Tópicos | CEONHPE

[@#galeria#@]

A luta pela vida e em prol da educação é o que você confere na segunda matéria da série de reportagens “Nossa Escola”, do LeiaJá. Uma parceria entre instituições e a rede de ensino do Recife está possibilitando que crianças com câncer continuem estudando dentro do hospital. São lições para a gente aprender com pequenas pessoas que passam por cima da dor da doença e se debruçam sobre o aprendizado.

##RECOMENDA##

A doença, várias crianças, uma classe e muitos sonhos

Nem sempre o dia começa bem para as crianças diagnosticadas com câncer. Os efeitos do forte tratamento de quimioterapia e a baixa no sistema imunológico dos pequenos os deixam indispostos para algumas atividades. Em alguns momentos, a dura rotina do internamento também provoca tristeza. Arrancar sorriso dos pacientes, então, pode até parecer uma tarefa difícil. Não para uma professora que, de segunda a sexta-feira, dedica toda sua sabedoria para ensinar crianças dentro do hospital.


É no Centro de Onco-Hematologia Pediátrica (CEONHPE) do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), no Recife, que funciona a Semear, a primeira classe hospitalar de Pernambuco que tem o objetivo de manter crianças com câncer estudando. A classe funciona de forma experimental desde setembro do ano passado. Oficialmente, após um decreto municipal, as atividades começaram em março deste ano. Mas independente de quando começou de maneira oficial, a certeza que há, segundo depoimentos dos envolvidos, é que a dor da doença é amenizada graças ao dom do aprendizado. Seja no leito do internamento ou na própria sala de aula, a educação tenta ganhar o espaço da tristeza e alimenta a esperança das crianças por uma vida melhor e mais saudável.

“Às vezes eu acordo triste, sem vontade de fazer nada, com o corpo doendo. Só que a tia vai lá no quarto, brinca, me faz sorrir e diz que me quer perto dela e dos outros amiguinhos. Quando a gente chega na sala e começa a estudar, toda aquela tristeza vai embora. E pra falar a verdade, eu gosto mais daqui do que minha antiga escola”, conta o paciente João Gabriel Quirino, de 11 anos, aluno da 5ª série. João é natural de Maceió, em Alagoas, e faz tratamento no Recife desde novembro do ano passado.

A classe hospitalar é fruto de uma parceria entre o Grupo de Ajudada à Criança Carente com Câncer (GAC-PE), Prefeitura do Recife e o Instituto Ronald McDonald. A Secretaria de Educação Municipal é responsável por todo aparato pedagógico material e pessoal. As aulas são aplicadas com base nas informações prestadas pelas escolas de origem dos pacientes, podendo, inclusive, as provas serem aplicadas no próprio hospital. São beneficiadas crianças de 6 a 14 anos, alunas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.

[@#video#@]

Professora da Rede Municipal de Ensino há 15 anos, Cristiane Pedrosa nunca viveu a experiência de ensinar para crianças enfermas. Agora, diante dessa nova realidade, a docente afirma que é feito um trabalho que prima pelas obrigações escolares, mas que respeita o estado de saúde dos meninos. “Falando pelo meu lado profissional, é uma experiência maravilhosa. Aqui eu convivo com crianças de várias séries e de conhecimentos diversos. E claro que vou aprendendo também como professora. Agora, pelo lado pessoal, é um pouco difícil porque são crianças com doenças crônicas. Nem sempre elas estão bem para estudar e eu tenho que respeitar isso. É um trabalho muito rico e que precisa ser espalhado para crianças de outros cantos do Brasil”, conta Cristiane.

As aulas na classe são realizadas no turno da tarde. O horário da manhã fica reservado para que a professora visite nos leitos as crianças que não reúnem no dia condições para assistir à aula. Mesmo impedidas de se locomoverem, a docente leva livros e materiais pedagógicos em bandejas até elas e aplica o assunto, respeitando limite de cada aluno. No encontro da sala, os pacientes são acomodados conforme suas séries. Adrienne Isabelly Alves, de 6 anos, é uma dos alunos que fazem questão de frequentar as aulas. Sorridente e brincalhona, a pequena é clara ao responder sobre o que mais gosta de fazer. “O que eu mais gosto de fazer aqui é a tarefa. Português é a minha matéria preferida, mas, também amo muito fazer pintura”, relata a aluna do 1º ano.

Entre as cerca de 20 crianças atendidas pela Semear, existem casos que o contato escolar foi retomado dentro do hospital ou incrivelmente apenas teve início após o internamento hospitalar. A jovem Larissa Gomes, 13, não estava estudando onde mora, no município de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. “Deu vontade de voltar a estudar aqui com a professora e os colegas. Escrevi até uma história bem bonita da sereia”, conta, aos risos.

Reflexos da educação no tratamento

Segundo uma das médicas responsáveis pelo tratamento dos pacientes, Laurice Siqueira, aplicar educação dentro do hospital, possibilitando que os pacientes continuem o que faziam antes do internamento, ajuda no processo médico. “A sala de aula hospitalar contribui fortemente para essa adesão ao tratamento, principalmente porque implica numa continuidade das atividades habituais da criança dentro do hospital. A criança vem para o hospital sabendo que vai ser submetida ao seu tratamento para a doença, atrelado a vários motivos de sofrimento, mas também com a certeza de que vai continuar com sua atividade escolar”, explica a médica.

A profissional também destaca que o psicológico dos pacientes é beneficiado pelas aulas. “É como se não houvesse uma interrupção da sua atividade, que é a única obrigação da criança: ir para a escola. Ele vem, faz o tratamento e continua com sua atividade cotidiana”, salienta a médica.

Mãe do paciente João Gabriel, a técnica em enfermagem Maria Nilza Machado acredita que a sala de aula ajuda João a se manter feliz e esperançoso pela melhora. “Em alguns momentos difíceis, quando ele está pra baixo e triste, a professora chega, fala das brincadeiras, das leituras, e ele se levanta e vai para a sala. Quando reencontro ele, João já está bem melhor e às vezes nem sente mais dor. Ele também sabe que aqui é um lugar que tem uma grande probabilidade da sua cura. Sempre digo pra ele que é melhor passar uns dias aqui e se curar”, relata dona Maria.

O investimento para construção da Semear, oriundo do Instituto Ronald McDonald, foi de pouco mais de R$ 44 mil. Além de contar com profissionais da Rede Municipal de Ensino do Recife, os alunos são beneficiados com diversos materiais pedagógicos, como tablets, livros e robôs das aulas de robótica. E justamente a pedagogia atrelada aos robôs é o tema da próxima matéria da série de reportagens “Nossa Escola”. Você poderá conferir, na próxima quinta-feira (20), como a robótica vem mudando a vida de alunos das escolas municipais do Recife.

>> Leia também as outras quatro reportagens da série: Em busca do letramentoOs reflexos da robótica na educação municipal do RecifeO silêncio que não cala a educação e O jogo em que a educação sai vencedora.         

 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando