Tópicos | acordos ortográficos

Nesta quinta-feira (16), completam-se 31 anos desde que foi firmado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor a partir de 2004. Por ser considerado um idioma vivo, as regras gramaticais costumam se adaptar aos atuais momentos da sociedade, o que torna comum a existência desses acordos.

Segundo o professor dos cursos de comunicação social da Universidade Guarulhos (UNG) e Doutor em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Inácio Rodrigues, esses acordos ocorrem de maneira natural e são atualizados pelo uso do dia-a-dia.

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Por conta desses acordos, algumas regras da língua portuguesa foram modificadas no decorrer dos anos, entre elas, Rodrigues destaca o uso da supressão que foi retirado de algumas acentuações e a abolição da trema ( ¨ ). “Algumas acentuações em paroxítonas caíram e também alguns hifens (-)”, ressalta.

Apesar das mudanças, Rodrigues lembra que o mais importante é a maneira como o acordo contempla a atualização da língua, como por exemplo, uma das discussões que ganharam foco nos últimos tempos, que é a inclusão do gênero neutro no idioma. “A língua portuguesa começa com uma inclinação machista para este lado, uma vez que o latim por exemplo, possui o artigo neutro para definir aquilo que não é masculino ou feminino”, exemplifica.

Rodrigues explica que mesmo o alemão, que não é uma língua neolatina, possui o artigo neutro, enquanto a língua portuguesa, que tem como base o latim, não dispõe de opções para nomear o que não é nem masculino nem feminino. “Uma língua não evolui sozinha, e sim dentro dos procedimentos de uso dela em uma sociedade. Então, essa discussão de termos o artigo neutro, passou batida durante muito tempo”, afirma.

Agora que a pauta está em discussão, o professor espera que a língua abrace todos os gêneros. “A ideia é que o idioma seja inclusivo. A língua normativa, aquela que tem uma regra, é elitizada, excludente e possui essas características estranhas”, aponta Rodrigues. “Mas ao mesmo tempo, ela possui uma regra, que de uma certa forma, ordena um pouco o pensamento, principalmente quando saímos do nosso grupo linguístico e vai para outro”, complementa.

Por ser algo novo, Rodrigues salienta que o debate sobre a inclusão do gênero neutro na língua, causa um estranhamento na sociedade. “Eu considero viável, pois é necessário incluir as pessoas, inclusive linguisticamente. Só não podemos banalizar a discussão”, relata.

Para Rodrigues, se todos tivessem acesso a uma boa educação, que garantisse o entendimento das normatizações do idioma, seria um ganho para a sociedade. “Para isso, precisaríamos entender o uso da língua, os mecanismos textuais e gramaticais e as estratégias do texto, que estão ligados ao estudo do idioma, mas que infelizmente possui pouco acesso”, comenta.

O professor pontua que todo mundo deveria saber ler e escrever bem, além de dominar minimamente o idioma falado, para além do seu grupo linguístico. “Infelizmente, no Brasil temos as elites sociais, que possuem uma formação melhor e entendem melhor o texto. Eles terão mais acesso e mais estudos, com isso a língua se torna excludente, já que nem todo mundo tem acesso a essa formação”, lamenta Rodrigues.

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