Tópicos | Aurélia Nobels

A brasileira Aurelia Nobels, de 15 anos, foi escolhida pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para ingressar na academia de pilotos da Ferrari. Aurelia foi a vencedora do "Girls on Track - Rising Stars", programa elaborado pela entidade para fomentar a participação feminina no automobilismo.

Aurelia é a única mulher no grid da Fórmula 4 brasileira e dá um grande passo na busca por notoriedade no cenário internacional para futuramente chegar à categoria máxima, sonhada por todos os pilotos, a Fórmula 1.

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"Estou muito feliz, porque me preparei muito para conquistar essa vaga. Ser parte da academia de pilotos da Ferrari sempre foi um sonho. Espero poder inspirar mais garotas a entenderem que elas podem estar no automobilismo, ou onde elas quiserem", comemorou a brasileira após o anúncio do resultado.

"Meu objetivo é chegar na Fórmula 1. Sei que muito está sendo feito para que as mulheres tenham mais espaço no esporte e quero fazer minha parte para que isso aconteça também. Sou a única mulher no grid da Fórmula 4 Brasil e espero que o fato de eu estar no grid possa encorajar outras mulheres a entrarem na próxima temporada", ressalta.

Filha de belgas e nascida em Boston, nos Estados Unidos, Aurelia Nobels se mudou para o Brasil quando tinha três anos. Sua paixão pela velocidade floresceu aos 10, época em que começou a se dedicar ao automobilismo.

O presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, parabenizou a brasileira pelo feito e disse que a entidade tem como objetivo aumentar a participação feminina na modalidade. "O fato de jovens talentos femininos ao redor do mundo estarem sendo reconhecidos e apoiados é um sinal muito positivo. A FIA está na vanguarda da mudança quando se trata de diversidade, e iniciativas como Girls on Track - Rising Stars são uma parte importante de nossa meta de aumentar significativamente a participação no esporte a motor nos próximos anos", afirmou.

"Aurelia se destacou desde o começo pela forma como geriu as várias etapas do programa, confirmando ao volante as competências que já tinha demonstrado ao longo dos testes físicos. Ela venceu três adversárias muito competentes, conhecendo imediatamente o carro de Fórmula 4, uma categoria chave para um piloto iniciante. Aqui na Ferrari Driver Academy, estamos prontos para apoiá-la e garantir que esteja bem preparada, que é um teste único para os jovens mais promissores", valorizou Marco Matassa, diretor da academia de pilotos da escuderia de Maranello.

Após passar por testes na pista de Paul Ricard, na França, foram selecionadas as quatro melhores candidatas do concurso. Mais tarde, elas tiveram diversas atividades no circuito de Fiorano, na Itália. Nesta etapa, as pilotos realizaram testes relacionados a habilidades físicas e psicológicas. Elas também completaram um fim de semana típico de Grande Prêmio, com treinos livres, qualificatório e uma corrida em um carro de Fórmula 4.

Em 2022, Aurelia Nobels pilotou na Fórmula 4 na Espanha e na Dinamarca, além da categoria brasileira. Na Espanha, participou de três provas, tendo 23º lugar como a melhor colocação. No torneio dinamarquês, se destacou conseguindo um sétimo e um oitavo lugares nas três etapas que disputou. Na F-4 brasileira, ocupa a 16ª posição, restando três corridas a serem disputadas no fim de semana entre 9 e 11 de dezembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

A Fórmula 4 Brasil, que terá início em maio, surge em meio à carência de competições de base no automobilismo nacional. O evento tem seis fins de semana previstos até novembro, com três provas em cada. Entre os 16 pilotos, que estão divididos em quatro equipes, Aurélia Nobels é a única garota. Não que seja um cenário estranho à jovem de apenas 15 anos, acostumada a ser minoria nos torneios que disputa.

"Há poucas meninas no esporte e é bem difícil, porque a gente sofre com os meninos, por ser um esporte bem machista. Mas meus pais sempre apoiaram muito, meus amigos também. Quando falei [que seria piloto], eles [amigos] ficaram até chocados, porque ver uma menina nesse esporte é difícil, mas estão sempre me apoiando, perguntando e ficam felizes com os resultados", contou Aurélia, à Agência Brasil.

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O sobrenome da piloto, aliás, não deixa dúvidas da origem estrangeira. Aurélia nasceu em Boston (Estados Unidos) e tem pais belgas. A família vive no Brasil desde que a jovem tinha três anos, mas o carinho pelo país vem de antes, também motivada pelo automobilismo.

"Quando era pequeno, tinha uma bandeira brasileira no quarto, porque gostava do Ayrton Senna. Ele era meu ídolo. Sempre sonhei conhecer o Brasil, tive oportunidade profissional [para isso] e depois de mudar para cá. Toda a família mudou, gostou muito e aqui ficamos", recordou o pai de Aurélia, Kevin Nobels.

Dos quatro filhos de Kevin, dois seguiram o caminho do esporte a motor - o irmão mais novo de Aurélia, Ethan, também pilota. Ambos iniciaram no kart com Tuka Rocha, piloto com destaque na Stock Car, que faleceu em 2018 em um acidente aéreo. A jovem tinha dez anos quando conheceu a modalidade e participa de torneios desde 2017. Além de pistas brasileiras, ela já competiu na Europa e foi a única representante feminina na categoria OK Junior (12 a 14 anos) no Campeonato Mundial de Kart de 2020, em Portimão (Portugal).

"Eu achei bem diferente [competir na Europa], em relação ao kart e às pistas. Sobre machismo, eles veem menos diferenças entre meninos e meninas. Além disso, há mais meninas [pilotando] na Europa", descreveu Aurélia, que tem a paulistana Bia Figueiredo, ex-piloto de Stock Car e Fórmula Indy, entre as referências na modalidade - ao lado do monegasco Charles Leclerc e do britânico Lewis Hamilton, ambos da Fórmula 1. 

"Eu a conheci [Bia] no começo da minha carreira. É uma pessoa incrível, muito gente boa. Ela até me mandou mensagem quando entrei na TMG [equipe de Aurélia na Fórmula 4], já trabalhou com Thiago [Meneghel, chefe da escuderia]", contou.

A temporada brasileira da Fórmula 4 será a primeira de Aurélia dirigindo um monoposto. Para se adaptar, a jovem fez testes na Europa - o carro da F4 de lá é o mesmo que será utilizado por aqui - e conheceu as pistas que terá pela frente em 2022, a bordo de um Fórmula 3.

"[O monoposto] É bem diferente do kart, que é a base de tudo. O carro é mais pesado e mais rápido e o freio é mais duro. Tem de trabalhar bastante o físico para aguentar o carro e fazer bastante simulador para conhecer as pistas, saber onde é a primeira curva, onde frear", disse a piloto.

Aurélia sonha com a Fórmula 1, que não tem uma piloto mulher desde a italiana Giovanna Amati, que participou dos treinos oficiais de classificação em três etapas da temporada 1992. Já a última a disputar uma prova foi a compatriota Leila Lombardi, que esteve em 12 corridas, entre 1974 e 1976. De lá para cá, as britânicas Susie Wolff - atualmente a chefe-executiva da equipe Venturi, na Fórmula E (monopostos elétricos) - e Katherine Legge são as que mais chegaram perto de competir na principal categoria do automobilismo.

"É muito difícil, poucas pessoas conseguem, mas espero que dê certo e eu consiga chegar lá um dia", afirmou a jovem, que, a partir de 2023, com 16 anos, fica apta a participar das seletivas para a W Series, categoria internacional voltada somente a mulheres e que teve a catarinense Bruna Tomaselli na temporada passada.

E quanto à bandeira que defenderá? Em 2020, no Mundial de kart, Aurélia e o irmão competiram pela Bélgica. Apesar do sangue meio norte-americano, meio europeu, Aurélia quer representar o país onde cresceu e no qual a família decidiu viver.

"Vim para cá muito cedo, moro há 12 anos, então me considero brasileira. Prefiro representar o Brasil", concluiu a piloto, que tem as bandeiras dos três países estampada no capacete.

O primeiro fim de semana da Fórmula 4 Brasil será o de 14 e 15 de maio, em Mogi Guaçu (SP). Nos dias 30 e 31 de julho, as provas serão em Brasília. A categoria volta para Mogi Guaçu nos dias 25 e 26 de setembro. A quarta etapa está marcada para Goiânia, em 22 e 23 de outubro. A temporada chega ao fim nos dias 19 e 20 de novembro, outra vez em Brasília.

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