ontem realizado pelo portal NE10 com os prefeituráveis do Recife aprofundou a polarização entre os ex-companheiros Humberto Costa, que ainda lidera as pesquisas de intenção de voto, e Geraldo Júlio, que tem crescido e já pensa em encostar no petista nas próximas rodadas.
Líder que vem perdendo pontos preciosos a cada levantamento, Humberto mantém o estilo de candidato preparado, seguro do que diz. Mas ainda encontra dificuldade em escolher e acertar o alvo. Seu principal oponente deve ter saído confuso pelo elogio explícito ao governo Eduardo Campos, feito pelo senador pelo menos cinco vezes. E por enquanto, o PT sai no lucro pela pouca referência dos outros ao conturbado processo interno do partido, que terminou afastando o atual prefeito, João da Costa, da possibilidade de concorrer à reeleição. O que colocaria Humberto numa saia justa, tendo que explicar repetidamente a mudança dos chefes da dinastia petista que detém o poder há 12 anos no Recife.
Na luta fraticida, Geraldo Júlio, o outro candidato governista, na falta de traquejo evidente, se lança ao corpo a corpo das palavras ofensivas. A agressividade denota o pavio curto e a falta de argumentação positiva. A tentativa de imitar em tudo o governador Eduardo Campos falha neste ponto, já que o herdeiro de Arraes desenvolveu um mínimo jogo de cintura e está a ano luz de sua criatura. Mesmo assim, Geraldo conta com o apadrinhamento e com uma maquina poderosa para seguir galgando a simpatia da opinião pública. Ser o candidato do Império é o seu maior trunfo.
A troca de farpas entre os dois ex-parceiros políticos, que formam as duas grandes estruturas de poder, inclusive econômico, da campanha, deve ser estranha para o eleitor, embora os grupos de cada um estejam bem definidos e comecem a se provocar e se denegrir mutuamente nas ruas e nas redes sociais. Se essa imagem é bom para o eleitorado, somente o tempo dirá. Mas o curioso é que nem parece que ainda são unha e carne na atual gestão da Prefeitura. A ausência virtual da menção a João da Costa faz parte da estratégia de apagar o presente e o passado recente em detrimento de um futuro dourado por ambos, no horizonte das ambições de Lula e de Eduardo para 2014. E não deixar de revelar uma situação, digamos, humilhante: Em pouco mais de duas horas, apenas uma menção tímida ao nome de João da Costa, numa situação no mínimo curiosa e inusitada.
Único representante do antigo grupo de poder anterior ao domínio PT/PSB, Mendonça Filho, abandonado friamente sem pena pelo PMDB de Jarbas e Raul Henry e pelo PSD de André de Paula, continua no páreo. No entanto, cada vez com maiores dificuldades de se manter no grupo da frente e almejar um lugar no segundo turno. No debate de ontem, Mendonça mais uma vez demonstrou o baixo carisma, combinado com a tática, atribuída a seus marqueteiros de não bater em ninguém. Sem empolgação e sem empolgar o próprio eleitor, a tendência é que o democrata consolide posição coadjuvante.
O azarão mais promissor continua sendo Daniel Coelho, o tucano de verde plumagem que pelo menos procura apontar com veemência as contradições dos ex-aliados Humberto e Geraldo. Despontando como a única novidade, Daniel provocou gargalhadas de quase todos ao perguntar a Geraldo porque ele diz que Humberto é tão ruim, se votou nele junto com o governador, para o Senado? e de lembrar, aos que o provocam por usar a cor verde, que foi obrigado de trocar de partido (PV para o PSDB) porque não queria fica dizendo “amém” e “sim senhor” – numa estocada direta ao donos do partido, em Pernambuco, que ganharam uma secretaria e algumas verbas para “alugar” a ex-legenda de Marina da Silva.
Resta saber se a desenvoltura ostentada pelo tucano terá alguma chance de crescimento que venha de fato ameaçar a polarização que domina a campanha.
Mas no debate, de novo, não há como negar: deu Daniel.