As discussões pré-eleitorais são, por vezes, confusas. No caso, fogem da coerência e da plausibilidade. A dinâmica eleitoral é caracterizada pelos movimentos dos atores políticos. As ações dos atores ocorrem em estados de incerteza ou não. Quando da incerteza, é difícil para o estrategista prognosticar o que o ator fará. Mas quando da ausência da incerteza, os prognósticos são possíveis.
É possível que a incerteza na ação dos atores esteja no olhar ou na paixão do estrategista, pois este não consegue interpretar as condições em que o protagonista tomará a decisão, não vislumbra a ação de outros atores diante da consequência da ação de outro ator, e nem consegue vislumbrar a implicação ou a sequela da ação dos oponentes. Portanto, é possível identificar lógicas na dinâmica eleitoral e com isto, construir cenários e criar estratégias eficazes.
O debate recorrente desde o ano passado é quanto às ações de dois atores: Lula e Eduardo Campos. A especulação em torno do “volta Lula” inunda os ambientes midiáticos e políticos todas as vezes que pesquisas revelam queda da popularidade da presidenta Dilma ou a instabilidade na relação entre Executivo-Legislativo. Não desconsidero que Lula possa ser a opção do PT para as eleições de 2014. Porém, tal possibilidade é frágil em virtude de que a sua candidatura só surgiria caso Dilma não tivesse condições de recuperar popularidade. Em razão de Dilma ter condições de recuperar popularidade, não aprecio fortemente o cenário de que Lula será candidato em 2014.
Apesar da recente pesquisa eleitoral do Datafolha (09/08) mostrar que Lula venceria a eleição no primeiro turno, deve-se considerar que Lula como candidato terá que explicar ao eleitor quais as razões de Dilma não ser a candidata. Além disto, ainda não está claro se existe ou não desejo de mudança por parte do eleitor. Neste caso, outros atores políticos, ao serem apresentados ao eleitor, podem vir a representar tal desejo de mudança. E se assim ocorrer, Lula poderá perder a eleição.
Outro debate em vigor são as escolhas do governador Eduardo Campos. Após as eleições de 2010 apresentei quatro possibilidades para o governador em 2014: Possibilidade 1: Candidatura à presidente; Possibilidade 2: Candidatura a vice-presidente na chapa do PT; Possibilidade 3: Candidatura a vice-presidente na chapa do PSDB;Possibilidade 4: Candidatura ao Senado ou à Câmara Federal. As possibilidades 1 e 4 são, neste instante, as mais plausíveis. A possibilidade 2 é remota. E a possibilidade 3, é, neste momento, mais que remota.
O que impede a definição de Eduardo Campos? Como já frisei em outros artigos, é possível que exista relação entre aprovação do governador Eduardo em Pernambuco e a sua relação com Lula/Dilma. No instante em que esta relação for rompida, não se deve desconsiderar os seus efeitos negativos para o governador, principalmente se Dilma recuperar a sua popularidade.
Outro ponto: a candidatura presidencial de Eduardo poderá representar a formação da aliança PT/Armando Monteiro em Pernambuco. Se isto ocorrer, o candidato de Eduardo a governador não é favorito a vencer o pleito. A não candidatura de Eduardo a presidente poderá torná-lo refém do PT nacionalmente, embora ele mantenha condições propicias de eleger o seu sucessor em 2014.
Neste momento, as dúvidas de Eduardo Campos estão condicionadas a duas possibilidades: 1) Dilma recupera a popularidade que a torne favorita para vencer a disputa presidencial; 2) Dilma não recupera a popularidade. A possibilidade 1 enfraquece a candidatura de Eduardo. A possibilidade 2 a fortalece. Portanto, neste instante, não vislumbro ações dos atores que venham contrariar a lógica de qualquer protagonista político, qual seja: “Qual alternativa me conduz para a conquista ou manutenção do poder?”