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Na contramão de qualquer expectativa e rompendo com as exigências mercadológicas, surgiu o projeto embrionário para fomentação das artes plásticas e de tudo apresentasse a renovação estética. De selo editorial a projeto de arte independente. Com uma máquina de Xerox, criatividade e muito experimentalismo gráfico nasceu a Livrinho de Papel Finíssimo Editora que em 2017 completa dez anos.

No entanto, a história da editora começa muito antes de 2007, no atelier coletivo Laboratório, que ficava no Pátio de São Pedro. Na época, os amigos e artistas Diogo Dodë, Quéops Negão, Gregório Vieira e Henrique Koblitz iniciaram um fanzine chamado Fusão. “Não se tinha a pretensão de ser editora. O projeto surgiu como meio de divulgar e lançar amigos”, explica o editor Camilo Maia.

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Quando começou a se tranformar em editora, a Livrinho teve várias residências artísticas. As primeiras publicações nasceram no Iraq, localizado na Rua do Sossego, área central do Recife. Depois, instalaram-se no Edifício Pernambuco, no início da efervescência cultural no espaço e, por último, na Galeria Mau Mau, no bairro do Espinheiro. Mas, foi em 2006 que decidiu-se retornar ao formato mais intimista, um home office no Engenho do Meio, onde todo trabalho de produção manual acontece ainda hoje.

Atualmente, fazem parte da equipe Camilo Maia, Fred Vasconcelos, Leta Vasconcelos e Sabrina Carvalho. Diante de um mercado editorial predatório, a editora consegue resistir através da venda de livros, feiras e editais de incentivo à cultura. "No princípio, tínhamos o SPA das Arte, que era uma grande possibilidade de agariar fundos, mas com a atual gestal acabamos perdendo um dos nossos principais incentivos", ressalta o editor.

Em uma década, a Livrinho já conta com 150 publicações em diversas áreas, artes visuiais, literatura, catálogos, textos acadêmicos e HQs. Fernado Perez, Rodrigo Braga, Miró da Muribeca e Francisco Brennand, projeto que está em processso de produção, são os autores que passaram e continuam a fazer parte das publicações da editora.

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Um decênio de autonomia e resistência dentro do mercado editorial independente

Além da produção editorial, a Livrinho também promove outras ações como oficinas de impressão, feiras de livros e festivais como o Publique-se, que é o primeiro festival no Nordeste de publicações. "Muitas vezes, a gente não recebe remuneração para ministrar as oficinas. Às vezes são oferecidos apenas hospedagem e o maquinário", afirma.

Diferente da lógica de mercado das grandes editoras, as independentes possuem contato direto com seus artistas e clientes. Um dos desafios do mercado, segundo Camilo, é a falta de investimento na área cultural. O editor critica a nova gestão e os rumos dados à área de cultura. “Com a crise e com o golpe de Estado que está acabando com a cultura, tirando a responsabilidade governamental perante a cultura, tudo fica mais difícil", expõe.

Questionado sobre os desafios do mercado independente, o editor foi categórico. "O mercado independente está aprendendo a ser mercado independente. Mas, o nosso principal desafio é como sobreviver dentro dessa lógica independente. Não há uma fórmula. Nós, editoras independestes, nos juntamos muito em feiras e eventos. Dessa forma, estamos criando um ninho dentro do mercado independente", aponta.

"Outro desafio é como criar uma distribuição nacional, para que a gente possa chegar a muitos outros lugares. A gente tem uma noção de público, mas a dúvida é como chegar. Essa logística, a gente ainda não descobriu qual é", reconhece.

Dez anos contra todas as expectativas

Para Camilo, atingir a marcar dos dez anos é uma quebra de qualquer perspectiva surgida em meio à efervescência criativa. "Esses dez anos representam uma prova de amor. Porque dez anos contra todas as expectativas de um projeto que é uma loucura artística e intelectual e de realização de objeto nosso. Ao mesmo tempo, tentamos nos profissionalizar e nos manter bem do rendimento que esse trabalho pode gerar para a gente", salienta.

"Esses dez anos são a prova da realização da teimosia, da persistência, do amor por uma coisa que não tem a ver somente com o dinheiro e o sucesso. Tem a ver com a arte, com o amor ao ofício, principalmente. E é bom, porque você olha o projeto com dez anos. Dez anos não são dez meses ou dez dias. Com os nossos passos de formiga, olhar para isso e perceber que passaram dez anos e que a gente está melhor, com mais coisas feitas, mais contatos e maior reconhecimento. Isso não tem preço", conclui.

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