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Comemorado em 10 de agosto, o centenário de Jorge Amado inspira milhares de homenagens, tamanha é a riqueza de sua obra, responsável pela construção da identidade do povo brasileiro. Ao mesmo tempo que se debruçava sobre a cultura popular, a riqueza descritiva de Jorge Amado o aproximava dos mestres acadêmicos, tendo integrado a Academia Brasileira de Letras nos anos 1960. O Portal  LeiaJá preparou, até a próxima sexta-feira (10), uma série de matérias sobre os desdobramentos da obra do autor para outras mídias. Nesta quarta-feira (8), você confere a primeira delas, que aborda as adaptações do trabalho do escritor baiano para o cinema.

Com temáticas regionalistas que exploram o homem brasileiro espalhado nos mais distantes recantos de nosso país, as obras de Jorge Amado levam para o cinema características intrísecas: cores tipicamente brasileiras, festas, erotismo, aspectos sensoriais, tais como o cheiro e os sabores, tudo isso ambientado no cotidiano de personagens nordestinos de veias essencialmente tropicais. Amado é o escritor brasileiro com maior número de obras adaptadas para o audiovisual. Sua parceria com a sétima arte teve início em 1948, quando sua obra Terras sem fim ganhou as telas com a adaptação intitulada Terra Violenta, protagonizada por Anselmo Duarte.

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Visto por dez milhões de pessoas, Dona Flor e seus Dois Maridos foi dirigido por Bruno Barreto, em 1976, e teve Sônia Braga no papel da professora de culinária Dona Flor. José Wilker e Mauro Mendonça completaram o time, interpretando o fogoso ex-marido Vadinho, que ressuscita para apimentar a vida de Dona Flor, e o farmacêutico Dr. Teodoro, que se casa com a viúva, respectivamente. A situação deixa a mulher em dúvida sobre o que fazer com os dois maridos, que passam a dividir o seu leito. O filme ficou marcado como o segundo maior sucesso da história do cinema brasileiro por seu recorde de bilheteria, ficando atrás somente de Tropa de Elite 2, a partir de 2010.

Cenas de nudez e o caráter cômico fazem da adaptação um dos grandes fenômenos do cinema nacional, no que diz respeito ao reconhecimento da obra do escritor como fundador do imaginário brasileiro. Sônia Braga também foi responsável por eternizar a audácia feminina de Gabriela, adaptada da obra Gabriela, Cravo e Canela em 1983. Levando sensualidade e sabor para o Brasil, o segundo filme de Bruno Barreto baseado na obra do escritor é um clássico desdobramento amadiano, que também ganhou adaptação para a TV, em 1975. A narrativa é conduzida por duas principais vertentes: o campo amoroso - que tem o romance entre a mulata retirante Gabriela e o turco Nacib, vivido por ninguém menos que Marcelo Mastroianni - e o campo social-político, com a chegada do progresso na cidade de Ilhéus, interior da Bahia, onde a história é ambientada. Parte do sucesso da adaptação se deve à relação apimentada da protagonista com o comerciante turco e da imagem feminina criada por Sônia Braga para interpretar o papel.

Amigo e fã declarado da obra de Jorge Amado, Nelson Pereira dos Santos encabeçou Tenda dos Milagres (1977), que o levou à disputa pelo Urso de Ouro no Festival de Berlim, em 1977. Dez anos depois, o cineasta filmou Jubiabá. Na história, Nelson deu vida ao romance literário entre uma rica filha de um comendador e Antonio Balduíno, negro órfão do morro do Capa-Negro, de Salvador, protegido pelo feiticeiro e macumbeiro centenário Jubiabá.

A vida dos Capitães da Areia ganhou versão cinematográfica o ano passado, com direção da neta do escritor, Cecília Amado. Foi a última obra de Jorge adaptada para o cinema. Cecília deu autenticidade à narrativa, evocando os problemas sociais da "quadrilha" de meninos de rua de Salvador por meio de uma fotografia rica e de adolescentes de ONGs da Bahia selecionados para interpretarem os Capitães da Areia. Antes do longa homônimo, Tieta do Agreste (1996), dirigido por Cacá Diegues, e Quincas Berro D'Água (2010), assinado por Fernando Machado, estrearam no Brasil como adaptações de novelas, que reproduziram as respectivas obras do baiano.

O "namoro" de Jorge Amado com a sétima arte não se restringia a filmografia de seus romances. Não foi à toa que o escritor participou do Festival da Cannes como membro do júri em 1985. Entretanto, coube a Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga registrar a relação do escritor com o cinema, indo além das adaptações de seus livros. As autoras assinam a publicação Jorge Amado e a sétima arte, que tem lançamento na Fundação Casa de Jorge Amado, nesta sexta-feira (10), dia oficial do centenário. A obra traz depoimentos de cineastas, autores, roteiristas, diretores e atores, além da bibliografia e filmografia completas. Nomes como Calasans Neto, Sônia Braga, Walter da Silveira, João Carlos Sampaio, Guido Araújo, entre outros, assinam os textos do livro, que é uma mistura de trabalho acadêmico com livro de depoimentos.

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