Homem que salvou o Recife terá homenagem de volta
Nelcy da Silva Campos evitou uma explosão catastrófica nos anos 80. Marinha o homenageou com uma estátua que foi "escondida" em uma sala com as obras do centro antigo da cidade
| ter, 07/04/2015 - 10:49
A história do Recife teria sido marcada por uma grande tragédia, se não fosse a coragem e determinação de um guia de embarcações chamado Nelcy da Silva Campos. Ele evitou que um navio em chamas explodisse na costa do Recife. O ato heroico lhe rendeu uma estátua em sua homenagem no local do acontecido, mas devido a obras realizadas pela Prefeitura, ela teve que ser retirada, e o “herói contemporâneo de Pernambuco” caiu no esquecimento.
No local onde estava a estátua - próximo ao Marco Zero - hoje está o novo pólo gastronômico. "Para colocar a estátua foi um processo demorado que precisou de autorização de diversos orgãos e para tirar foi sem cerimônia nenhuma, de surpresa e sem avisar a ninguém. Não dá para entender. Mas que bom que o Porto do Recife foi sensível à causa e já está providenciando a recolocação", contou chateado o filho do herói, Nelcy Campos Filho (na foto do lado direito, no local onde a estátua será colocada).
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Em reunião realizada na manhã dessa segunda-feira (8), ficou decidido que o monumento será colocado no novo Termina Marítimo de Passageiros. “A ideia é colocar a estátua até o dia 12 de maio, quando o ato heroico completará 30 anos”, explica o presidente da Sociedade dos Amigos da Marinha, Jorge Aragão. Na data, será feita uma solenidade para prestar homenagens a Nelcy da Silva. Segundo ele, também existe a ideia de colocar, na área interna do Terminal de Passageiros, um painel com um resumo dessa história.
No dia 12 de maio de 1985, o prático da barra Nelcy da Silva Campos evitou que parte da cidade fosse varrida do mapa ao rebocar para longe da costa o navio petroleiro Jatobá, que pegou fogo no Porto do Recife. De acordo com técnicos, a explosão evitada teria destruído tudo num raio de cinco quilômetros, atingindo os bairros de Santo Amaro, Recife Antigo, Boa Vista, Brasília Teimosa e Pina, porque o fogo poderia atingir o Parque de Tancagem do Brum, que estava a 500 metros do petroleiro e armazenava mais de cento e cinqüenta mil metros cúbicos de produtos inflamáveis.
História - A situação de risco começou por volta da 1h30 da madrugada, quando um dos três tanques do navio explodiu, deixando a embarcação em chamas. Atracado no Porto do Recife, o petroleiro carregava 1.500 toneladas de gás butano, conhecido como gás de cozinha.Todo o efetivo do Corpo de Bombeiros do Recife foi mobilizado para combater o incêndio, mas os homens não conseguiram debelar as chamas, que chegavam a 20 metros de altura. A situação era tão grave que o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, foi acordado às presas e teve que deixar o Palácio do Campo das Princesas, onde morava, localizado no Bairro da Boa Vista.
Foi nessa situação que o prático da barra Nelcy da Silva Campos, então com 54 anos, foi chamado às pressas em sua casa pelas autoridades responsáveis pela Capitania dos Portos. Ele chegou ao porto por volta das duas horas da manhã e, com a ajuda de alguns auxiliares, começou um perigoso trabalho. Distribuindo as ordens, chegou a serrar dois dos nove cabos do navio petroleiro, que estava ancorado no Armazém A-1.
Um desses cabos, que foi amarrado a outro de 200 metros, serviu para prender o petroleiro no reboque Saveiro. Para que a saída do Jatobá fosse possível também foi preciso movimentar os navios que estavam na frente e atrás dele. Só depois desse difícil trabalho, a embarcação em chamas pode ser rebocada para alto mar, onde não representava mais perigo para os recifenses. O petroleiro foi deixado à deriva a aproximadamente cinco quilômetros da costa.
O herói - Nelcy da Silva Campos, filho de Nelson da Silva Campos e Juracy Campos - o nome dele é uma mistura do nome dos dois - nasceu no Recife no dia 21 de janeiro de 1931. Trabalhou durante 25 anos como prático da Barra do Porto do Recife, ofício que aprendeu com o pai, que ocupou o mesmo cargo. Nelcy morreu em 1990 de causas naturais.
Por Juliana Marques e Pedro Oliveira, com informações de assessoria