Enfim, após dez anos, o Santa está de volta à Série A
Com uma campanha de campeão sob o comando de Marcelo Martelotte, tricolor carimbou seu retorno para a Série A de 2016
por Rodrigo Malveira | sab, 21/11/2015 - 19:27
Depois de um ano de centenário apagado, sem a conquista do tetra pernambucano e a participação oscilante na Série B, o Santa Cruz iniciava a temporada de 2015. As comparações com aquele ano de 2011, em que tudo começou eram inevitáveis. O tricolor pernambucano tinha novo presidente, mas estava sem técnico, com o elenco extremamente reduzido e com apenas duas competições para disputar durante toda a temporada. Sinais de que a história começava a se repetir.
Alírio Morais
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O novo presidente coral assumia por aclamação a gerência executiva do clube sob o apoio de Antônio Luiz Neto. A diretoria que já vinha atuando nos bastidores do clube desde o início da gestão ALN foi mantida, a única mudança foi a nova função dada a Constantino Júnior. Além de diretor de futebol, ele passava agora a ser vice-presidente coral.
A diretoria tinha planos ousados, entre eles conseguir já no primeiro mandato de Alírio Morais retornar a Série A. Objetivo que parecia impossível para muitos.
A empolgação começou logo com o anúncio do técnico Ricardinho, que apesar de nunca ter decolado na carreira de treinador, vinha gabaritado pela conquista ainda como jogador do pentacampeonato mundial em 2002 pela Seleção Brasileira. O comandante chegou prestigiado com o presidente Alírio Morais, e com a expectativa de ser o nome que levaria o Santa Cruz novamente para o topo do futebol brasileiro. Em pauta também estavam o início da construção do CT, um novo patrocinador master e um considerável aumento de verba para a temporada.
Ricardinho
Apesar da confiança que tinha de Alírio Morais, o mesmo não se podia dizer da relação do treinador com a torcida. As divergências começaram logo após as primeiras contratações, tendo o Paraná como último clube em que esteve a frente, Ricardinho começou a indicar diversos atletas do time sulista para os pernambucanos. Alguns acabaram não vindo, enquanto outros abriram o ciclo de reformulação do elenco coral. Édson Sitta, Pedro Castro e Thiaguinho são exemplos.
Nomes desconhecidos chegavam aos montes no Arruda, mas nenhum que suprisse grandes perdas que a equipe havia sofrido como a do artilheiro Léo Gamalho, que não quis renovar contrato e do goleiro Tiago Cardoso, com uma grave lesão no joelho e previsão de volta apenas para o mês de abril.
O Pernambucano começou, e já na primeira rodada uma derrota por 3 a 0 para o Sport. O retrospecto piorou na segunda rodada, após um novo 3 a 0 dessa vez para o Serra Talhada. Críticas mais pesadas ao trabalho de Ricardinho começaram a surgir, mas a vitória diante do Central fora de casa amenizaram momentaneamente a situação. Contudo, um novo réves sofrido dentro de casa para o Salgueiro colocou o clube coral em situação delicada, era preciso uma vitória contra o Náutico na rodada seguinte para manter-se vivo na competição.
No clássico, o Santa Cruz foi a campo com algumas mudanças, a principal delas no gol. O contestado Bruno dava lugar a Fred. Coincidência ou não, a partir daquele momento a média de gols sofrida pelo tricolor começava a cair e as vitórias retornavam aos poucos.
A campanha coral não decolou, mas o time conseguiu a reabilitação na competição e classificou-se para a semifinal, encarando o Central, que goleou tanto jogo de ida quanto no de volta. A Cobra Coral voltava à final do Campeonato Pernambucano e dessa vez encarava o surpreendente Salgueiro, que tinha eliminado o Sport na outra semifinal. O Carcará por pouco não surpreendeu o próprio tricolor após um empate em 0 a 0. O Santa conseguia vitória magra por 1 a 0 e se tornava o melhor time do Estado mais uma vez.
Série B
As esperanças conquistadas com o título pernambucano, no entanto, não duraram muito. Com apenas uma vitória em sete rodadas, a confiança que vinha sendo depositada em Ricardinho acabou. O fantasma do Z4 e da volta para a Série C já assustava os torcedores.
O Retorno de Marcelo Martelotte
Após a queda de Ricardinho, no mesmo dia o comando técnico do clube já tinha um substituto. Era Marcelo Martelotte, Campeão Pernambucano em 2013 pelo time, mas com uma grande rejeição da torcida por ter logo após o título trocado o Arruda pela Ilha do Retiro. A pressão que não o incomodou. “Já vinha trabalhando dentro da competição. Recebi o convite daqui da diretoria após a sétima rodada, o time não vinha bem, estava na parte de baixo da tabela. Mas eu via um possibilidade de reação. Cheguei aqui com uma missão, um trabalho que se interrompeu em 2013, que é a possibilidade de trabalhar na Série A e buscar um acesso”, declarou.
O primeiro desafio foi contra o Ceará, na Arena Castelão, uma partida que terminou empatada em 3 a 3. Sinais de que aquele futebol ofensivo do time da primeira passagem do treinador pela equipe voltava a aparecer.
A campanha coral melhorou visivelmente, a equipe não só saiu do Z4 como chegou rapidamente ao meio da tabela. Começava-se a almejar mais que uma simples permanência nas Série B.
O Efeito Grafite
A reação do time não era vista nas arquibancadas. A torcida não comparecia em peso como em anos anteriores. A baixa renda atrapalhava os planos da diretoria. Foi então que surgiu a ideia da contratação de um atleta para mexer com os tricolores. Diversos nomes foram especulados, entre eles, Grafite.
O atacante, com duas passagens pelo clube em 2001 e 2002, parecia ser um sonho distante. Ganhando altos salários na Árabia, parecia mais que a vinda dele seria uma “perua”, como se diz no meio do futebol.
Mas o dia 30 de junho de 2015 tornou o sonho realidade. Com toda uma ação de marketing, o retorno de Grafite ao Arruda era anunciado oficialmente. Uma festa foi montada para recepcioná-lo: show, arquibancada lotada e chegada de helicóptero foram parte do roteiro. Então a promessa foi feita, a estreia seria contra o Botafogo em agosto. Todo um planejamento começou a ser traçado, o número de sócios saltou de 4 mil para 10 mil em dia, 50 mil ingressos foram vendidos para o duelo contra os cariocas.
Em campo, o roteiro perfeito, Grafite não foi o grande destaque da partida, mas fez a festa da torcida ao marcar o gol da vitória por 1 a 0 sobre o líder da Série B.
Do fundo do poço para a elite: Santa Cruz de volta à Série A
O aproveitamento sob o comando de Marcelo Martelotte levaria o time a brigar pelo título caso o começo do campeonato não tivesse sido tão ruim. A briga para sair do Z4 já era passado longínquo no Arruda, a vez agora era da briga pelo G4. Sempre a porta da zona de classificação, a equipe coral sofria para conseguir ficar entre os quatro melhores, até a vitória sobre o Bragantino, na 29ª rodada. Finalmente os ares da Série A voltavam ao arruda após 10 anos longe.
No entanto, a passagem pelo grupo dos primeiros colocados durou pouco. As derrotas para CRB e Náutico e o empate contra o Atlético-GO deixaram o sonho do acesso mais distante. Era preciso conquistar agora cinco vitórias em seis jogos tendo duelos, contra Bahia, Botafogo e Vitória - todos na parte de cima da tabela - nesse meio.
O pessimismo passou a fazer parte da torcida, o acesso já era tratado como impossível por alguns. Sentimento que durou até o momento em que Bruno Moraes balançou as redes do Bahia para garantir uma virada histórica na Fonte Nova. Definia-se ali, a volta tricolor para a primeira divisão. “Outra palavra que eu sempre passei para vocês e para o grupo é que o importante não era entrar no G4 durante a competição, era terminar no G4. Vimos vários times que passaram boa parte do campeonato dentre os quatro primeiros e hoje nem têm essa possibilidade de voltar. Então, houve um crescimento dentro da competição, o time foi chegando mais próximo. Mas ficou mais claro nessa arrancada final, principalmente após a vitória contra o Bahia”, disse Marcelo Martelotte.
A vitória contra o Botafogo, consolidou a reação e deixou o time a uma vitória do acesso. Uma decisão contra o Mogi Mirim, que afirmou: Depois de 10 anos de sofrimento, enfim a primeira divisão fará parte da rotina pelos lados do Arruda novamente.