Vista há até algumas décadas como uma característica benéfica em crianças, a superdotação vem ganhando novos olhares na área de Educação. O fato é que, se não for acompanhada de maneira adequada, a alta habilidade pode se tornar um transtorno que leva a alterações no humor, desinteresse por algumas áreas do conhecimento e comportamento antissocial.
A pedagoga Jackeline Martins, especialista em Psicopedagogia com Habilitação em Educação Especial, explica que a superdotação costuma ser identificada nos primeiros anos escolares. "São aquelas crianças que vão além das expectativas. Você solicita algo e ela sempre traz um resultado a mais se comparada com os colegas, se diferenciando da inteligência comum", explica a profissional, que também é coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade UNINASSAU em Natal.
##RECOMENDA##Criatividade e aprendizado rápido são algumas das principais características. É a partir desses primeiros anos que o superdotado deve ser acompanhado por especialistas. Isso porque, além dos riscos de não se perceber que existe uma superdotação, essa característica especial rapidamente será percebida pelo aluno, gerando ansiedade."Esses indivíduos têm sinapses diferentes que produzem ideias e pensamentos acelerados, confundindo-os com os hiperativos. Porque conseguem aprender muito mais rápido que os demais eles ficam ansiosos por avançar nos estudos mas vêm que os colegas não o acompanham. Isso gera insatisfação, impaciência com os outros alunos e até com o próprio professor. As relações de sala de aula se tornam um desafio", descreve Jackeline.
O resultado desse cenário é um total desinteresse por algumas áreas, baixo rendimento escolar e uma falta de sustentabilidade nas escolhas: são capazes de passar em diversos concursos e vestibulares concorridos, mas não se identificam com nenhum segmento profissional ou de conhecimento. As mudanças de humor podem se traduzir em respostas ríspidas aos pais e educadores, mas até evoluir para violência física.
Para diagnosticar a superdotação e tratá-la de forma adequada, é necessário um trabalho multidisciplinar conforme explica a especialista: um neuropediatra e o psicopedagogo clínico são os principais. "Alguns exercícios ajudarão a criança a extravasar a necessidade exagerada de conhecimento. Dependendo do estágio, são prescritos medicamentos leves que diminuem a ansiedade", afirma.
Intervenções como a robótica e o uso de jogos digitais também têm sido usados com sucesso no tratamento dos superdotados. Ela acrescenta que o acompanhamento deve começar o mais cedo possível, tendo em vista que na idade adulta é a mais difícil de acomodar as sinapses cerebrais e adaptar o paciente ao convívio social.
Mesmo assim, não se deve ter a ideia de que estas crianças devem ser separadas do contexto educacional dos alunos típicos. "Não há necessidade de salas ou escolas especiais para elas. Um bom acompanhamento permite que ela conviva com as demais crianças e aproveite de forma adequada o ambiente de aprendizado".
Por Vinícius Albuquerque