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No dia 15 de novembro, milhares de recifenses comparecerão às urnas para escolherem seus representantes no poder municipal. Entre os candidatos que concorrem a uma das 39 vagas disponíveis na Câmara de Vereadores do Recife, alguns já são bastante conhecidos dos eleitores, não por sua tradição política mas pelas carreiras construídas nos palcos, trios elétricos e Carnavais da capital pernambucana. 

Alguns artistas já consagrados em suas áreas concorrem ao pleito deste ano. O LeiaJá conversou com três deles: Michelle Melo, Sheila Toy e Nonô Germano; para conhecer suas propostas e descobrir o que os motivou a entrarem na vida política. O cantor Augusto César, outro famoso a se candidatar nesta eleição, também foi procurado mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. 

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Os artistas ouvidos apresentaram diferentes propostas, no entanto, todos disseram o mesmo quando questionados sobre conciliar a arte com a política: Michelle, Sheila e Nonô garantem que continuarão se dedicando à música, como sempre o fizeram, mesmo se eleitos forem. Confira as entrevistas. 

Michelle Melo

Reprodução/Instagram

A cantora Michelle Melo, conhecida como a Rainha do Brega, concorre a uma das vagas na Câmara Municipal do Recife pelo PSB, partido do prefeito da capital e do governador de Pernambuco. Apostando em uma campanha carregada de emoção, ela busca nas próprias origens a motivação para construir alguns dos projetos que já vêm sendo apresentados ao eleitorado. “Não tem muito segredo, sou apenas uma cidadã que está cansada de reclamar e todo ano ver as coisas sem melhorar. Eu comecei a pensar como população, não como candidata, mas como mãe, como mulher, filha; como alguém que ao longo desses anos vem administrando a própria vida, em meio a altos e baixos, e sempre consegue trazer o melhor pra si e para os que estão ao redor. Comecei a ver de forma menos razão e mais coração”. 

Nascida em uma das várias comunidades periféricas do Recife, a cantora-candidata pretende atuar diretamente com a população moradora dessas comunidades. Entre seus projetos, estão a capacitação profissional para mulheres vítimas de violência doméstica - com disponibilização de creches para seus filhos; teatro nas escolas com temas educativos para os jovens; e um gabinete itinerante para estar próxima à população. “É normal  encontrar o político e ele já chegar com propostas prontas, eu acho que essa época de propostas postas forjadas já passou, a gente  precisa entender que o Recife é feito por bairros e comunidades e cada um tem uma necessidade específica, merece uma atenção diferente. A nossa primeira proposta consiste em ouvir a comunidade, eu pretendo montar um gabinete móvel que  uma vez por semana visitará comunidades diferentes para que elas me passem suas necessidades e assim construir os projetos”.

Michelle explicou que pretende contar com os próprios moradores das comunidades para colocar os planos em prática, usando seus exemplos e mão de obra na execução dos projetos para dar-lhes andamento e, também, atuando como agentes modificadores da própria realidade. “Eu sei que o Estado hoje não tem condição financeira de oferecer 40 cursos por comunidade, mas nós podemos sim usar aquelas pessoas da comunidade que já têm uma vida profissional, o barbeiro, o padeiro, a faxineira, a enfermeira, e pegá-las para que elas passassem a ser as estrelas do bairro, não mais o traficante. A gente precisa criar outros ídolos, os ídolos reais. É devolver a esperança às pessoas, mostrar que você pode sim, mesmo vindo da comunidade pobre”. 

Sheila Toy

Reprodução/Facebook

Em mais de 20 anos de estrada, Sheila Toy já passou pelas bandas bandas Silhueta, Forró Mascarado e Espelho Meu. Atualmente em carreira solo, a cantora está candidata à vereadora do Recife pelo PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo ela, a decisão de entrar na política foi tomada após os vários pedidos do próprio público. “As pessoas sempre me cobraram: ‘por que você  não entra na politica?’, ‘por que você não faz algo pela cultura além da sua música?’; eu me senti na obrigação, foi o povo que me pediu”. 

Entre os projetos da artista-candidata, estão a abertura de mais oportunidades para a classe artística, para que músicos e outros profissionais da cadeia cultural não dependam apenas dos ciclos festivos - como carnaval, São João e Natal -, para terem trabalho.  Sendo assim, ela pretende criar pontos para apresentações nos bairros. “Vejo que os projetos não são arrojados, são momentâneos, e eu nao confio nesses projetos. A gente tem que trabalhar o ano inteiro.  Então, o projeto é criar pontos positivos para que o  artista possa se apresentar, não esperar o calendário festivo. Falta muito isso na nossa região,a gente tem que valorizar a cultura, abrir espaço pra todos. Essa não é uma zona de conforto e sim de necessidade, não acredito numa cidade que só valoriza sua cultura pontualmente”. 

Além disso, Sheila pretende dar continuidade a um trabalho já desenvolvido por ela, que é o  de assistência a animais de rua. “A gente tem que começar a olhar para o futuro do pet com mais dignidade, esse projeto já tá há muito tempo na minha vida, às vezes pego animais na rua e não tenho pra onde levar. Eu quero ter espaços para animais que são abandonados, são animais que tiveram um dono e foram deixados na rua, esse espaço iria abraçar os animais e gerar empregos para os cuidadores”. E a respeito desse e outros planos pessoais, a cantora fez questão de frisar: “Independente de política, meus projetos vão sempre existir e eu vou dar continuidade, a minha luta vai continuar da mesma forma. Se eu tivesse condições, eu não entraria na política, mas nao tenho como desenvolver isso tudo sozinha”.

Nonô Germano

Divulgação

Herdeiro de um dos maiores nomes do frevo pernambucano (Claudionor Germano), e sendo ele próprio outra grande referência do ritmo, Nonô decidiu usar da experiência como artista para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal do Recife. Segundo ele, o “flerte” de alguns partidos já acontecia há bastante tempo e, neste pleito, ele decidiu aceitar a missão e se candidatou pelo partido Avante. “O que eu tô trazendo para a  eleição não é um discurso preparado, é um discurso de vida, de batalha; da minha família, do meu tio Abelardo da Hora, do meu pai. Tenho 37 anos de carreira, acho que a grande salvação do nosso Estado é essa união entre o turismo e a cultura. É uma mina de ouro que temos e é mal explorada, fora o descaso com toda a categoria, o sofrimento que todos os artistas passam. A gente tem que ter alguém lá  (na Câmara) que representa a gente realmente”. 

Nonô tem apresentado ao seu eleitorado propostas que aliam o turismo à cultura local. Entre os projetos, estão um circuito itinerante de visitação às agremiações tradicionais da cidade durante todo o ano; a ‘Casa dos Artistas’, um local de acolhimento para artistas de diversos segmentos, e locais e de fora, com prestação de serviços, como acomodação, e espaço para apresentações; e a revitalização do Bairro do Recife, mais conhecido como Recife Antigo. “Agora com a pandemia ficou ainda mais exposta a necessidade da gente pensar num turismo bem local. Sou frequentador do Recife Antigo e tenho amigos comerciantes lá, eu vejo o sofrimento deles para que as coisas possam acontecer.É a  questão de insegurança, usuários de crack; é um problema de saúde pública que tem que ser encarado de frente e a gente precisa atentamente voltar a fazer do Recife Antigo um grande caldeirão cultural”. 

O candidato também pretende trabalhar no sentido de minimizar um problema antigo dos artistas locais, o atraso de cachês, e pensa em uma maneira de conciliar a vinda de grandes artistas nacionais, nos ciclos festivos, com a manutenção dos empregos dos profissionais locais. “Ao invés de você trazer artistas de fora, que declaram seu amor pelo Recife, por um cachê cheio deles - recebendo R$ 200 mil (por exemplo) -, essa pessoa viria com valor estipulado, um teto de R$ 30 mil,  e seria oferecido a essa pessoa uma banda local para lhe acompanhar nos shows, dando oportunidade aos músicos daqui”. Nonô garante que seu objetivo é “fazer algo mais concreto” por sua classe e complementa: “Não quero generalizar a Câmara, mas para classe artística e turismo, chega de boa vontade”. 

 

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