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A disparidade na distribuição de renda é um desafio histórico no desenvolvimento de diversas nações, especialmente aquelas classificadas como de médio e baixo desenvolvimento. Países da África e da América do Sul e Central, em especial, têm enfrentado de forma mais acentuada este desafio, conforme apontam dados do Índice de Gini, um coeficiente que mede a concentração de renda.

A medida estatística varia de 0 a 100. Quanto mais alto o número, maior é a desigualdade. Portanto, se a renda fosse distribuída com perfeita igualdade o índice seria zero. O cálculo é feito por meio de uma fórmula matemática que analisa a distribuição acumulada da renda em relação à distribuição acumulada da população que recebe essa renda.

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De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2021/2022, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em maio deste ano, que disponibiliza coeficientes de Gini calculados com os dados mais recentes de cada país entre 2010 e 2021, a África do Sul desponta como a nação de maior desigualdade social. O índice alto se repete em outras nações da África: entre os 15 países mais desiguais, 10 estão no continente.

Países da América Central e do Sul também escancaram a divisão irregular de renda, de acordo com o relatório do PNUD. A Colômbia é o país mais socialmente desigual fora da África, com coeficiente de Gini 54,2.

Segundo os dados do relatório da ONU, o Brasil figura em 14º lugar, dividindo a posição com o Congo, que também tem índice 48,9. De acordo com dados do IBGE de maio de 2022, a parcela de 1% dos brasileiros mais ricos ganha uma renda média mensal 32,5 vezes maior que o rendimento da metade mais pobre da população do País. Em 2022, segundo o IBGE, o País teve o menor resultado no coeficiente de Gini desde 2012.

Ranking completo de países mais desiguais segundo o coeficiente de Gini:

01. África do Sul (63)

02. Namíbia (59,1)

03. Zâmbia - (57,1)

04. República Centro Africana (56,2)

05. Essuatíni - (54,6)

06. Colômbia (54,2)

07.Moçambique (54)

08. Botsuana (53,3)

09. Angola (51,3)

10. Santa Lúcia - (51,2)

11. Zimbabué (50,3)

12. Panamá (49,8)

13. Costa Rica (49,3)

14. Brasil e Congo (48,9)

15. Guatemala (48,3)

O País registrou alguns avanços na área educacional no período 2001-2011, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) 2012, divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aumentou de 27% para 51% a proporção de jovens de 18 a 24 anos frequentando curso superior (inclusive mestrado e doutorado) e houve queda de 21% para 8% na proporção de brasileiros nessa faixa etária que estavam no ensino fundamental. Aconteceu ainda crescimento de 40% na proporção de estudantes com 15 a 17 anos no ensino médio (embora só metade na série adequada) - o crescimento foi maior no Nordeste (mais que dobrou). Caiu 11,6 pontos porcentuais (de 43,8% para 32,2%) a taxa de abandono escolar precoce (proporção de jovens de 18 a 24 anos com ensino médio incompleto que tinham desistido de estudar). Mesmo assim, o Brasil ainda tem uma taxa quase três vezes maior que 29 países europeus selecionados.

Houve ainda, de acordo com a SIS, um lento aumento nos anos de estudo dos brasileiros no período (de 6 para 7,4 anos de 2001 a 2011). Na faixa de 18 a 24 anos, foi de 7,9 anos para 9,6 anos. No mesmo período, o analfabetismo atingiu seu nível mais baixo: 8,6% em 2011, contra 12,1% em 2001.

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"Em todas as faixas houve aumento na taxa de escolarização no período", disse a pesquisadora Betina Fresneda, do IBGE. Um dos maiores avanços aconteceu na frequência líquida de jovens pretos e pardos de 15 a 17 anos à escola, que de 2001 a 2011 quase dobrou: foi de 24,4% para 45,3%. Curiosamente, houve redução de 34,3% para 24,1% na proporção de brancos frequentando ensino médio regular sobre o total de estudantes do mesmo grupo étnico.

Nunca tantos pretos e pardos frequentaram ensino superior no Brasil como em 2011, segundo a SIS: 35,8% dos jovens desses grupos éticos na faixa de 18 a 24 anos que estudavam no Brasil estavam em faculdade naquele ano. O aumento de 350% em relação aos 10,2% de 2001 esconde, no entanto, que a desigualdade em relação aos brancos continua: dez anos antes, a proporção de brancos de 18 a 24 no nível superior (39,6%) era maior do que a dos pretos e pardos no mesmo nível em 2011. No ano passado, dos jovens brancos de 18 a 24 anos que frequentavam escola, 65,7% estavam no ensino superior. Segundo a pesquisadora Cristiane Soares, não foi possível determinar o peso das políticas de ação afirmativa, como o estabelecimento de cotas para acesso a universidade pública, no avanço dos pretos e pardos.

"A PNAD (pesquisa em que a Síntese se baseia) não tem uma pergunta específica sobre ação afirmativa", explicou ela, que reconheceu, contudo, que a distância dos pretos e pardos para os brancos continuava grande.

Mesmo com melhoria geral nos rendimentos dos mais pobres, que também beneficiou pretos e pardos, a situação de desigualdade entre raças foi mantida. De acordo com a SIS, esses grupos ainda eram 24,4% dos 10% mais pobres e 16,3% do 1% mais rico no País em 2011, contra 27,6% e 9,3% em 2001. Sua participação nos dez grupos de renda (dos 10% mais pobres até os 10% mais ricos) se reduzia, em 2011, na medida em que se subia na escala de rendimentos. Do total de pretos e pardos, 14,2% estavam no extrato mais pobre, contra 5,4% dos brancos. Na outra ponta, apenas 4,9% do primeiro grupo estava nos 10% mais ricos, contra 15,4% do segundo.

O analfabetismo aprofundou seu perfil de exclusão. O analfabeto brasileiro típico, segundo o IBGE, era, em 2011, homem, preto ou pardo, tinha mais de 60 anos, pertencia do quinto mais pobre da população, morava no Nordeste e vivia na zona rural.

A SIS também detectou uma redução na frequência à escola por parte dos jovens de 18 a 24 anos, "provavelmente em função do aquecimento da economia, contribuindo, ainda, nesse sentido, o fato de ter havido aumento na proporção de jovens que completaram o ensino médio nesse mesmo período" (2001 a 2011). A taxa de pessoas dessa faixa que somente trabalhava foi de 42,6% para 47,8%, enquanto a proporção de frequência à escola recuou de 34% para 28,9%. Já os idosos (60 anos ou mais), na mesma década, aumentaram de 15,5 milhões para 23,5 milhões, indo de 9% para 12,1% da população. Em sua maioria (55,7%) eram, em 2011, mulheres, brancas, com 3,9 anos de estudo em média e rendimento de todas as fontes igual ou superior a um salário mínimo.

"Na distribuição do rendimento mensal familiar per capita, percebe-se que os idosos têm uma situação relativamente melhor do que as crianças, adolescentes e jovens (...)", afirma o estudo. "Enquanto 53,6% das pessoas de menos de 25 anos de idade estão nos dois primeiros quintos da distribuição de rendimento, no grupo de idosos de 60 anos ou mais de idade, 17,9% encontram-se nesta situação, fruto das políticas sociais e previdenciárias que garantem benefícios mínimos de 1 salário mínimo para os idosos carentes do País".

Com Coeficiente de Gini de 0,508, apontado pela Síntese dos Indicadores Sociais (SIS), divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil atingiu em 2011 sua menor desigualdade de renda em trinta anos - em 1981, o indicador era 0,583. O País, porém, continua um dos países mais desiguais do mundo, longe da média da União Europeia, cujo Gini - índice de zero a 1, que sobe com a disparidade de rendimentos - chegou a 0,305 em 2010 e no ano passado foi 0,290 na Alemanha, 0,308 na França e 0,244 na Suécia. A pesquisa apontou outros sinais de queda na distância entre os ricos e os pobres brasileiros, como a redução na renda dos 20% mais ricos, de 60% para 57,7% do total de 2001 a 2011. Mesmo assim, no ano passado os 40% mais pobres ganhavam apenas 11% da riqueza nacional, diz o estudo.

O avanço da renda no País de 2001 a 2011 se deu em um cenário em que, segundo a SIS, disparou a renda de "outras fontes" para famílias com rendimentos domiciliares per capita de até 1/4 de salário mínimo ao longo da década estudada. Foi uma expansão de 5,3% para 31,5% dos rendimentos de 2001 a 2011. Na faixa de 1/4 a meio salário mínimo, também houve aumento: de 3,1% para 11,5%. Para os pesquisadores do IBGE, como as famílias pesquisadas são extremamente pobres, a hipótese mais provável para explicar esse aumento é a expansão ocorrida no período dos programas de transferência de renda como o Bolsa-Família, pago a famílias carentes com filhos em idade escolar, e o Benefício de Prestação Continuada, destinado aos extremamente pobres.

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"Esta modificação ocorreu apesar do rendimento do trabalho haver crescido o período", assinada a SIS. "Para o grupo de até 1/4 do salário mínimo de rendimento familiar per capita, o rendimento médio de todos os trabalhos passou de R$ 273 para R$ 285, no período de 2001 a 2011, enquanto para os que estão na faixa de 1/4 a 1/2 salário mínimo aumentou de R$ 461 para R$ 524 (...)." As cifras foram corrigidas pelo INPC, por isso são comparáveis. O avanço no Gini seria maior se comparado ao indicador de 1960 - 0,497, o menor da história brasileira -, mas esse resultou de números do Censo Demográfico daquele ano, o que impossibilita a comparação com a SIS, baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), inexistente à época. No critério do Censo, o menor Gini do Brasil foi o de 2010 - 0,526.

A SIS constatou ainda que subiu de 2,6% para 3,5% a renda dos 20% brasileiros mais pobres na mesma década. Ao aumento de 0,9 ponto porcentual no rendimento dos mais desfavorecidos correspondeu uma queda de 2,3 pontos na riqueza apropriada pelos 20% mais ricos. No mesmo período, o grupo social mais privilegiado viu sua renda, equivalente a 24 vezes o que ganhavam os 20% mais pobres em 2001, cair para 16,5 vezes em 2011. Apesar da queda, esse indicador ainda deixou o Brasil distante de alguns países desenvolvidos da Europa, onde a relação é de quatro a seis vezes. E a redistribuição foi desigual: pretos e pardos ganharam mais que as mulheres, constatou a pesquisa.

"Avançou-se mais na redução da desigualdade de raça que na de gênero", disse a pesquisadora Cristiane Soares, do IBGE. "Em 2001, as mulheres ganhavam 69% dos homens, e em 2011, 73,3%. Já os pretos e pardos passaram de 50,5% do rendimento dos brancos para 60% no mesmo período. Enquanto eles avançaram quase dez pontos, as mulheres cresceram apenas 4,4 pontos."

O IBGE também avaliou a pobreza e a desigualdade com base em uma "perspectiva multidimensional", com indicadores monetários e não monetários, adaptando metodologia do Consejo Nacional de Evaluación de la Política de Desarrollo Social - CONEVAL, do México. A SIS constatou que 22,4% da população brasileira estava em 2011 vulnerável segundo critérios sociais e/ou de renda, mas esse porcentual tem fortes variações regionais. Chega a 40% no Norte e 40,1% no Nordeste (53% no Maranhão, Estado recordista), mas não passa de 11,3% no Sul. Nesse polo positivo, a unidade da Federação com melhor posição em 2011 era São Paulo, com apenas 7,7% da população vulnerável.

O estudo também aponta melhora em relação a 2001 na redução das carências de atraso educacional (39,3% para 31,2%), falta de acesso à seguridade social (36,4% para 21,3%), (má) qualidade dos domicílios (4,9% para 4%), acesso a serviços básicos (40,9% para 32,2%). Também houve queda na proporção de domicílios com ao menos uma dessas carências (70,1% para 58,4%) no mesmo espaço de tempo pesquisado.

A melhora na distribuição de renda no período contrasta com as condições de vida de parte considerável da sociedade brasileira, diz a Síntese dos Indicadores Sociais 2012. Em 2011 30,6% dos domicílios urbanos brasileiros - pouco mais de 16 milhões de lares, com prováveis 64 milhões de moradores - não tinham simultaneamente os serviços de água tratada, coleta de esgoto por rede ou fossa séptica, recolhimento de lixo e eletricidade, básicos para que haja condições mínimas de habitação. A razão entre as habitações com e sem os quatro serviços era de 0,44, ou seja, praticamente para cada dois domicílios habitáveis havia um sem essas condições. O recorde nesse ponto foi da Região Norte, onde 78,4% dos lares foram considerados sem condições mínimas de habitabilidade. No Amapá, essa proporção chegou a 95,9%, e a razão em relação aos habitáveis foi de 23,43 lares sem condições para cada um habitável.

"Essa questão tem a ver com a ação do poder público", disse o pesquisador Rubem Magalhães, do IBGE. "Se aumentarmos o salário de um trabalhador para R$ 30 mil por mês ele não vai instalar uma rede de água tratada na rua onde mora. Isso é papel do Estado." No Sudeste, 79% dos lares com renda mensal domiciliar per capita tinham saneamento básico. Acima de dois salários mínimos, 94,8%.

A Síntese dos Indicadores Sociais de 2012 também constatou que apenas 31% dos domicílios permanentes urbanos tinham, simultaneamente, luz elétrica, computador, acesso à internet, aparelho de DVD, televisão em cores e máquina de lavar, medidas de conforto da vida moderna. O estudo também descobriu que, dos 69% de domicílios desprovidos de algum desses itens, quase 90% (84,9%) não tinham acesso à web. Também aí a desigualdade brasileira é forte. Quando se foca apenas lares com renda média mensal domiciliar per capita de até 1/2 salário mínimo, a proporção dos excluídos digitais (em 2011) chega a 92,2%. De acordo com a pesquisa, 86% dos domicílios brasileiros no ano passado eram urbanos; apenas 14% se localizam na área rural, em distribuição que tende a se estabilizar.

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