Uma coisa que sempre existiu são as produções cinematográficas baseadas em livros. Afinal de contas, um bom livro tem em si o roteiro pronto para um excelente filme. Bastaria passar a linguagem para a narrativa visual, construir o ritmo para cobrir a história no tempo do filme e conceber imagens e escolher os atores para casar com as descrições. É natural.
Desde os grandes clássicos, livros sempre dão bons filmes... ou não!
Nas pesquisas de comunicação nós chamamos essa troca de formato de "Remidiação", sendo que "mídia" é o formato, o aparato ou o suporte que usamos para acessar um conteúdo. A mídia pode ser livro, televisão, cinema... no que se refere a mídia, o céu é o limite (porque até aviões que puxam faixas no céu são usados como mídia). Remidiar é fazer com que algum conteúdo mude de uma mídia para outra, mas como cada mídia tem suas características próprias, é sempre necessário adaptar, cortar, expandir... Mas e quando essas mudanças transformam o conteúdo em "outra coisa"?
Um exemplo de um conteúdo que passou por muitas mídias é a franquia de jogos "Prince of Persia". A história nasce da Cultura Oral do oriente médio onde o folclore narra contos sobre destino e da sua inevitabilidade e de um nobre guerreiro que desafia essas regras do destino. Esses contos são registrados em Livros que passam a contar com imagens ilustrativas e a deixam estática... enrijecida. Muito depois é que surgem os jogos de Videogame (13 jogos até hoje) inspirados no guerreiro "das mil e uma noites", permitindo que o jogador duele com inimigos, desvende quebra-cabeças, invoque uma força sombria para vencer obstáculos e faça pequenas voltas no tempo para consertar pequenas falhas. Com o sucesso dos jogos é produzido um Filmeque em duas horas leva o espectador a tudo que o jogo proporciona. Paralelamente são lançados também Quadrinhos baseada nas aventuras dos jogos que aprofunda o personagem por permitir o registro mais livre de seus pensamentos e diálogos.
Na oralidade, nos livros, nos videogames, no cinema ou nos quadrinhos, a história é a mesma: o nobre guerreiro que desafia o curso do destino e enfrenta perigos e monstros.
Mas voltando ao início do texto, falávamos de cinema e suas adaptações de conteúdos, sendo que desde o ano 2000 com o primeiro X-Men e 2002 com o primeiro Spider-Man as adaptações de quadrinhos tem conquistado muito espaço, se provando uma categoria forte na indústria de entretenimento (com orçamentos altíssimos, diga-se de passagem). Mas como dito acima: um conteúdo que migra de uma mídia para outra não é mais o mesmo conteúdo... é uma versão daquilo que foi, transformado para o novo formato.
Lançado recentemente, o filme "X-Men: Days of Future Past" é a versão cinematográfica da saga lançada pela Marvel em 1981, de mesmo nome (chamada no Brasil de "Dias de um Futuro Esquecido").
Quem leu o quadrinho original naturalmente fará comparações entre o que leu e o que viu na telona, da mesma forma como quem leu o livro e viu seu filme ou qualquer outra mudança de mídias, mas afirmo que essa NÃO É UMA COMPARAÇÃO JUSTA!!! e o motivo é simples: um filme é uma produção limitada! O tempo de contar essa é limitado, o elenco para dar vida aos personagens, os cenários para as cenas e acima de tudo o orçamento para alcançar tudo isso tem limites. Outras mídias se baseiam na nossa imaginação para dar a dimensão de tudo, mas o cinema e a tv são explícitas, ficando sempre a dever do que nós imaginamos.
Por fim, um apelo: sejamos mais tolerantes com filmes e séries de tv, afinal elas não podem atingir o nível do que se passa em nossas mentes... vamos assistir séries e filmes pelo que são: versões das histórias que conhecemos. Vamos nos divertir com eles sem cobrar que sejam tudo o que, para cada um de nós, eles poderiam ser.