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Mercadorias perdidas, prejuízos inestimáveis e uma tradição de décadas levada em um piscar de olhos. Os tradicionais fiteiros da Praça Dom Vital, em frente ao Mercado de São José, já não fazem mais parte do cenário da capital pernambucana. Recolhidos durante o lockdown (termo usado para designar o fechamento das cidades), no fim do mês de maio, as vendinhas - que serviam também de pontos para amoladores de alicates e chaveiros - foram levadas sem o conhecimento de seus proprietários, que protestaram, nesta terça-feira (28), em frente à Prefeitura do Recife (PCR).

Cerca de 30 trabalhadores autônomos carregaram buzinas e cartazes pedindo a abertura de um diálogo com a PCR. “Eu trabalho como ambulante desde os 15 anos. Comprei o fiteiro de um senhor aposentado e eles arrancaram. Arrancaram com tudo e levaram. Só deu tempo de tirar a mercadoria porque iam arrancar com tudo”, diz seu Nathan, de 76 anos, que desde os anos de 1980, trabalhava na Praça. Analfabeto e com a principal fonte de renda interrompida ele se mantém com ajuda da irmã. 

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De acordo com Alessandra Fonseca, filha de ‘fiteirista’ e líder do movimento, foram enviados vários ofícios para a Secretaria de Ressocialização, para o prefeito Geraldo Julio e para a Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon), todos sem resposta “Estamos sendo tratados como lixo”, diz ela. 

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Alessandra também afirma que, apesar de não possuir um fiteiro, os trabalhadores do entorno são como uma família. Meu pai era fiteirista, eu me formei vendo esse pessoal trabalhar de sol a sol sem direito a nada e não é justo que um prefeito de uma cidade ajeite as calçadas sem olhar para o povo. Aquele comércio é do povo, aquela história é daquelas pessoas que ficam ali”, disse. 

Ela conta que as bancas foram retiradas sem o conhecimento de seus proprietários, que são cadastrados na prefeitura. “Várias vezes o pessoal perguntava ‘tão mexendo nas calçadas, vão mexer nos fiteiros?’ e eles diziam que não iam mexer de jeito nenhum, até por causa da pandemia. Até que, de repente, o pessoal recebeu ligações dos amigos, no lockdown, dizendo que os fiteiros estavam sendo retirados. Alguns conseguiram tirar as mercadorias, mas outros não”, afirma.

“Todo trabalhador é digno do seu salário. Eu sou um trabalhador”

Um dos trabalhadores que não sabe o que aconteceu com seu fiteiro é Rogério Andrade, amolador de alicate e chaveiro, de 36 anos. “Aquele fiteiro foi comprado pelo meu tio e em 1999 ele passou o fiteiro para mim com toda a documentação. Desde essa época até os dias de hoje eu exerço a profissão de amolador de alicate”. 

Rogério conta que em 2008 a PCR fez o cadastro de quem trabalhava na praça. “Eles acham que porque somos leigos a gente não ia guardar os documentos. Eu espero uma resposta da prefeitura porque eu quero trabalhar. Todo trabalhador é digno do seu salário. Eu sou um trabalhador informal, eu tenho profissão. Há mais de 20 anos que eu trabalho no mesmo lugar e espero uma resposta”, desabafa.

Ele conta que durante o Lockdown recebeu uma ligação informando que seu fiteiro estava sendo levado. O chaveiro saiu de Camaragibe, na região Metropolitana do Recife, até o Centro, para tentar salvar o seu motor de amolar. “Eles aproveitaram que a gente estava sem poder se locomover e arrancaram os nossos fiteiros, sem ter diálogo, sem ter conversa. Pegaram nossos fiteiros, colocaram em cima do caminhão e levaram. Até hoje eu não sei qual é o paradeiro do meu fiteiro” afirma. 

De acordo com Alessandra os fiteiros foram levados para o pátio da Dircon, mas pela falta de manuseio correto, foram danificados e saqueados. “Estão lá abertos, as ferramentas sumiram e a prefeitura sequer dá uma resposta”, reclama. No início da tarde a secretária executiva de Operações Especiais da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano, Marta Lima, pediu para receber os manifestantes e suas queixas.

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