No último final de semana, o PMDB de Pernambuco realizou dois seminários no coração do nosso semiárido. Em Salgueiro, principal cidade do Sertão Central, e em Ouricuri, polo regional do Araripe. Fomos discutir a seca com lideranças políticas e sociais, técnicos e especialistas no tema.
O consenso básico que existe sobre a maneira de enfrentar esse fenômeno climático inevitável é que a convivência com a seca só será possível através de obras hídricas estruturadoras: barragens, interligação de bacias a partir do São Francisco, infraestrutura para a agricultura irrigada e gestão permanente da água.
Quando olhamos para o retrospecto dos últimos dez anos, vemos que nenhuma barragem importante foi construída na região. As últimas foram a de Serrinha e a de Jucazinho, ainda no Governo de Fernando Henrique Cardoso.
A transposição, que foi prometida como a redenção do semiárido, anda a passos de tartarugas, com interrupção da obra e degradação do que já foi construído. A retomada dos trabalhos só se deu após denúncias feitas pela Imprensa com grande repercussão no País.
O Projeto Pontal, em Petrolina, com seu canal principal já concluído, previsto para irrigar oito mil hectares, não recebeu um real sequer nos últimos dez anos. Está parado, não gera nem emprego e nem renda. Os assentamentos de sem-terra em Santa Maria da Boa Vista, tais como Catalunha, Vitória e Conceição, transformaram-se em favelas rurais em plena margem do Rio São Francisco, sem produzir absolutamente nada, pois nunca receberam infraestrutura para a atividade agrícola. Nesses assentamentos, mais de 2.400 famílias vivem exclusivamente do Bolsa Família.
Quanto ao socorro prometido pela presidente da República, anunciado com grande estardalhaço, a maior parte dos recursos é para reescalonamento da dívida, não para a anistia, e para a compra de máquinas e equipamentos, cujo objetivo principal é salvar a indústria do Sul do Brasil.
O ambiente no Nordeste é de desolação e de indignação. Frases como a do presidente da Associação dos Municípios, prefeito José Patriota, e a do presidente da Federação de Agricultura, Pio Guerra, expressam bem esse sentimento.
Diz o primeiro: “As medidas são importantes, mas aquilo que estávamos esperando, que estava sendo negociado, não foi anunciado nada. O povo está com sede e os animais com fome, e o ente federativo não foi considerado.”
Fala o segundo: “Parece até que o Governo não tem a dimensão do problema no Nordeste e quer trata-lo com medidas anunciadas há 50 anos e que não funcionam.”
O Nordeste não quer esmolas. O que o povo nordestino espera é respeito. Como dizia Luiz Gonzaga, há 60 anos, o que nós reivindicamos são os investimentos públicos necessários para que nosso povo tenha uma vida digna e decente.