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O relatório que o Comitê de Ética do Fifa divulgou nesta terça-feira inocentou Joseph Blatter, presidente da entidade, de qualquer culpa no caso de corrupção envolvendo a ISL, extinta empresa de marketing que foi parceira do organismo e declarou falência em 2011. O documento, porém, admitiu que o dirigente acabou agindo com atitudes "infelizes", em um claro deslize na sua posição de mandatário da Fifa em meio ao escândalo do pagamento de subornos a dirigentes por parte da ISL em troca dos direitos de transmissão das Copas do Mundo.

No relatório publicado nesta terça, o presidente da câmara decisória do Comitê de Ética da Fifa, Hans-Joachim Eckert, disse que "não há indícios de que o presidente Blatter tenha recebido pagamentos de comissões da ISL, ou de seu diretor-executivo Jean-Marie Weber ou de outras pessoas".

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Em seguida, o documento afirmou também não haver evidências de que Blatter "foi responsável pelo desvio de dinheiro a João Havelange, Ricardo Teixeira e Nicolás Leoz, nem que o mesmo tenha recebido pagamento algum do grupo ISL, mesmo por meio de pagamentos secretos".

Acusado de receber propina, assim como ocorreu com Teixeira e Leoz, respectivos ex-presidentes da CBF e da Conmebol, Havelange teve confirmada nesta terça a sua renúncia ao cargo de presidente de honra da Fifa, em uma clara decisão para evitar punições por causa do seu envolvimento no caso ISL.

Se descarta punir dirigentes envolvidos no escândalo, até pelo fato de que na época o pagamento das propinas - que ocorreram entre 1992 e 2000 - não era considerado um crime na Suíça, o Comitê de Ética da Fifa colocou em xeque a postura de Blatter neste sombrio episódio ocorrido em seu país.

"Tem de se questionar, no entanto, se o presidente Blatter sabia ou deveria saber, no transcurso dos anos antes da quebra da ISL, que esta empresa realizou pagamentos (subornos) a outros funcionários da Fifa", disse o relatório, ao mesmo tempo em que destacou que a postura do dirigente não foi "criminosa ou antiética", mas sim "equivocada".

Um documento divulgado pela Justiça da Suíça recentemente sugeriu que Blatter sabia sobre um pagamento de 1 milhão de francos suíços por parte da ISL para João Havelange em 1997, quando o brasileiro ainda presidia a Fifa.

BLATTER FESTEJA RELATÓRIO - Logo após a divulgação do relatório, Blatter divulgou nota oficial no site da Fifa para festejar o fato de ter sido inocentado de participação criminosa no caso ISL.

"Terei em mente o relatório do presidente da câmara decisória do Comitê de Ética da Fifa, Hans-Joachim Eckert, em relação à análise do caso ISL. Enfatizo em particular que, em suas conclusões, o presidente Eckert afirma que 'o caso ISL está encerrado para o Comitê de Ética' e que 'mais nenhum procedimento relacionado à questão da ISL contra qualquer outro dirigente de futebol será justificado'", disse.

Em seguida, o dirigente citou outro trecho do relatório para justificar a sua inocência, assim como disse confiar que as novas ações impostas pela Fifa ajudarão a evitar novos escândalos de corrupção envolvendo membros da entidade.

"Também ressalto com satisfação que este relatório confirma que 'a atuação do presidente Blatter não pode ser classificada de nenhuma maneira como má conduta em relação a qualquer norma ética'. Não tenho dúvidas de que a Fifa, graças ao processo de reforma de governança proposto por mim, tem agora os mecanismos e meios para assegurar que uma questão como essa, que causou danos incontáveis à reputação de nossa instituição, não aconteça novamente", completou.

João Havelange renunciou ao cargo de presidente de honra da Fifa, que anunciou oficialmente nesta terça-feira a decisão, mas o brasileiro já havia deixado o posto há duas semanas. O anúncio da saída ocorre depois de o dirigente ter o seu nome envolvido em um escândalo de corrupção que manchou de forma significativa a reputação da entidade que controla o futebol mundial.

O presidente da câmara decisória do Comitê de Ética da Fifa, Hans-Joachim Eckert, anunciou nesta terça, por meio de um comunicado, que o brasileiro de 97 anos de idade renunciou ao seu posto na Fifa no último dia 18 de abril.

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E a renúncia oficial de Havelange ocorre no mesmo dia em que a Fifa publicou um relatório do seu Comitê de Ética sobre o caso de corrupção envolvendo a ISL, extinta empresa que foi parceira de marketing da entidade.

Com a sua decisão, Havelange se livrou de receber qualquer punição por seu envolvimento no escândalo da ISL, que declarou falência em 2001. Após suspeitas de corrupção levantadas há mais de uma década, o caso voltou a ser investigado pela Fifa depois que a rede britânica BBC publicou uma reportagem, no ano passado, denunciando que a extinta empresa de marketing subornou membros da Fifa para ganhar os direitos de transmissão de várias Copas do Mundo.

Havelange foi presidente da Fifa de 1974 a 1998 e um documento divulgado pela Justiça da Suíça recentemente também sugeriu que Joseph Blatter, que sucedeu o brasileiro no cargo, sabia sobre um pagamento de 1 milhão de francos suíços para o ex-mandatário da entidade em 1997.

O caso de Havelange também envolve Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, com pagamentos que totalizaram US$ 22 milhões entre 1992 e 2000. Pressionado pelas denúncias, Teixeira renunciou aos seus cargos no futebol no ano passado.

No relatório que apresentou nesta terça, Hans-Joachim Eckert escreveu que Havelange e Teixeira agiram com uma "conduta moralmente e eticamente reprovável", mas enfatizou que aceitar propina não era considerado um crime na Suíça na época do ocorrido. Ao mesmo tempo, o juiz alemão pontuou: "Entretanto, é claro que Havelange e Teixeira, como dirigentes de futebol, não deveriam ter aceitado qualquer dinheiro de suborno, e deveriam ter de devolvê-lo desde que o dinheiro estivesse em conexão com a exploração de direitos de mídia".

Também acusado de receber propina, o paraguaio Nicolás Leoz, de 84 anos, deixou a presidência da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) na semana passada, assim como o seu posto no Comitê Executivo da Fifa. A decisão também teria sido tomada para evitar possíveis punições, embora o dirigente tenha alegado razões de saúde para renunciar aos seus cargos no futebol. Ele teria recebido US$ 730 mil em subornos, mas nunca enfrentou uma investigação da Fifa.

Pelo fato de Havelange ter renunciado, Eckert disse, por meio do relatório publicado nesta terça-feira, que qualquer medida ou sugestão de punição a ser tomada contra o brasileiro teria caráter "supérfluo", e o mesmo acaba valendo para Teixeira e Leoz.

Agora oficialmente fora da entidade máxima do futebol mundial, Havelange já havia renunciado, em dezembro de 2011, ao posto de membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), do qual fez parte por 48 anos. Na época, ele também alegou problemas de saúde para a renúncia, mas a decisão teve claro caráter político, pois ocorreu dias antes de a entidade olímpica definir se iria suspendê-lo por causa das denúncias de corrupção durante a investigação sobre o caso da ISL.

Pressionado, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, confirmou que ele está citado nos documentos do Tribunal de Zug que, na quarta-feira, revelou o escândalo do pagamento de propinas para João Havelange e Ricardo Teixeira. Pelos documentos, fica claro que Blatter sabia de tudo e ainda defendeu na corte os brasileiros. Nesta quinta, em declaração ao site oficial da entidade, o cartola suíço se defendeu, alegando que nos anos 1990 o pagamento de subornos não era um crime na lei suíça e que, portanto, não tinha o que denunciar.

"Sabendo do que?", questionou ao ser indagado se ele sabia do verdadeiro esquema de corrupção na entidade. Nos documentos, a corte apenas fala de um indivíduo marcado como P1. Mas diante da pressão, Blatter decidiu reconhecer que a referência no documento é sobre ele mesmo. "Sim, sou eu".

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Segundo ele, a decisão de manter seu nome de forma anônima no documento não foi dele, mas da própria corte, que decidiu que pessoas que não estava sendo acusadas teriam sua privacidade protegida. Blatter defende a ideia de que todo o documento fosse publicado, sem tarjas ou letras substituindo nomes, como no caso da empresas ligadas a Teixeira ou os nomes das redes de TV que deram dinheiro aos cartolas, inclusive no Brasil.

Blatter não falou com a imprensa e apenas respondeu perguntas feitas por sua própria assessoria de imprensa, em uma mensagem controlada. "O senhor supostamente sabia (do pagamento de propinas)", questionou o site da Fifa. "Saber o que? Que comissão eram pagas? Naquela época, tais pagamentos podiam ser deduzidos até mesmo de impostos como gastos de negócios", disse. "Hoje, seriam punidas pelas lei. Não se pode julgar o passado com base nos padrões de hoje", indicou. "Caso contrário, acabaria como justiça moral. Eu não poderia saber de uma ofensa que na época não era ofensa", se defendeu.

Blatter da todos os sinais de que não vai reabrir o passado. Segundo ele, a comissão de ética da Fifa apenas irá garantir que o mesmo não se repita a partir de agora. Sobre o futuro de Havelange como presidente de honra da entidade, o dirigente insiste que ele não tem poderes para decidir o que acontecerá com o brasileiro e que apenas o Congresso da Fifa pode tomar uma decisão, em 2013. "O Congresso nomeou como presidente honorário. Só o Congresso pode decidir o seu futuro", disse.

O caso de corrupção na Fifa envolvendo a ISL, que já faliu, será avaliado pelo Supremo Tribunal Federal da Suíça após serem apresentados recursos para impedir a publicação de um documento-chave. O tribunal disse nesta quinta-feira que abriu cinco processos em separado, que podem levar meses para serem analisados.

O tribunal disse que as identidades dos recorrentes deve permanecer confidencial. Os recursos foram contra uma decisão de dezembro do Superior Tribunal do cantão (estado) de Zug exigir que a Fifa publicasse o dossiê com os nome dos dirigentes que receberam propina em negociação pelos direitos de transmissão da Copa do Mundo.

O documento supostamente identifica os dirigentes que admitiram ter recebido propinas, e pagaram US$ 6,1 milhões para permanecerem anônimos. A tentativa da Fifa de manter em segredo o conteúdo foram atrapalhados pela imprensa, com um programa da BBC, que citou a participação dos brasileiros Ricardo Teixeira, presidente da CBF, e João Havelange, ex-prsidente da Fifa, no escândalo.

A Fifa, porém, disse em dezembro que apoiava a decisão do tribunal de Zug e não recorreria porque a decisão "corresponde à posição da Fifa e do seu presidente, Joseph Blatter, para abrir o arquivo do caso ISL".

A revelação dos detalhes do incidente se tornou decisivo para Blatter cumprir a promessa de combater a corrupção na Fifa, feita após uma série de escândalos atingirem membros do seu comitê executivo. Em outubro, o presidente prometeu liberar o documento do tribunal de Zug. Mas a Fifa adiou a publicação, citando "medidas legais" tomadas por uma das partes envolvidas no escândalo da ISL. A Fifa, porém, não identificou os responsáveis pelos recursos.

Com a revelação da BBC, Havelange renunciou ao seu cargo no Comitê Olímpico Internacional (COI) em dezembro, dias antes da abertura de uma ação na Comissão de Ética do COI que poderia lhe render uma punição. Parceira de marketing da Fifa, a ISL faliu em 2001.

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