A edição 2021 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrou pouco mais de 4 milhões de inscritos, quantitativo considerado o menor desde a reformulação da prova, em 2009. Com a queda no número de candidaturas, há quem vislumbre um processo seletivo menos concorrido. Mas, na prática, haverá uma concorrência menor?
Na projeção do professor de geografia e atualidades Benedito Serafim, a disputa por cursos tradicionalmente concorridos, como medicina e direito, seguirá com concorrência elevada. Por outro lado, graduações historicamente menos almejadas deverão ter menos interessados. “Os cursos menos concorridos, mais populares, nesses a concorrência vai cair bastante. Nos cursos grandes, como medicina, a concorrência continua”, aponta o professor, que também é coordenador do preparatório “Os Caras de Pau do Vestibular”, situado no Recife.
##RECOMENDA##De acordo com Serafim, com a desigualdade social acentuada pela pandemia da Covid-19, estudantes carentes e sem recursos adequados para o ensino híbrido estão desestimulados; muitos deles, segundo o professor, nem se inscreveram no Enem. “Esse aluno, por não ter tido estrutura para estudar ou por não ter tido um ensino adequado, se desestimulou”, explicou, acrescentando que esse desestímulo atrelado à não participação desse público, ocasionará uma concorrência menos acirrada nas formações populares, a exemplo das licenciaturas.
Para o diretor pedagógico do Colégio Boa Viagem (CBV), José Ricardo Diniz, existem fatores que explicam o baque no número de inscritos na edição 2021 do Enem. “Primeiro, é preciso entender que esses dois últimos anos foram marcados por uma fratura muito forte na educação, sobretudo na preparação para um exame de cunho nacional como o Enem, que já apresentava um número de inscritos grande, mas de alunos que participavam das provas efetivamente, esse número era bem menor. Tinha uma queda inicial de 20% a 25% que foi se acentuando, batendo 50% de abstenção na última edição. Isso revela um tom um tanto quanto excludente. Essa queda para 4 milhões de inscritos traduz exatamente esse quadro de quebra, de fratura na regularidade dos estudos causada pela pandemia, que afeta não só o ensino médio, mas toda a escolaridade”, comenta. “E esse número poderá cair mais ainda a depender do número de pagantes da inscrição, com prazo até a segunda-feira próxima”, acrescenta.
No que diz respeito à concorrência, Diniz opina: “Acredito que os cursos da área de saúde, com medicina a frente, cursos da área de Tecnologia da Informação, direito, continuarão com uma procura mais qualificada, sem dúvida. Os resultados continuarão no mesmo patamar, ainda que a concorrência diminua. As notas, os resultados que vão classificar para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), continuarão com a média alta. É fruto da maior qualificação dos candidatos. A concorrência poderá cair sim, mas não acredito que as notas cairão”.
Nesta quinta-feira (15), em evento no Recife, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi questionado a respeito do número de inscritos no Enem. Para o gestor, não adianta um número grande de candidaturas e “poucos presentes” na prova. Neste ano, o Exame será aplicado, nas versões impressa e digital, nos dias 21 e 28 de novembro.