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O ativista chinês cego Chen Guangcheng embarcou ontem com a mulher e os dois filhos para Nova York, pondo fim a sete anos de perseguição pelas autoridades que comandam a vila rural onde ele vivia. A viagem abre um futuro incerto para o advogado autodidata, que pode ser impedido de voltar à China, a exemplo de outros dissidentes que deixaram o país.

Chen só foi avisado que embarcaria em poucas horas para os Estados Unidos na manhã de ontem, quando recebeu a visita de funcionários do governo chinês no hospital onde estava havia 17 dias. A família recebeu instruções para fazer as malas e foi levada para o aeroporto.

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"Neste momento, eu sinto todo o tipo de emoções e sentimentos", declarou o ativista em entrevista por telefone ao Washington Post. Sua mulher, Yuan Weijing, disse ao jornal que eles ainda não decidiram quanto tempo permanecerão nos Estados Unidos. O advogado autodidata vai estudar Direito na New York University, onde seu amigo Jerome Cohen é professor. Ambos se conheceram em 2003, quando o ativista visitou os Estados Unidos a convite do Departamento de Estado.

No dia 22 de abril, Chen escapou da prisão domiciliar ilegal a que era submetido e se abrigou quatro dias mais tarde na Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, colocando as duas maiores economias do mundo em um impasse diplomático. Ele deixou a representação diplomática americana no dia 2, na véspera da chegada a Pequim da secretária de Estado Hillary Clinton.

Estudo

O acordo inicial entre os dois governos previa que Chen permaneceria na China, onde poderia estudar longe de sua vila rural, Dongshigu, na Província de Shandong.

Mas o ativista abandonou em poucas horas a intenção de permanecer no país, após amigos relatarem a intensificação da perseguição a ativistas registrada desde o início de 2011.

Antes de sua fuga, Chen havia passado 19 meses em prisão domiciliar, totalmente isolado do mundo exterior. O ativista, cego desde a infância, foi encarcerado na própria casa depois de cumprir 4 anos e 3 meses de prisão sob a acusação de "danificar propriedade e organizar multidão para atrapalhar o trânsito".

Nos anos anteriores, ele havia enfurecido os líderes locais de sua região ao expor milhares de abortos e esterilizações forçados, ordenados pelos responsáveis pelo controle de natalidade. Mesmo sob a estrita política de filho único, essas medidas são ilegais. Antes de ser condenado, Chen passou seis meses em prisão domiciliar.

"A partida de Chen para os Estados Unidos não deve representar um momento de 'missão cumprida' para o governo americano e para nenhum outro governo que valoriza os direitos humanos e o estado de direito na China", afirmou Phelim Kine, pesquisador sênior para a Ásia da Human Rights Watch. Segundo ele, a etapa mais difícil será garantir que o ativista possa voltar à China quando quiser, "assegurando seu direito nos termos da legislação internacional".

Asilo

Chen sustentou, desde o início, que não estava buscando asilo político nos Estados Unidos e pretendia ir ao país para estudar e descansar, retornando posteriormente à China. Com isso, ele busca evitar o destino da maioria dos ativistas chineses que se mudaram para o exterior e foram esquecidos depois de alguns meses.

"Mesmo entre seus simpatizantes, alguns se preocupam que ele pode ter embarcado em uma viagem rumo à irrelevância", observou a escritora Lijia Zhang, que conhece Chen há mais de uma década.

Como muitos, ela é pouco otimista. "É bastante provável que as autoridades chinesas impeçam Chen de retornar, da mesma maneira que fizeram com outros dissidentes."

Também é incerto o futuro do restante da família Chen que permaneceu na vila Dongshigu e ainda é alvo de perseguição dos líderes locais. A região continua cercada por capangas, que impedem o acesso de jornalistas e qualquer pessoa estranha, até mesmo diplomatas.

O sobrinho do ativista cego Chen Kegui, está preso e é acusado de tentativa de homicídio por ter atacado, usando uma faca de cozinha, três homens que integravam um bando que invadiu sua casa na noite do dia 26 de abril, quando a fuga de seu tio foi revelada.

Advogados que se dispuseram a defendê-lo foram ameaçados com a cassação de suas licenças e impedidos de viajar à região, na Província de Shandong. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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