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Após impasse na disputa pela água do principal manancial paulista, a renovação da outorga do Sistema Cantareira foi adiada para maio de 2017. Em nota divulgada nesta terça-feira (20), a Agência Nacional de Águas (ANA) informou que a decisão de adiar pela terceira vez a definição das novas regras de operação dos reservatórios foi tomada em consenso entre os agentes envolvidos. Antes da crise hídrica, o Cantareira abastecia cerca de 14 milhões de pessoas na Grande São Paulo e nas regiões de Campinas e Piracicaba.

A renovação da outorga - a atual é de 2004 - estava prevista para outubro de 2014, mas acabou sendo adiada para este mês por causa da crise de estiagem no sistema, a pior em 84 anos de registros. No dia 8 deste mês, contudo, um dia antes do prazo final para a apresentação da proposta conjunta da ANA e do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), do governo Geraldo Alckmin (PSDB), a renovação foi postergada para dezembro de 2015 por falta de acordo entre os dois órgãos gestores.

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Agora, a definição das regras operacionais do Cantareira que havia sido prevista para o dia 15 de dezembro só será feita daqui a um ano e meio. "Considerando a complexidade do tema e a qualidade das propostas apresentadas, entendemos que a conclusão da nova outorga do Sistema Cantareira deve ser adiada para maio de 2017, para que seja feita uma discussão com a máxima qualidade técnica e convergência", afirma a ANA.

A agência federal destaca que o adiamento da renovação da outorga "não gera prejuízo à operação do sistema". Desde março de 2014, as regras para exploração do Cantareira pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e pelos municípios da região de Campinas vêm sendo definidas pela ANA e pelo DAEE em comunicados conjuntos.

Essa mecanismo, afirma a agência, "continuará sendo adotado até a aprovação da nova outorga". Em 15 dias, os agentes envolvidos na outorga vão encaminhar propostas de uma nova agenda para as discussões da renovação.

Participaram da reunião o presidente da ANA, Vicente Andreu, o secretário paulista de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, o diretor do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) Marley de Mendonça, além de representantes do consórcio, da agência e do comitê da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, da Companhia de Saneamento de Campinas (Sanasa) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O novo prazo para renovação da outorga pode coincidir com a entrega parcial da transposição de água da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira. Autorizada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) neste mês, ela deve transferir 5,1 mil litros por segundo da Represa Jaguari (Paraíba do Sul) para o reservatório Atibainha (Cantareira), aumentando a segurança hídrica da região. Segundo Alckmin, a obra deve ser concluída em um ano e meio ou dois anos, ou seja, entre abril e outubro de 2017.

Impasse

Além da crise hídrica atual, que colocou o Cantareira há mais de um ano no volume morto, a falta de acordo entre os agentes é o principal motivo para o adiamento da outorga. Diante das incertezas sobre qual a capacidade real e segura de produção de água do manancial, a Sabesp quer manter o direito de retirar até 33 mil litros por segundo para abastecer a Grande São Paulo enquanto que as cidades do PCJ querem dobrar a exploração do sistema de 5 mil para 10 mil litros por segundo.

Além disso, a ANA e o DAEE, órgãos que regulam a operação do sistema, também divergem sobre as regras operacionais que devem valer pelos próximos dez anos. O DAEE propõe que a meta de vazão (água liberada das represas) para atender o interior seja medida em pontos espalhados nos cursos dos rios, e não mais na saída dos reservatórios. Com isso, afirma, seria possível evitar descargas desnecessárias e guardar mais água no sistema.

Para a ANA, contudo, a proposta provocaria uma perda de 48% no volume de água liberado para o interior pelo "modelo de faixas" que estava sendo discutido entre os órgãos. Nele, os gestores definiram cinco faixas de operação que variam de acordo com o nível de armazenamento do sistema.

Na faixa úmida, por exemplo, que vai de 85% a 100% da capacidade, seria permitido que a Sabesp retirasse os 33 mil litros por segundo das represas, o máximo permitido, e o PCJ, 8 mil l/s. Já na faixa de restrição, entre 20% e 30%, a captação seria reduzida para 23 mil l/s e 4 mil l/s, respectivamente.

Abaixo de 20%, o sistema entraria em uma operação especial, como ocorre hoje. A Sabesp capta 13,2 mil l/s para atender cerca de 5,2 milhões de pessoas na Grande São Paulo - antes da crise eram 8,8 milhões -, e outros 1,5 mil l/s são liberados para o PCJ, onde cerca de 5 milhões de pessoas dependem do manancial.

Com o volume de 12 mil litros de água por segundo, o Rio Piracicaba registrou na manhã desta segunda-feira (10) a menor vazão deste ano. De acordo com a medição da Rede Telemétrica do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), na área central de Piracicaba passavam o equivalente a apenas 22% da média para o período, que é de mais de 54 mil litros.

O nível de água estava em apenas 85 centímetros, altura que fez pedras reaparecerem em vários pontos do leito do rio. Para o mês de agosto o Piracicaba deveria estar com mais de 1,40 metro de profundidade. A situação preocupa porque a época considerada de seca está apenas começando.

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A meteorologia também não está otimista com o futuro e a previsão de chuvas para a região não é boa. De acordo com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a chance chover na região até o início da próxima semana é de apenas 5%.

Importância

O Rio Piracicaba é considerado de grande importância para o Estado e está ligado ao Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento da Grande São Paulo.

No final da tarde, a vazão melhorou um pouco, chegando a 13,2 mil litros de água por segundo no trecho urbano de Piracicaba, com o nível do rio indo a 88 centímetros de profundidade.

O superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), Alceu Segamarchi Júnior, afirmou que a autarquia vem discutindo semanalmente regras em conjunto com a Agência Nacional de Águas (ANA) relacionadas a transposições ao Sistema Cantareira.

Segamarchi apontou que, em novembro, as afluências no Cantareira somaram 45% da média e destacou a necessidade de chuva em Minas Gerais. "É melhor que chova em Minas. Chover na barragem tem pouca influência na barragem propriamente dita, no reservatório. É melhor que chova nas nascentes, no sul de Minas", disse.

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"Estamos estabelecendo regras junto com a ANA praticamente toda semana, revendo os volumes, as retiradas. Por exemplo, para a bacia do PCJ, na medida em que as vazões lá diminuem, a gente libera um pouco mais aqui. A gente vai levando desse jeito até quando for possível", afirmou, ao chegar para o seminário "A crise de escassez hídrica no Brasil e seu gerenciamento no Estado de São Paulo", promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES-SP).

Termina hoje o prazo para que usuários dos rios ligados ao Sistema Cantareira apresentem propostas que poderão ser incorporadas às regras que serão definidas para enfrentar a crise hídrica. As ideias são sendo encaminhadas para a Agência Nacional de Águas (ANA) e para o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee), que devem fazer um único projeto, a ser anunciado até a segunda quinzena do mês. Muitas das propostas partiram dos usuários das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), em Campinas e cidades próximas.

O Consórcio PCJ elaborou três projetos. Um deles sugere a decretação do "estado crítico" do sistema, o que permitiria a adoção de medidas imediatas para reduzir o consumo de água por parte da população.

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Também está sendo proposto que seja respeitado o "princípio constitucional da isonomia no trato com a água". Isso ajudaria as indústrias e grandes usuários, que, pela proposta inicial do governo federal, teriam até 30% menos água. Se acatada esta questão, o corte valeria para todos e incluiria a Grande São Paulo. O PCJ ainda propõe que as saídas encontradas agora não sejam definitivas e novamente discutidas durante a renovação da outorga do Cantareira, em outubro de 2015.

No geral, quem depende da água em Minas Gerais e será prejudicado, se mostra contra ceder mais água para São Paulo, posição que foi colocada durante três encontros realizados no sul de Minas com representantes da ANA e do Daee.

Procurada, a Agência Nacional de Águas (ANA) não divulgou o número de sugestões recebidas. Também não há uma data definida para que as novas regras entrem em vigor.

Desemprego. Um levantamento do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) aponta que a falta de água na região do PCJ pode causar 3 mil demissões.

Em Campinas, o Ciesp aponta que mais da metade das empresas não tem fonte alternativa de água. Por isso, indústrias pediram autorização ao Daee para substituir a captação da água em rios por poços artesianos. Não há definição do órgão estadual. A região tem 557 empresas, com faturamento anual de R$ 26 bilhões.

O prefeito de Indaiatuba (SP) e atual presidente do Consórcio PCJ, Reinaldo Nogueira, diz que empresas da região já pensam em mudar, caso não vejam os investimentos necessários para que possam ter tranquilidade. "Como uma empresa vai querer se instalar em Itu, por exemplo?", diz, se referindo à cidade que tem sido uma das mais prejudicadas com a crise hídrica e está em esquema de racionamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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